sábado, 4 de fevereiro de 2012

"LICENÇA POÉTICA": THIAGO SILVA DE ALMEIDA


Thiago Silva de Almeida é escritor e graduado em Letras-Português pela UFES. E-mail: thiagodulrock@hotmail.com. Confira, abaixo, o poema Delirante:

Delirante

Das brumas de cristal dos sonhos,

Atravesso sombrios, tempestivos

Mares, e gélidos desertos. Eu,


Diverso no saltar dos meus versos,

Vou alado saltitando e festivo a

Diáfanos, diferentes universos.

Do cais enluarado, onde a

Saudade é um lenço a vagar


Pelo vento, vejo chegar um

Fantasmagórico navio; as escumas,

A rodeá-lo, pareciam borbulhantes

Estrelas... Ah, meu peito é


Um pranteante mar a prantear

Por amores que se foram...

Diante do negro Altar, deposito

Rubras flores. Aflito,


Não fico. Comigo trago

Anseios, insepultos desejos, pungentes aflições,

Trancafiados em meu coração. Um trago


Dou de minha erva mágica,

E meu cérebro, todos os meus

Pensamentos, avulsos, os mais íntimos,


Todo o meu ser, esfumaçam-se,

Misturam-se com a poeira do

Nada, enlevam-se para píncaros nos

Quais o Sol e a Lua

Amam-se em segredo.


Na beira do precipício, pulei;

Mergulhei dentro da erma escuridão, na

Profunda treva... andei por

Hospícios, onde vi por mim roçando


Passarem andrajosos cadáveres,

Estranhos seres alados, perdidas

Almas vestidas de luto.


Tudo não passou de um sonho?

Um tétrico pesadelo? Quiçá

Algum soberbo delírio de minha

Convulsa mente? Há

Entre mim e o Silêncio um

Secreto pacto... Esverdeados duendes

Escondendo-se nos arbustos...

Os sentimentos, doentes,

De súbito se avivam, irisam-se. E


Fadas bailando no ar, coloridamente

Aladas... parecem douradas pétalas

A delicadamente cair na violeta entreaberta do

Entardecer; e os silfos e as cigarras festejando o


Desabar silente do majestoso

Crepúsculo... Abro as esfumaçadas

Cortinas do incenso; penetro,


Sorrateiro, na densa fumaça.

As plangentes cordas do violino ferem-me a

Alma... Oh! torpor, faça


Com que eu viaje para lugar nenhum... que

Se me esmoreça a Ânsia e a Angústia,

Essas duas inseparáveis irmãs solteironas.

O Mistério, às escondidas, está a


Realizar seu oculto ministério.

Pétreas gárgulas voam das altas torres

Da escura Catedral, sendo vistas apenas pelo

Furtivo clarão dos relâmpagos. A

Luxúria, vestida de escarlate,


Tentando as libidinosas gulas

Daqueles que tem a carne abstêmia...

Os remorsos, disfarçados crápulas,

Torturam mortiças recordações...

Moscas verdes e azuladas pousam afoitas


Na face pútrida do morto. Foscas

Imagens contorcem-se perante os

Invertidos reflexos. Soam fúnebres

Alaúdes... Dos ataúdes, ecoam

Misteriosos gemidos... vestidos apenas


Com a fantasmagórica alvura da

Névoa. Vagava errante por uma

Casa, com tantos cômodos que, a todos


Que ia, eu me encontrava... para em

Seguida voltar a me perder. Ninguém

Ouve minha suplicante voz, nem

O tácito gemido do meu cavernoso peito!


Mais dia ou menos dia, surge graciosa

E lasciva a Magia, purpurinando

A Arte, enfeitando a Poesia!

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