Baseado no super sucesso de Lois Lowry, filme estreou neste fim de semana no estado e a equipe do Outros 300 esteve lá para assistir. Confiram nossas impressões lendo a matéria completa.
Por Sandro Bahiense
Malditas duas horas de condensação!
Sintetização de um filme com duas horas de um livro complexo como 'O Doador de Memórias' deixa estória rasa e com espaçamentos entre as ações.
Normalmente sou avesso a adaptações de (bons) livros para o cinema, pois, na maioria das vezes, elas são ruins. Logo, quando soube que o bom livro 'O Doador de Memórias' seria adaptado me indaguei: Mais uma vez será um decepção? Após vê-lo lhes digo. Sim e não.
Quem leu o livro ira se frustar. Não que o filme não demonstre o cenário a qual imaginamos ao ler o livro, mas o fato de tantas cenas e tantas tramas que explicavam melhor a estória de Jonas e companhia terem ficado de fora incomodou, e muito.
Isso fez com que os fãs do romance se frustassem por essas ausências e os que não haviam lido o livro tivessem que forçar um pouco a barra para acreditar na trama. Algumas perguntas básicas para quem não leu o livro: 1 - Qual foi o start, o motivo, para a criação desta sociedade fechada? 2 - Porque escolher alguém notoriamente contestador para tamanha responsabilidade? 3 - O herói tenta chegar a um local que em nenhum momento se diz o que é de fato. Isso deixa o (evidente) bom filme longe de ser ótimo o que, no frigir dos ovos, revela. um grande desperdício.
A trama
Jonas vive numa sociedade futurista onde todas as emoções foram deletadas a fim de manter a ordem e o controle. Para tanto o jovem é designado como o receptor de memórias, ou seja, será o único no grupo a saber do passado e a ter acesso às emoções negadas às pessoas. Jonas, contudo, após ter acesso a essas emoções, se rebela contra o sistema e decide fugir, junto ao bebê Gabriel, a fim de revelar a toda a sociedade o mundo a qual elas não tem conhecimento.
Crítica
O filme é ótimo, devo deixar isso claro de início. Mas se perde em alguns pontos. Primeiro ele não se define entre artístico ou pop. Os trailers o vendem como pop, ou seja, uma variação de 'A Hospedeira', 'Jogos Vorazes' ou 'Divergente', quando, na verdade, ele tem muito mais a ver com os livros '1984' e 'Admirável Mundo Novo', grandes clássicos da literatura que são tudo menos romances aventurescos adolescentes.
O diretor Philip Noyce até começa bem. As cenas em preto e branco, a mostra da sociedade, a escolha por Jonas e, principalmente, as primeiras memórias e sensações sentidas pelo garoto são demonstradas rapidamente (o problema da sintetização citada acima), mas com muito bom gosto e emoção. Sim, um mais emotivo pode até deixar uma lágrima ou outra rolar de canto de olho tamanha a singeleza da coisa.
Mas depois a coisa degringola. E isso se deu pela boa e velha exigência hollywoodiana: Muito romance e aventura. Daí desperdiçou-se uns, vá lá, trinta minutos que poderiam ser dedicados aos questionamentos do garoto, às novidades, aos debates com o doador... que foram trocados por melosas cenas de flerte entre Jonas e Fiona e a gigantesca cena de fuga do garoto com takes, aliás, mentirosos e inverossímeis até o último fio de cabelo.
Em suma 'O Doador de Memórias' se vende como um filme adolescente que começa adulto, mas que tenta recuperar seu ar adolescente de seu meio pra lá. Esse "meio pra lá" é dispensável. O início e metade é maravilhoso. No final das contas, na balança, saí um saldo muito positivo.
Elenco
Mal aproveitado. Jeff Bridges, Meryl Strep, Taylor Swfit e Kate Holmes possuem personagens rasos, sem grandes questionamentos ou emoções. A impressão era que o foco devia ser unicamente em seu protagonista (o bom Brendon Twaites) e, com isso, o resto foi, literalmente, o resto. Fiquei com pena da produtora que poderia ter gasto menos dinheiro com o elenco de apoio, afinal se era para aproveitá-los tão pouco...
Só uma última coisa. Sei que os bebês eram criados em laboratório, que não haviam doenças... Mas o menininho de 12 anos não estava, hã, digamos, uns dez anos mais velho? Só eu que achei isso? Enfim.
Crítica final
Lados bons e ruins, mas no fim um saldo muito positivo. 'O Doador de Memórias' NÃO é um filme adolescente aventuresco romanticozinho. E isso é ótimo! 'O Doador...' é um filme sensível, pensante e agradável. Uma boa indicação para adolescentes maduros e para adultos que gostam de boas estórias. Indicadíssimo!
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