sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA



Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “O muro entre nós”:


Uma das características humanas que hoje mais se mostra nas facetas e máscaras sociais é a individualidade. Hoje deparamo-nos com o cultivo da individualidade em propagandas e até em discursos sociais, como: “cada um deve fazer a sua parte”, dizeres como esses se difundem em nossas esferas sociais e viram ideologia sem nem um pingo de reflexão, pois como cada um faz sua parte independente, se nós vivemos em uma comunidade biológica que seria a humana? Assim, fazer a minha parte é fazer a parte de ninguém, mas fazer a nossa parte seria o correto e o ideal para que as coisas dêem certo.

Vendo essa problemática da individualidade vemos também que as relações humanas se transformaram com o passar da carruagem. Dantes as pessoas se relacionavam diretamente umas com as outras, hoje se necessita de um aparelho eletrônico para se manter uma comunicação efetiva com os entes queridos, ou não (exemplos marcantes são os celulares e o computador com o advento da internet, que inundou as casas de informações e individualidade, pois hoje até para se relacionar amorosamente as pessoas usam os chats e outras ferramentas virtuais). Com isso as transformações sociais mudaram as relações humanas, deixando os indivíduos solitários em suas celas, sem direito a pão ou carne quente para se aquecer. Os indivíduos se castram mutuamente esquecidos de sua completude.

Umas das formas de separação do homem são os monstros de vidro e ferragens. Cada um em sua vida privada, segregada em sua mesquinharia. Dessa forma, os indivíduos são separados da condição de conhecer seus semelhantes, e de pisar a terra úmida pela chuva. As pessoas só conhecem o cheiro da oxidação da ferragem de seus apartamentos. As preocupações são muitas, o condomínio a pagar, o café a fazer, a vida a morrer, ou seja, um ser medíocre a espera de que o mundo acabe na ponta do seu umbigo. Outro fator que os distancia do mundo que os cerca é a mídia: propagandas, notícias de jornal que não informam nada. Dessa forma os sujeitos são separados da sua condição de organizar o seu futuro. Eles não têm nem presente, não sabem o que acontece a sua volta. Pois o grande erro de hoje é pensar que se tem acesso a tudo, mas não há acesso a nada. Somos seres estúpidos perdidos nas minúsculas letrinhas da propaganda de qualquer loja de roupa.

A individualidade então surge como um produto vendido para as pessoas, como uma forma de comércio. Pois a cada indivíduo castrado e separado há a venda de mais um produto para o bem estar social dos empresários e empregados. Uma geladeira a mais, uma TV, uma mulher nova a dar presentes no dia dos namorados (a maior prova de amor, consiste em dar um presente mais caro, o sentimento foi excluído), e as relações se baseiam nesse sistema de trocas. Você ama se você der o presente mais caro (poderíamos ser como os antigos japoneses que levavam em consideração o embrulho, pois era a atenção dedicada ao embrulho que mostrava o quanto a pessoa gostava daquele que iria receber o presente, aqui, caro leitor, usei LEVAVAM, para mostrar que com as novas formas de socialização imposta pelos senhores do capital, até os japoneses já devem ter se adaptado na nova forma mercantil de amar).

Os indivíduos atualmente não sabem os primeiros conhecimentos sobre as relações de amor, só sabem que querem ganhar prazer, sexo, dinheiro, beijos. Não sabem compartilhar nada. Vivemos em um mundo dividido por um muro invisível entre os seres, cada um com o seu, nem o muro que nos separa queremos dividir.

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