Thiago Silva de Almeida é escritor e graduado em Letras-Português pela UFES. E-mail: thiagodulrock@hotmail.com. Confira, abaixo, o poema Delirante:
Delirante
Das brumas de cristal dos sonhos,
Atravesso sombrios, tempestivos
Mares, e gélidos desertos. Eu,
Diverso no saltar dos meus versos,
Vou alado saltitando e festivo a
Diáfanos, diferentes universos.
Do cais enluarado, onde a
Saudade é um lenço a vagar
Pelo vento, vejo chegar um
Fantasmagórico navio; as escumas,
A rodeá-lo, pareciam borbulhantes
Estrelas... Ah, meu peito é
Um pranteante mar a prantear
Por amores que se foram...
Diante do negro Altar, deposito
Rubras flores. Aflito,
Não fico. Comigo trago
Anseios, insepultos desejos, pungentes aflições,
Trancafiados em meu coração. Um trago
Dou de minha erva mágica,
E meu cérebro, todos os meus
Pensamentos, avulsos, os mais íntimos,
Todo o meu ser, esfumaçam-se,
Misturam-se com a poeira do
Nada, enlevam-se para píncaros nos
Quais o Sol e a Lua
Amam-se em segredo.
Na beira do precipício, pulei;
Mergulhei dentro da erma escuridão, na
Profunda treva... andei por
Hospícios, onde vi por mim roçando
Passarem andrajosos cadáveres,
Estranhos seres alados, perdidas
Almas vestidas de luto.
Tudo não passou de um sonho?
Um tétrico pesadelo? Quiçá
Algum soberbo delírio de minha
Convulsa mente? Há
Entre mim e o Silêncio um
Secreto pacto... Esverdeados duendes
Escondendo-se nos arbustos...
Os sentimentos, doentes,
De súbito se avivam, irisam-se. E
Fadas bailando no ar, coloridamente
Aladas... parecem douradas pétalas
A delicadamente cair na violeta entreaberta do
Entardecer; e os silfos e as cigarras festejando o
Desabar silente do majestoso
Crepúsculo... Abro as esfumaçadas
Cortinas do incenso; penetro,
Sorrateiro, na densa fumaça.
As plangentes cordas do violino ferem-me a
Alma... Oh! torpor, faça
Com que eu viaje para lugar nenhum... que
Se me esmoreça a Ânsia e a Angústia,
Essas duas inseparáveis irmãs solteironas.
O Mistério, às escondidas, está a
Realizar seu oculto ministério.
Pétreas gárgulas voam das altas torres
Da escura Catedral, sendo vistas apenas pelo
Furtivo clarão dos relâmpagos. A
Luxúria, vestida de escarlate,
Tentando as libidinosas gulas
Daqueles que tem a carne abstêmia...
Os remorsos, disfarçados crápulas,
Torturam mortiças recordações...
Moscas verdes e azuladas pousam afoitas
Na face pútrida do morto. Foscas
Imagens contorcem-se perante os
Invertidos reflexos. Soam fúnebres
Alaúdes... Dos ataúdes, ecoam
Misteriosos gemidos... vestidos apenas
Com a fantasmagórica alvura da
Névoa. Vagava errante por uma
Casa, com tantos cômodos que, a todos
Que ia, eu me encontrava... para em
Seguida voltar a me perder. Ninguém
Ouve minha suplicante voz, nem
O tácito gemido do meu cavernoso peito!
Mais dia ou menos dia, surge graciosa
E lasciva a Magia, purpurinando
A Arte, enfeitando a Poesia!
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