André
Serrano
é aluno de Letras Português na Ufes. Escritor em formação, começa a tirar seus
textos da gaveta, geralmente contos ou crônicas. Participa do grupo CONFRARIA
DOS BARDOS (www.confrariadosbardos.worpress.com/). Confira, abaixo, o
conto “Licantropia”:
LICANTROPIA
“Vivo no inferno!”, pensei.
Acendi meu cigarro, cabulado, uma sombra no
parapeito da janela, admirando a lua. Lancei a guimba cinco andares abaixo.
Acho que acertei um gato, algo saiu correndo da lata de lixo. Voltei-me ao
cubículo que chamava de Dormitório, um quarto-cozinha, o suficiente para
sobreviver. Em meio ao caos que era aquele lugar, havia um mundo de tralhas.
Sobre a cama, desarrumada, pilhas de revistas pulp que eu passei o dia lendo. Por todas as paredes, pôsteres mal
colados de locadoras de videocassete, filmes que passaram antes do bug do
milênio. O ventilador de teto sempre esteve pendurado ameaçadoramente, lá em
cima, balançando quando alguma brisa adentrava o quarto. Mais à direita, havia
um frigobar e uma pia – lotada de louça suja. No chão, embalagens de chips, garrafas de gim solitário.
E baratas por todo canto, esses insetos
asquerosos. Atrás da porta, fotos de mulheres nuas. Lembro que era comum nos
quartos adolescentes de filmes do final do século XX. Acho que os garotos punheteiros
começaram a surgir em massa a partir do videogame, do come-come nos anos 80. Não
havia dúvidas. Eu tava no inferno mesmo, o loop
infinito de dor e asco. Ligar a TV só piora a situação. Não passa de um lixo
alienante recheado de estímulos de violência e pulsão sexual. Assassinatos.
Psicopatas. Programas de auditório. Bundas redondas nos comerciais de cerveja.
Toda essa merda. Também evito ter um desktop.
Computador em casa só serve pra te deixar distraído, vidrado. É um anestésico,
pior que a droga da televisão. Joguei o monitor pela janela faz dois meses. Só
uso internet fora de casa.
Cansei. Sentei-me na cadeira de três pés. Não
estava me sentindo bem. Devia ser aquele sanduíche que comi na rua, a carne não
cheirava bem. Minha cabeça começou a rodar. Olhei sobressaltado para as mãos
peludas, as unhas selvagens. Deus! Há quanto tempo não as corto? Os pensamentos
foram ficando cada vez mais confusos, como o chiado de um rádio fora do ar.
Fome. Fome animal. Era como se houvessem rasgado um buraco negro no meu
estômago. Devia tapar o buraco a todo custo. Derrubei a porta e saí correndo
escada abaixo. Uivando.
Pô, André Serrano, tirando da gaveta o que você tem de melhor só porque é para o blog outros300?!
ResponderExcluirJackson
Fechando bem a parceria! xD
ResponderExcluirparceria capixaba e universal. confraria dos bardos, nossos irmãos astrais, totais, geniais.
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