“PONTO MORTO”, livro do escritor Saulo Ribeiro, ao contrário do que o título diz, nos acelera os batimentos! Fiquei absorvido da primeira a última página. Sou do tipo que gosta de ler mais de um livro ao mesmo tempo. Acho que roubei esse costume da minha mãe que tinha uma pilha de livros na sua cabeceira. E não me confundo porque são livros de diferentes gêneros, normalmente leio um romance, um livro de contos, um livro técnico sobre teatro e uma biografia. Tem dia em que acordo com vontade de ler conto. Outro dia quero ler algo mais técnico. E assim por diante. Sigo minhas vontades. Sempre. Amém. Pois bem, quando comecei “PONTO MORTO” me vi ignorando os outros livros (que pareciam me olhar ressentidos).
Conheci Saulo há alguns anos num bar depois de uma apresentação de “CARTA DE UM PIRATA”, no Teatro Carlos Gomes em Vitória – ES. Os comentários dele sobre o espetáculo saíram do lugar comum e me fizeram repensar questões da peça. Depois disso trocamos e-mails, ainda sobre a peça, em que Saulo sempre parecia ter algo interessante pra dizer. Foi quando ele me passou o endereço do blog que escrevia na época. Interessei-me na hora pela sua escrita ágil e pelas histórias melancólicas.
Algum tempo depois, quando a nossa amizade já era um fato, estávamos sentados em uma mesa de bar assistindo a um jogo do Brasil na Copa América de 2007, quando eu disse que já havia apresentada minha peça em todos os lugares possíveis. Disse brincando que só faltava apresentar na cadeia. Saulo levou a sério a piada e dois dias depois, articulado como é, já tinha marcado quatro apresentações em presídios do Espírito Santo. Na época, eu estava fazendo assistência de direção para Luis Tadeu Teixeira para a peça “UM FORTE CHEIRO À MAÇA”, me viabilizando passar mais tempo em Vitória. Lembro que depois da primeira apresentação no Presídio de Seguros de Tucum, Saulo me deu uma carona para o extinto Teatro Edith Bulhões, onde teria ensaio e com pressa eu disse que gostaria que ele escrevesse uma peça em que a história se passasse na cadeia. Depois daquela experiência tão intensa eu gostaria de falar sobre a liberdade através dos olhos de um homem privado da sua liberdade. E disse que gostaria de contar com um piano em cena, gostaria de trabalhar com o pianista Manuel Pessoa de Lima no palco. Ribeiro entendeu que eu gostaria de interpretar um pianista. E foi assim que nasceu a peça “CÁRCERE”, que já foi apresentada em todas as regiões do Brasil e em outros países.
Lendo “PONTO MORTO”, eu lembrei bem o motivo que me fez dizer a Saulo Ribero que gostaria de expressar seus textos no palco. Sua fluência e sua ironia são cativantes. E o modo como descreve essa cidade tão bela, Vitória, é único. É das cidades que mais gosto no mundo e vê-la retratada na literatura dele me emociona. A mesma vontade que sinto de estar em Sampa ouvindo Caetano cantar a cidade, ou em Brasília ouvindo Sérgio Sampaio (capixaba, diga-se de passagem), ou no Rio cantado por Tim Maia e Jorge Ben, ou mesmo em Nova York por Sinatra, é a que sinto por Vitória ouvindo Saulo Ribeiro cantar a cidade, mesmo que não a cante diretamente e sim como cenário para sua história de amor e fúria.
(Texto de Vinícius Piedade)
O paulista Vinícius Piedade (1980) é ator, diretor e escritor. Atuou em diversas peças teatrais e lançou três livros.
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