Sarah
Vervloet nasceu em Vila Velha ,
no Espírito Santo, em 1989. É graduada em Letras-Português pela UFES e
atualmente cursa o Mestrado em Letras/ Estudos Literários na mesma
universidade. É professora e também escreve irregularmente. Foi contemplada em
um concurso de Literatura da Secretaria de
Cultura do Espírito Santo, na categoria contista estreante e seu livro está no
forno. E-mail:sarahvervloet@gmail.com e Blog: http://chadechama.blogspot.com.br. Confira, abaixo, o conto “A vida em um pulo”:
A VIDA EM UM PULO
─
Você vai pular mesmo?
─
Otário, o que você acha? Subi aqui à toa não.
─
É que a demora é tanta que eu começo a pensar em coisas.
─
Que coisas, palhaço? Quer cuidar da vida dos outros, mas e a sua?
─
Minha vida depende da sua também. Eu quero saber se você já vai pular.
Aquele
diálogo em plena Terceira Ponte ,
com as luzes se acendendo de pouco em pouco e o trânsito formado daquele ponto
para trás, fazia de Paloma alguém que não sabia mais no que pensar. Como
poderia ela imaginar que no instante de seu pulo seria interrompida por um
curioso. Nem mesmo ouvia a sinfonia de buzinas que começava a ensaiar um grande
e insuportável som. O caminhão deu início ao show com uma buzina grave e pesada
que ecoava até o final da fila. E lá do final o motorista do ônibus respondia
com buzinadas curtas e agudas. Fez isso por cinco vezes. Uma cabine dupla
parecia ter disparado o alarme quando seu dono afundou a palma da mão para
participar. Os motoqueiros buzinavam furiosos por não conseguirem atravessar os
corredores, já que os carros se desorganizavam na tentativa de achar uma saída.
─
Para de falar merda. Preciso me concentrar.
─
Você já está aí em cima, sentindo um puta vento gelado e ainda precisa pensar?
Paloma
colocou os braços para frente e começou a olhar a si própria. Abria as palmas
das mãos e fechava-as como quem quisesse sentir pulsações e testar
articulações. O sangue já estava bem quente.
─
Não vê que tudo se resume em morte?
─
Como?
─
Tudo se resume em morte.
Alguém reza para morrer bem, alguém vive pouco para morrer
melhor, alguém faz doações para ter a morte lembrada, alguém...
─
Você diz, as pessoas pensam sempre em morrer?
─
Todos pensam.
E
pulou. Paloma pulou para a morte sempre pensando nela. Com os dois braços
abertos, as veias quentes pareciam saltar da pele, deixando o corpo nu da
menina completamente tatuado. Ninguém ouviu o barulho do corpo batendo na água,
nem impacto algum. Ninguém sabe dizer de Paloma. Ninguém se viu presente
naquele momento vital para a sua morte.
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