“A Maçã”, de Samira Makhmalbaf, se tornou um clássico do cinema iraniano. O filme conta a história de duas irmãs gêmeas que viviam isoladas dentro de casa (a porta tinha até uma grade com cadeados) e eram proibidas de sair na rua. O pai, um velho desempregado, superprotegia as filhas e ainda tinha que cuidar da esposa, que era deficiente visual. Esta era bastante rígida, e durante o filme, transparece uma imagem de pessoa má, pelo modo que criava suas filhas.
A partir de um abaixo-assinado organizado pelos vizinhos, o assunto passa a ser conhecido pelos jornais e pelas autoridades. Uma assistente social é designada para fazer com que os pais respeitem as definições da justiça: que às meninas seja dada a liberdade.
O que no começo parece pura idiossincrasia paterna vai aos poucos se revelando como uma complicada teia de preconceitos, fanatismo e jogos de poder. Primeiro vemos a justificação filosófica para mantê-las presas: diz o Livro que as meninas são como pétalas de flor que se desmancham em contato com o Sol. Depois, mais tarde, o verdadeiro motivo: o domínio da mulher, cega, mas que aparece como a verdadeira força (do mal) oculta no filme, uma força sem cara (ela aparece sempre encapuzada), para defender o antigo modelo, em contraposição ao novo modelo, defendido pela assistente social.
Poderia-se dizer que “A Maçã” é um filme feminista? Parece que não. O filme é, isso podemos dizer, um assunto de mulheres. De fato, elas são tudo que move o filme, e os homens (o pai e o vendedor de sorvetes) estão na história apenas como atualizadores de um sistema.
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