Petrônio escreveu "Satyricon" com o intuito de ridicularizar a corte do imperador Nero e a alta sociedade romana. Antes que o soberano do império o condenasse à morte ele suicida-se e de pulsos cortados desfruta seus últimos momentos conversando com os amigos sobre os prazeres que a vida proporciona. Desse modo, Petrônio seguiu a ética hedonista até sua derradeira gota de sangue, literalmente. Obra-Prima da Literatura Latina, "Satyricon" condiz perfeitamente com o estilo de vida adotado por seu autor.
Diferentemente do Epicurismo, que prega a procura da felicidade pela prática moderada do prazer, a filosofia iniciada por Eudoxo de Cnido aconselha a busca incessante pelo prazer. A maioria dos personagens da obra são desprovidos de pudor, as práticas orgíacas, heterossexuais e homossexuais são narradas pelo protagonista Encólpio com total desprendimento moral, visto que a visão de mundo cristã que castraria o sexo como elemento essencial e fundamental do e para o ser humano ainda não ameaçava a mundividência pagã. Encólpio nos conta suas aventuras vividas em viagens pela Itália, bem como suas peripécias amorosas com outros dois jovens mancebos, Ascilto e Gitão.
Juntos, o trio de errantes passa por situações de perigo, episódios picantes e outros de muita comicidade, como é o caso do famoso banquete de Trimalquião, sujeito bonachão sempre a pronunciar trocadilhos de péssimo gosto. A cena é uma verdadeira sátira (daí o título do livro) às altas rodas da sociedade romana da época, além de ser um devotado culto dionisíaco.
"Satyricon" é considerado o primeiro romance realista da Literatura universal, lá estão características que antecipam em muito o que no século XIX comporia a estética realista: exploração social, hipocrisia, dentre outros. Para finalizar, lembremos as palavras do crítico Otto Maria Carpeaux ao explicar porque o romance de Petrônio é tão atual: “O ambiente(...)é o das nossas grandes capitais, da nossa alta sociedade (...). A obra de Petrônio é de estranha e alegre atualidade.”
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