Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu
em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como
influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei
Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se
coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa
sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos
Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô
crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira,
abaixo, a crônica “Tremeluziu?”:
TREMELUZIU?
Adorava palavras, quando
criança ganhara um Aurélio com todas as palavras. Ele fora subtraído por ser
indecente, perguntara a mãe se ainda existia a orgia, queria provar da euforia,
o dicionário ardera na fogueira da proibição. Tinha a maior fissura por figuras
de linguagem, o seu grande amor e paixão. Gozava longamente ao escutar uma
metáfora. As anáforas, então?! Soavam-lhe como um entardecer barroco. Sublime.
Sôfrego. Excitava-se lendo sermões barrocos. Tremeluzia no âmago das coisas,
gemendo aos sussurros:
“Anáforas, meu Deus,
anáforas...”.
Se a cara metade usasse o
pronome mesoclítico ao verbo, se apaixonava, quase virava um pano de chão,
suplicando atenção ao rês do chão, babando os pés da amada com seus beijos
molhados.
“Dar-te-ei mais tarde.”
“Oh Deus, por ti darei
minha vida”. Retrucava ele se jogando no chão, beijando os pés da dita cuja.
Era um sujeito
hiperbólico. Excêntrico, na pior medida. Amava numa entrega absoluta, num
neo-romantismo piegas. Jurava que morreria por amor se ela o abandonasse. Não
viveria mais. Cometeria uma loucura.
Todos sabiam que ele tinha
vertigens até quando subia em banquinho. Cometer loucuras? Isso nunca!
A única coisa que o
deprimia e o deixava triste era um horrível cacófato. “Amo ela” lhe dava
calafrios, ânsias de vômito.
Numa tarde de amor, em que
os corpos rezam súplicas, ela sussurra em seu ouvido:
“Vem, amor, vem me ter,
vem... Vem me ter aos poucos...”
Ele como se visse um
fantasma arregala os olhos e começa a olhar tétrico para a parede, em estado de
choque. Nunca pensou que ela seria capaz, logo ela que usava a mesóclise! No
canto de seu olho adivinhava-se uma lágrima a precipitar cálida nos lençóis.
Ela sem entender se
pergunta se já acabou. Nunca ele tinha negado fogo. Sempre implorava que ela
gritasse “foder-me-á”, para entrar no clima.
Entretanto, até aquele
momento não falava nada. Será que ele foi tão ligeiro assim? Ela se enrosca em
seu pescoço procurando respostas.
“E aí, amor, tremeluziu?”
“Não... Sumiu!” – retruca
ele chorando desgostoso, aos soluços, num desespero rompante, como se estivesse
nas últimas instâncias do viver.
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