Carlos
Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os
treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores
simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem
na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples.
Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão
fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES
e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com).
Confira, abaixo, a crônica “O muro entre nós”:
Uma das características humanas que hoje mais se
mostra nas facetas e máscaras sociais é a individualidade. Hoje deparamo-nos
com o cultivo da individualidade em propagandas e até em discursos sociais,
como: “cada um deve fazer a sua parte”, dizeres como esses se difundem em
nossas esferas sociais e viram ideologia sem nem um pingo de reflexão, pois
como cada um faz sua parte independente, se nós vivemos em uma comunidade
biológica que seria a humana? Assim, fazer a minha parte é fazer a parte de
ninguém, mas fazer a nossa parte seria o correto e o ideal para que as coisas
dêem certo.
Vendo essa problemática da individualidade vemos
também que as relações humanas se transformaram com o passar da carruagem.
Dantes as pessoas se relacionavam diretamente umas com as outras, hoje se
necessita de um aparelho eletrônico para se manter uma comunicação efetiva com
os entes queridos, ou não (exemplos marcantes são os celulares e o computador
com o advento da internet, que inundou as casas de informações e individualidade,
pois hoje até para se relacionar amorosamente as pessoas usam os chats e outras
ferramentas virtuais). Com isso as transformações sociais mudaram as relações
humanas, deixando os indivíduos solitários em suas celas, sem direito a pão ou
carne quente para se aquecer. Os indivíduos se castram mutuamente esquecidos de
sua completude.
Umas das formas de separação do homem são os
monstros de vidro e ferragens. Cada um em sua vida privada, segregada em sua
mesquinharia. Dessa forma, os indivíduos são separados da condição de conhecer
seus semelhantes, e de pisar a terra úmida pela chuva. As pessoas só conhecem o
cheiro da oxidação da ferragem de seus apartamentos. As preocupações são
muitas, o condomínio a pagar, o café a fazer, a vida a morrer, ou seja, um ser
medíocre a espera de que o mundo acabe na ponta do seu umbigo. Outro fator que
os distancia do mundo que os cerca é a mídia: propagandas, notícias de jornal
que não informam nada. Dessa forma os sujeitos são separados da sua condição de
organizar o seu futuro. Eles não têm nem presente, não sabem o que acontece a
sua volta. Pois o grande erro de hoje é pensar que se tem acesso a tudo, mas
não há acesso a nada. Somos seres estúpidos perdidos nas minúsculas letrinhas
da propaganda de qualquer loja de roupa.
A individualidade então surge como um produto
vendido para as pessoas, como uma forma de comércio. Pois a cada indivíduo
castrado e separado há a venda de mais um produto para o bem estar social dos
empresários e empregados. Uma geladeira a mais, uma TV, uma mulher nova a dar
presentes no dia dos namorados (a maior prova de amor, consiste em dar um
presente mais caro, o sentimento foi excluído), e as relações se baseiam nesse
sistema de trocas. Você ama se você der o presente mais caro (poderíamos ser
como os antigos japoneses que levavam em consideração o embrulho, pois era a
atenção dedicada ao embrulho que mostrava o quanto a pessoa gostava daquele que
iria receber o presente, aqui, caro leitor, usei LEVAVAM, para mostrar que com
as novas formas de socialização imposta pelos senhores do capital, até os
japoneses já devem ter se adaptado na nova forma mercantil de amar).
Os indivíduos atualmente não sabem os primeiros
conhecimentos sobre as relações de amor, só sabem que querem ganhar prazer,
sexo, dinheiro, beijos. Não sabem compartilhar nada. Vivemos em um mundo
dividido por um muro invisível entre os seres, cada um com o seu, nem o muro
que nos separa queremos dividir.
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