Uma das perguntas mais famosas da literatura brasileira promete ser respondida agora. Afinal Capitu, personagem do genial Machado de Assis, traiu ou não traiu Bentinho em 'Dom Casmurro'? Confira o que alguns especialistas dizem a respeito.
SE TRAÍSSE O MACHADO IA PEGAR…
Ok. Deixemos as brincadeiras de lado. Para responder a pergunta mais famosa dos fãs de literatura brasileira, a revista Super Interessante ouviu vários especialistas para, enfim, chegar a uma conclusão: Afinal, Capitu traiu ou não traiu?
Respostinha batata em todos os vestibulares é vá: talvez. E esse é, justamente, um dos aspectos mais geniais do livro: não há como decifrar o enigma construído por Machado de Assis porque o livro traz apenas o ponto de vista de um personagem, Bentinho. “Não é possível afirmar, por meio da investigação das marcas textuais no romance, que Capitu tenha ou não tenha traído Bentinho”, explica Andrea de Barros, doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp.
Desde que foi lançado, em 1899, até a década de 60, Dom Casmurro foi lido como as memórias de um homem desiludido por ter sido traído pela mulher e pelo melhor amigo. Bentinho, o narrador, conta a história do amor por Capitu e depois a dor pela traição dela com Escobar.
Mas, no início dos anos 60, essa leitura foi modificada com a ajuda da crítica norte-americana Helen Caldwell, que escreveu o livro O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. “A partir da referência direta a Shakespeare e, especificamente, a Otelo, Caldwell leu Dom Casmurro como as memórias narradas por um homem ciumento”, explica Antônio Sanseverino, professor do Instituto de Letras da UFRGS. A comparação com Otelo é justificada: o ciúme levou Otelo a dar ouvidos a Iago e acreditar na traição de Desdêmona, que era inocente. “A partir dessa relação, pode-se ler o romance como a escrita de Bento, homem ciumento e cheio de imaginação, que condena Capitu sem ter provas e vê, em seu filho Ezequiel, a imagem de Escobar”, diz Sanseverino.
Ou seja, muitas leituras foram feitas sobre o livro, mas nenhuma levou a uma conclusão definitiva sobre o possível adultério. O que se pode afirmar é que o narrador não dá voz para Capitu e, desde o início da narrativa, dá pistas que tentam fazer o leitor duvidar do caráter da personagem.
Sanseverino traz alguns exemplos: “Bentinho diz que ela, aos 14 anos, era muito mais mulher do que ele era homem. Depois, descreve sua beleza, sem deixar de apontar a pobreza de sua condição. Não deixa de apontar sua dissimulação, quando eles são surpreendidos pelo pai dela. Ele fica atrapalhadíssimo, ela age como se nada tivesse acontecido”. Assim, como temos apenas a versão parcial de Bentinho, que acredita na traição, não há como desvendar o mistério.
Andrea, como leitora e estudiosa do autor, tem sua própria interpretação da obra: Capitu é inocente. “Bentinho era incapaz de confiar em si mesmo e em seus próprios sentimentos, portanto, como poderia confiar nos sentimentos e na força de caráter de Capitu?”, questiona.
E, cá entre nós, a discussão poderia ser o tamanho da tosquice e dabundamolice do Bentinho, né não?
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