Há
menos de um mês, o grupo Titãs finalmente saiu do limbo com o excepcional disco
“Nheengatu”. Entretanto, ao contrário do volátil e desnecessário álbum “Sacos
Plásticos” (2009), que focava em baladas românticas e sons eletrônicos, o novo trabalho
tem ares rock ‘n’ roll e abusa de letras ácidas. Nada espaca aos roqueiros
oitentistas, a obra versa sobre os problemas atuais no país: pedofilia, violência policial, preconceito,
racismo, pobreza e drogas.
“Nheengatu”
significa “língua geral" e é uma referência à língua artificial
criada pelos jesuítas
no Brasil para
facilitar a compreensão entre os povos
indígenas e
os colonizadores
portugueses.
A capa, por sua vez, é baseada na pintura “Torre
de Babel”,
de Pieter Bruegel, a qual retrata a mítica
torre construída para se alcançar os céus, mas destruída pela ira de Deus, o
que resultou na dispersão dos homens pela Terra, que então passaram a
desenvolver idiomas próprios e não mais se entenderam. Desse modo, o conceito
do álbum é dar voz a quem normalmente não tem voz e nem vez. “Nheengatu” é a
junção das temáticas de “Cabeça Dinossauro” (1986), da crueza de “Tudo ao mesmo
tempo agora” (1991) e da pegada de “Titonomaquia” (1993), e consolida a nova
formação do grupo, agora um quarteto (após a saída do baterista Charles Gavin
em 2010). Assim, Paulo Miklos, Tony Bellotto, Branco Mello, Sérgio Britto
produzem um som de volta às raízes, acompanhados pelo ótimo baterista Mario
Fabre e o produtor Rafael Ramos.
No
melhor estilo “Cabeça”, o álbum possui catorze “porradas” e se inicia com “Fardado”
(“Você também é explorado, fardado”), que uma atualização de “Polícia”. Já
“Cadáver sobre cadáver”, parceria de Miklos com o ex-titã Arnaldo Antunes,
trata da violência urbana que tanto assola a sociedade: “Morre quem mereceu e
quem não merecia”. Por seu turno, “República dos bananas” critica o fato de
todos opinarem sobre tudo nas redes sociais. Outro destaque é a regravação de
“Canalha”, de Walter Franco, à la Black Sabbath, combinando com o conceito
geral. A brasilidade do grupo aparece na niilista “Baião de dois”, que tem
versos de Pixinguinha, Cartola e Noel Rosa. Por tudo isso, “Nheengatu”, não é
só o maior trabalho que os Titãs realizaram nos últimos vinte anos, mas também
o melhor álbum de rock feito no Brasil recentemente.
Ouça o álbum na íntegra:
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