No ano de 1962, o
Brasil ainda não era orquestrado pela batuta de ferro dos maestros do regime
militar. A seleção brasileira de futebol, até então bicampeã mundial,
apresentava um perfil mais romântico e menos mercenário. Os Beatles
e os Rolling Stones estavam começando suas gloriosas carreiras. Elvis Presley
já era um mito e Rod Stewart, por sua vez, ainda era um coveiro aspirante a atleta.
A música jovem brasileira vivenciava a geração em que o rock e a bossa nova
transitavam em uma mesma via, produzindo letras que falavam de praia, paquera e
assuntos ligados ao cotidiano. Bons tempos, não? E foi sob a beleza da
primavera daquele ano, em 23 de setembro, no bairro carioca da Urca, que veio
ao mundo Paulo Ricardo Oliveira Nery de Medeiros,
que anos depois se tornou um dos nomes mais importantes do rock nacional.
Apesar de ser um
carioca da gema, Paulo Ricardo
passou parte da infância e da adolescência nas cidades de Florianópolis e
Brasília. Por um capricho do destino (ou não?!), o período em que morou na
capital brasileira não coincidiu com o começo da “Turma da Colina”, que serviu
de alicerce para o surgimento de bandas como Capital
Inicial, Legião Urbana
e Os Paralamas do Sucesso. Resta aos fãs de rock nacional o
pensamento a respeito de “como seria a cena brasiliense com a presença de
Paulo…”. No mínimo, aquele time de roqueiros teria mais um camisa 10 genial.
Entre 1978 e
1982, Paulo cursou Jornalismo, morou em São Paulo e conheceu o tecladista Luiz
Schiavon, com quem formou a banda Aura, que não teve muito êxito. Viveu em
Londres e, durante esta temporada na Europa, bebeu nas fontes das tendências
tecno pop, new wave, pós-punk e do pop/rock britânico. Com uma sagacidade que
sempre lhe foi peculiar, o então jornalista aspirante a roqueiro voltou para o
Brasil e trouxe na mala um caldeirão de referências sonoras – que eram sucesso
na indústria fonográfica internacional – e trabalhou em cima do conceito
daquele que viria a ser um das maiores nomes do rock nacional em todos os
tempos, o RPM.
Paulo Ricardo é dono de uma presença de palco incomum
Já liderando o
RPM, o baixista e vocalista Paulo Ricardo ocupou o posto de maior galã da
música nacional. Durante os anos 80, época da explosão do rock no Brasil, oito
em cada 10 meninas queriam namorá-lo. Além de tudo, os meninos queriam ser
iguais a ele. De longe, seu reinado foi rivalizado somente por Dinho Ouro
Preto, do Capital Inicial, e Avellar Love, do João Penca & Seus Miquinhos Amestrados. Até o surgimento
daquele sujeito até então franzino, com nome de príncipe, cabelo diferente e
voz rouca, o rock nacional vivia sob o paradigma do ‘roqueiro brasileiro tem
cara de bandido’, sabiamente retratado na música “Ôrra Meu“, da não menos
roqueira Rita Lee.
Paulo Ricardo
chega aos 50 anos com a consciência e com o refrigério emocional de que
conseguiu driblar diversos problemas. O rock nacional brinda hoje o
cinquentenário do mais voraz de seus militantes! Entre questões de ordem
pessoal, uso de drogas e principalmente o rótulo de ‘cantor brega’ – que lhe
foi imputado pela parte maldosa da imprensa durante um de seus voos solos -,
este artista construiu uma brilhante carreira.
Depois de
sobreviver a todas as armadilhas do sucesso e da indústria cultural, ele pode
simplesmente ser chamado de… Vencedor. Longa vida ao roqueiro da voz rouca, que
continua por aí tocando os nossos corações e fazendo a revolução!
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