Só mesmo a bilheteria modesta e o tema indigesto
para plateias adormecidas com pipoca fazem “12 Anos de Escravidão” ter que
competir com “Gravidade” pelo Oscar de melhor filme. Seria como pôr Meryl
Streep e Sandra Bullock no mesmo patamar.
“12
Anos…”, dirigido pelo britânico Steve McQueen (“Shame”), é o melhor filme de
Hollywood, e o mais necessário, em muitos anos.
“É o primeiro filme que torna impossível continuar
vendendo mentiras e mistificações sobre escravidão por mais de um século”,
escreveu a crítica de cinema do “New York Times” Manohla Dargis. “Levou um
século para vermos o impacto do chicote em um corpo nu”, redigiu David Thomson,
da revista “New Republic”, lembrando a condescendência com os negros desde “E o
Vento Levou”. O longa é baseado na autobiografia publicada em 1853 do
violinista Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), negro livre em
Saratoga, Estado de Nova York, que é sequestrado enquanto se apresenta em
Washington e vendido como escravo na Louisiana.
Não há senhores de escravos bonzinhos, epifania de
personagem branco que descobre que a escravidão (ou o racismo) é algo errado,
nem flerte entre o homem branco e a escrava negra. Mostra, sem meio tom, os
estupros constantes do senhor de escravos Epps (Michael Fassbender) contra sua
favorita, Patsey (Lupita Nyong’o). A mulher de Epps, com ciúmes de Patsey,
agride repetidamente a “rival”, nessa nada romantizada “Casa Grande e Senzala”
americana.
Northup aprende cedo que a submissão é requisito
para se viver e a esconder que é alfabetizado. Tampouco vira melodrama — o
intelectualizado Northup quer realmente entender o sistema que permitiu a
lógica da escravidão.
A autobiografia levou
160 anos para chegar às telas e custou apenas US$ 20 milhões, equivalente ao
cachê de um único astro hollywoodiano. A participação de Brad Pitt abriu
bolsos. “12 Anos de Escravidão” pode render o primeiro Oscar já dado a um
diretor negro. Até pode perder para a linguagem new age no concorrente
“Gravidade”, mas já é o filme imperdível do ano.
Assista ao trailer:
Fonte: Folhapress
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