Em 1973, o ex-beatle Paul McCartney havia lançado quatro discos experimentais e sem aprovação da crítica, ele possuía alguns hits isolados, como “My Love”, “Live and let die”, “Maybe i’m amazed” e “Another Day”. Entretanto, ainda não havia produzido um álbum de fôlego, no nível de seu tempo com os Beatles. Essa situação mudou quando, em dezembro, Paul lançou o álbum “Band on the run”, que foi seu primeiro disco de ouro após o fim dos Beatles. O magnífico álbum, gravado em Lagos (Nigéria), é vencedor de dois Grammys, está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame, conquistou a 75ª posição na lista dos "100 melhores álbuns britânicos de todos os tempos", da revista Q Magazine (2001), e a 418ª na lista 500 melhores álbuns da revista Rolling Stone (2003), além de ser citado no livro “1001 discos para ouvir antes de morrer”. A importância da obra é tanta que McCartney até hoje executa quatro ou cinco músicas desse disco em suas turnês mundiais.
BANDA EM FUGA
Após gravarem “Red Rose
Speedway” (1973), Paul, Linda McCartney e Denny Laine procuravam um estúdio da
EMI que não se localizasse na Inglaterra. Os Wings, então, escolhem um estúdio
em Lagos, na Nigéria. Entretanto, nem tudo correu bem nessa escolha. Um dia
antes da viagem, o guitarrista principal
Henry McCullough e o baterista Denny
Seiwell deixaram a banda. “Aquilo foi como uma
bomba. Imagine como eu fiquei quando recebi aquele telefonema: foi como, ‘ah,
se controle, não se desespere. O que faremos agora? Dane-se, nós vamos’. E
aquele momento foi como, ‘eu vou mostrar a eles. Vou gravar o melhor álbum que
já fiz. Vou colocar todo meu esforço nele só para provar que nós não precisamos
de vocês’”, ponderou McCartney.
Além desse contratempo, os Wings (agora
Paul, Linda e Denny Laine), tiveram que lidar com outros problemas: um estúdio
péssimo, um assalto (em que os ladrões levaram todas as fitas de gravações) e a
ira do músico e ativista local Fela Kuti, que publicamente acusou a banda de estar na África para explorar e
roubar música africana após a visita da banda ao seu clube. Kuti esteve até
mesmo no estúdio para confrontar McCartney, que tocou suas canções para o
músico nigeriano, provando que não continham nenhuma influência local.
“Quanto mais
crises, mais material”, revelou McCartney em 1984. Todos os entraves
possibilitaram que McCartney criasse um álbum antológico. O cantor e compositor
conhecia cada centímetro do que era necessário fazer. Ele mesmo produziu o disco
e teve ao seu lado Geoff Emerick, antigo engenheiro de som dos Beatles. Paul,
multi-instrumentista, tocou baixo, bateria, piano, violão, guitarra solo, já
Linda cuidou dos teclados, e Denny Laine executou a guitarra rítmica. Sobre
as gravações, o ex-beatle apontou: “Eu certamente estava aproveitando a
liberdade de apenas fazer algo diferente. Sempre fui assim. E então, o outro
elemento era que eu sabia que não poderia fazer uma cópia dos Beatles sem John,
George e Ringo. Eu sabia que teria que tentar fazer algo novo, então cada um
dos álbuns foi uma tentativa de estabelecer uma identidade para os Wings”.
CANÇÕES
O
disco se inicia com a canção progressiva “Band on the run” (“Se algum dia
sairmos daqui, tudo que preciso é de um chopp por dia”). A faixa tem muitas variações e lembra muito o
elaborado lado b de “Abbey Road”, dos Beatles. A eufórica “Jet”, por sua vez,
tem um riff poderoso e ótimos backing vocals. A balada “Bluebird” tem luz
própria e um ótimo solo de saxofone. Já alegre “Mrs. Vanderbilt” tem refrão
fácil e também é uma ótima canção. O rock “Let me roll it” é supostamente uma
resposta de Paul a “How do you sleep?”, de John Lennon. Aqui, McCartney conduz
a guitarra no melhor estilo Lennon (“Cold Turkey”). O sol também brilha nas
baladas “Mamunia” e “No words”, essa última em parceria com Laine. “Picasso’s
last words” versa acerca da morte do pintor Pablo Picasso. “Nineteen hundred
and eighty-five”, por seu turno, encerra o disco no melhor estilo “Sgt. Pepper’s”,
com direito a citação da faixa-título.
Assim, o álbum é brilhante do começo ao
fim. Até o crítico e parceiro John Lennon aprovou. Quem não o faria? “Sou como
a maior parte das pessoas. Não se ri, não se chora, só se fica vendo. ‘Ah,
claro, o Sgt. Pepper’s dos anos
setenta. A gente vai levando, não se pensa em nada”, reflete Paul sobre o êxito
da obra. Por tudo isso, “Band on the run” foi um sucesso de crítica, de público
e de vendas, e se revelou como o momento mais inspirado da carreira do
ex-beatle.
(RICARDO
SALVALAIO)
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