Em 1973, o ex-beatle Paul
McCartney havia lançado quatro discos experimentais e sem aprovação da crítica,
ele possuía alguns hits isolados, como “My Love”, “Live and let die”, “Maybe
i’m amazed” e “Another Day”. Entretanto, ainda não havia produzido um álbum de
fôlego, no nível de seu tempo com os Beatles. Essa situação mudou quando, em
dezembro, Paul lançou o álbum “Band on the run”, que foi seu primeiro disco de
ouro após o fim dos Beatles. O magnífico álbum é vencedor de dois Grammys, está
na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame e conquistou
a 75ª posição na lista dos "100 melhores álbuns britânicos de todos os
tempos", da revista Q Magazine (2001).
Após gravarem “Red Rose
Speedway” (1973), Paul, Linda McCartney e Denny Laine procuravam um estúdio da
EMI que não se localizasse na Inglaterra. Os Wings, então, escolhem um estúdio
em Lagos, na Nigéria. Entretanto, nem tudo correu bem nessa escolha. Um dia
antes da viagem, o guitarrista principal Henry McCullough e o baterista Denny Seiwell
deixaram a banda. “Quanto mais crises, mais material”, revelou McCartney em
1984. Porém, os entraves possibilitaram que McCartney criasse um álbum
antológico.
O disco se inicia com a canção
progressiva “Band on the run” (“Se algum dia sairmos daqui, tudo que preciso é
de um chopp por dia”). A faixa tem muitas variações e lembra muito o elaborado
lado b de “Abbey Road”, dos Beatles. A eufórica “Jet”, por sua vez, tem um riff
poderoso e ótimos backing vocals. A balada “Bluebird” tem luz própria e um ótimo
solo de saxofone. Já alegre “Mrs. Vanderbilt” tem refrão fácil e também é uma
ótima canção. O rock “Let me roll it” é supostamente uma resposta de Paul a
“How do you sleep?”, de John Lennon. Aqui, McCartney conduz a guitarra no
melhor estilo Lennon (“Cold Turkey”). O sol também brilha nas baladas “Mamunia”
e “No words”, essa última em parceria com Laine. “Picasso’s last words” versa
acerca da morte do pintor Pablo Picasso. “Nineteen hundred and eighty-five”,
por seu turno, encerra o disco no melhor estilo “Sgt. Pepper’s”, com direito a
citação da faixa-título. Assim, o álbum é brilhante do começo ao fim. Até o
crítico e parceiro John Lennon aprovou. Por tudo isso, “Band on the run” foi um
sucesso de crítica, de público e de vendas, e se revelou como o momento mais
inspirado da carreira do ex-beatle.
Ricardo Salvalaio é Professor de Língua
Portuguesa, Escritor e membro da Academia de Letras Humberto de Campos.
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