Drama, humor, aventura e ação. 2013 foi um ano recheado de produções cinematográficas no Brasil e o Outros 300 aproveita o fim do ano e lista os dez melhores filmes nacionais do ano. Confira a lista abaixo:
10º Minha Mãe é Uma Peça
As comédias nacionais costumam deixar certos espectadores com frio na espinha. Após experiências um tanto negativas com Cilada.com, Muita Calma Nessa Hora, dentre tantos outros exemplos que fazem um humor rasteiro e sem o menor esforço em tentar fazer o público refletir, algo digno do nível do “humorístico” Zorra Total, é sempre surpreendente se deparar com uma obra como Minha Mãe é Uma Peça. Longe de ser considerada genial ou impecável, a adaptação da peça de teatro arranca boas risadas, o que a torna bem sucedida como comédia. Ainda que bilheteria alta não ateste a qualidade do produto, a produção já é um dos cinco maiores sucessos nacionais da temporada ultrapassando a marca de um milhão de bilheteria (e crescendo).
O filme conta a história da espirituosa Dona Hermínia (Paulo Gustavo) e a sua relação com os filhos mais novos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo). Depois de uma discussão, a mãe que todo mundo gostaria de ter (ou tem) decide sair de casa e deixar as “crianças” sozinhas. Hermínia busca abrigo na casa de sua tia e começa uma verdadeira terapia enquanto vai relembrando fatos da infância de seus filhos e da sua própria experiência como mãe. Seria tudo muito clichê e bobo se não fosse pela língua afiada da senhora de meia idade, que tem um gênio forte e fala tudo o que pensa independente de deixar as pessoas constrangidas.
9º A Busca
Eu não gostaria de estar na pele do filho de Wagner Moura emA Busca. Só sendo muito louco para fugir de casa e deixar o pai, popularmente conhecido por interpretar o Capitão Nascimento, louco da vida procurando pelas estradas do Brasil. A Busca é o mais próximo que Procurando Nemochegará de ganhar uma versão live action, mas a boa referência não garante que o longa-metragem dirigido por Luciano Moura escape de pequenos problemas.
Pedro é um moleque pilhado que fica de saco cheio das brigas dos pais e resolve fugir de casa. Theo (Moura) parte em busca do único filho e ao longo de sua jornada, vai conhecendo mais dele mesmo e de Pedro. Theo cruza com diversas pessoas com características muito peculiares. Cada uma delas encontrou com Pedro e pode (ou não) ajudar Theo em sua missão de resgate. (Imagine bem a situação: o cara quer voltar para a esposa, que MANDA ele trazer o filho de volta. Como aprendemos em Tropa de Elite, missão dada é missão cumprida.)
8º Doméstica
Gabriel Mascaro resolveu construir um documentário diferente. Deu uma missão a sete adolescentes: filmar suas empregadas domésticas por uma semana. Eles precisavam se apresentar, explicar a situação e captar o máximo que pudessem. O resto era com ele e seu montador Eduardo Serrano.
Doméstica é um filme instigante, então, ao trazer uma variedade de emoções e vidas incríveis. Temos diversos tipos de empregadas domésticas. Desde nordestinas em casas do sudeste, passando por moças do interior na capital, até perfis menos comuns como um homem que é empregado doméstico ou uma empregada de outra empregada doméstica que cuida de seus filhos, enquanto esta está trabalhando em outra casa de família.
A escolha de Gabriel Mascaro de acompanhar cada história em bloco, em vez de realizar uma montagem paralela de todos os personagens por tema, é feliz. Não que, com isso, tenhamos vários curtas unidos por um tema. O filme possui algo conciso, como capítulos que não nos deixa dispersar. E vão em uma crescente, começando pelos exemplos mais comuns, até chegar aos mais inusitados.
7º Elena
Uma boa parte da população, por pura ignorância, pode pensar em documentários como um gênero frio, lento e tudo mais, o que acaba sendo sendo efeito das pessoas verem muitos documentários que soam mais como uma aula do que um filme. Esse preconceito com o gênero é bastante prejudicial, já que isso não é verdade. Elena é a prova disto, um filme bastante pessoal e sensível. O longa é sobre a irmã da diretora, que morreu quando a cineasta ainda era criança, daí, a ela procura tentar entendê-la melhor. Um dos grandes filmes do ano.
6º Dossiê Jango
Dedicando-se a narrar um dos períodos mais importantes, lamentáveis e obscuros de nossa história, o Golpe de 1964, o longa de Paulo Fontenelle é certamente o melhor filme nacional lançado durante 2013. Podendo dedicar-se apenas a levantar conspirações sobre o que ronda a morte do presidente João Goulart, este documentário acertadamente prefere trazer uma visão geral e crítica da opressão que rondava a época, sendo transmitida através da mídia, da religião, do estado e da corporação, para influenciar a população e levá-la conservadorismo, disposto a derrubar qualquer organização ou representante que viesse do lado contrário a este, e que depois viria a prejudicá-la com a vindoura Ditadura Militar. Com um arquivo completo e depoimentos relevantes, Dossiê Jango retira – com excelência – a poeira deste evento obscuro sobre o qual toda a nossa população deveria saber mais.
5º Serra Pelada
Heitor Dhalia e sua equipe fazem um trabalho de fotografia e edição fantásticos em Serra Pelada. A mistura de cenas fictícias inspiradas nos fotodocumentos de Sebastião Salgado com registros jornalísticos de época confudem o espectador, tamanhos beleza e tratos de imagem. A cena em que Joaquim delira com a febre da malária, banhado em terra como que em pó de ouro, é fantástica. A direção de arte é primorosa e remonta à época com fidelidade. E o elenco está impecável: Matheus Nachtergaele, Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Sophie Charlotte (até ela!) e Wagner Moura que, apesar de coadjuvante, rouba a cena (e o filme, pra variar). Não posso esquecer de mencionar a trilha sonora do grande Antonio Pinto (filho do autor Ziraldo, talentosíssimo, que fez a trilha de Central do Brasil e a minha preferida, Abril Despedaçado, que serviu de base para seu trabalho no documentário Senna), que caiu como luva por todo o longa-metragem. É importante ressaltar que o filme é inspirado em fatos reais. Serra Peladanão é, nem de longe, a cópia fiel dos horrores que a região suscitou. É uma obra de ficção, narrativa dramática que não quer ser documentário e que ainda assim não deixa de ser uma das coisas mais bacanas que o cinema comercial brasileiro fez nos últimos anos, mesmo regado à atores globais e romances-clichê.
4º O Som ao Redor
Se em Tropa de Elite 2 nós víamos o efeito das milícias em comunidades pobres, aqui em O Som ao Redor, nós vemos as mesmas em uma rua de classe média. O filme é um verdadeiro estudo dessa comunidade, conseguindo estabelecer muito bem o panorama geral daquela sociedade e criando personagens fantásticos. Um interessante retrato dessas pessoas, que consegue evocar toda a complexidade das relações entre os personagens e não cria nenhuma caricatura no caminho, sempre personagens de carne e osso. É uma grande obra prima e que quase teve a oportunidade de representar o Brasil no Oscar 2014.
3º Flores Raras
O cinema tem umas coisas engraçadas, como o fato do mesmo diretor conseguir realizar um filme tão tocante como Flores Raras, e outra produção que fatalmente deverá entrar em qualquer lista de piores da temporada. Tudo isso no prazo de um ano. Se em Crô – O Filme, Bruno Barreto pisou na jaca de corpo e alma depois de tomar um daqueles porres sensacionais e decidir aceitar participar da zueira sem limites ao testar suas capacidades de trabalhar no fundo do poço, é exatamente o contrário que tiramos na cinebiografia da arquiteta Lola de Macedo Soares e seu tórrido romance com a poetisa britânica Elizabeth Bishop.
O grande trunfo está nas atuações marcantes de Gloria Pires e Miranda Otto. Rolou uma química interessante entre as duas, e por mais que a personagem de Pires possa parecer meio “durona”, no sentido de um robô, é eficiente o bastante para entreter o espectador que busca mais do que risadas esquecíveis e violência gratuita nas produções nacionais.
2º Faroeste Caboclo
Faroeste Caboclo, a adaptação da música mais cinematográfica que já existiu na história do rock nacional, chegou aos cinemas discretamente e surpreendeu. Oferecendo ao público uma linguagem diferente, como o Afonso Poyart já havia feito em 2 Coelhos, o cineasta Rene Sampaio estreou com o pé direito. Enquanto (quase) todo mundo diz que O Som ao Redor foi o grande destaque do cinema nacional, meus olhos estão concentrados na ação, drama e tragédia romântica que fizeram Faroeste Caboclo ser não apenas o melhor longa-metragem nacional, como também um dos melhores filmes do ano.
1º Cine Holliúdi
Simpatia é o forte de Cine Holliúdy, que virou um verdadeiro fenômeno de público nos cinemas brasileiros e provou que pouco importa se a obra é perfeita ou não (como é o caso), desde que seja boa o suficiente para cativar os espectadores. O diretor Halder Gomes aproveitou bem uma história simples sobre um homem com um sonho e adicionou o amor pelo cinema para conseguir encantar e enfeitiçar o público com boas piadas e um clima aconchegante. Tudo isso acabou funcionando para disfarçar os probleminhas da produção.
Ranking: Sandro Bahiense
Comentários: Túllio Dias
Do Blog Cinema de Buteco
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