Carlos
Alexandre da Silva Rocha nasceu em
Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências
Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o
livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do
leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias
humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado
em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “O ensimesmado”:
O
ensimesmado
Gostava de ficar nos cantos, em quinas. Sua existência era quase imperceptível. Quando pequeno sua mãe o esquecia em supermercados, lojas, parques... Ela partia e quando chegava em casa lembrava que esquecera algo, era o filho. Voltava chorando e se punindo por ser uma mãe louca, que deixa a cria para trás. Ela chegava lá descabelada e o via com o sorriso dos inocentes. Agarrava-o desesperada.
Nunca apanhou e nem teve o lanche roubado no recreio. Os valentões da
escola pareciam não vê-lo.
Na adolescência sua atitude camaleônica só lhe trouxe desvantagens,
enquanto todos já tinham se pegado, na grama, na escada e até debaixo de chuva,
ele carregava consigo a insígnia de ser um BV. É, não conseguiu beijar ninguém,
e os finalmentes então! Nem em sonho...
Cresceu e entrou na vida adulta, no trabalho não era despedido porque
sua chefe não se dava conta de sua existência, e quando o via repetia sempre a
mesma pergunta: “Você é novo por aqui?”. Foi levando essa vida até que não
conseguiu entrar mais na empresa, tinham deletado seu nome do cadastro, não era
funcionário, nunca o viram mais gordo, repetiam-lhe desde o segurança ao dono
da empresa.
Caiu no mundo do crime, virou mula. Fazia entregas interestaduais
confiando sempre na sua invisibilidade. Adorava cães, mas nunca perdoou aquele
pulguento que lhe dedurou com latidos insistentes.
Foi levado para a delegacia de polícia. Quando o puxaram pelo nariz, seu
corpo já se confundia com o estofado da viatura. Ficou lá sentado se misturando
com o ambiente.
Só se deram conta de seu desaparecimento no outro dia, quando a imprensa
foi tirar a foto do meliante.
– Desapareceu!, diz o carcereiro ao delegado.
– Como assim? Desapareceu?!
Vários físicos, matemáticos, filósofos estudaram o caso durante anos,
criando teorias sobre a co-presença do indivíduo não-presente.
Passaram-se anos e um pedreiro desvendou o caso quando foi consertar o
quartinho de despejo da delegacia. Entrando no quarto, assustou-se ao se
deparar com um velho cuja barba longa encostava no chão. Fedia a barata, sua
alimentação diária. Nos jornais saiu na primeira página – “Descoberta: o Crusoé
da cadeia”.
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