Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real
Lhe nega oportunidades
Mostra a face dura do mal
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê...
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê...
Acima você leu um trecho de 'Alagados' um das músicas mais conhecidas do grupo carioca 'Os Paralamas do Sucesso'. Tenho certeza que você já a ouviu em algum lugar, certo? Acredito que sim. E... Você já viu algum vídeo desta música? Sim? Não? Então veja este vídeo abaixo:
Este fragmento foi tirado de um show exibido pelo canal Multishow. Percebam que, ao ouvirem os primeiros acordes da música, o público já se alvoroçou e começou a dançar e pular. O ritmo suingado de 'Alagados' é o ponto forte do show da banda em momento de grande diversão para a platéia.
Contudo extasiados pelo ritmo da banda ninguém percebe a poética e retórica social desta linda composição. Por ser uma banda que se fez através do ritmo do ska, Herbert Vianna, um dos maiores compositores da música brasileira, simplesmente não é reconhecido como tal, pois ninguém repara na qualidade, ímpar, de suas belíssimas composições. Vejam um outro exemplo:
No primeiro vídeo, retirado de um show ao vivo em 2004, a platéia ouve, canta e dança o super hit 'Meu Erro' de forma efusiva, alegre e feliz, pouco percebendo que a letra, lindíssima por sinal, se trata de uma difícil relação entre duas pessoas, onde uma dela,s inclusive, demonstra sua total desilução com a outra. Profundo não é? Acredito que não para quem esteja pulando que nem pipoca ao ouvir a música.
Em parceria com a excelente Zizi Possi, Herbert e sua trupe executam a música de forma intimista, lenta, depressiva, como a letra pede. A interpretação de ambos mostra a complexidade da canção e expõem a letra em sua plenitude. É na versão acústica que muita gente descobriu a música 'Meu erro' de verdade!
O talento como letrista de Herbert fica mascarado pelo também talento nato que ele tem em compor melodias (principalmente dançantes). Com isso a segunda se sobrepõe a primeira e Vianna, um dos melhores compositores do país, fica sempre subjulgado a um injusto segundo plano quando listados os maiores do país.
Outros casos mostram tal paradoxo: 'Flor de Lis', uma das mais belas composições de Djavan, fala da morte de uma mãe num parto, mas, por ter uma batida muito suingada, tal dado, muito triste, claro, passa despercebido. 'Pais e Filhos' da Legião Urbana segue passo semelhante. Por ter um dos refrões mais belos da história da música brasileira, ninguém se lembra que a estória da música é de um suicídio de uma adolescente.
Tal injustiça com essas canções e em mais especifico com a qualidade de compor de Herbert Vianna pode ser recorrente em grande parte do público, mas não entre a galera do Outros 300. Para a gente Herbert Vianna é tão tão quanto Russo, Cazuza, Raul e companhia. Ele é tão genial quanto e ponto final! O ouçam com mais atenção e percebam.
Herbert Viana é realmente um excelente letrista, outras músicas que gosto muito são: Lanterna dos Afogados, Caleidoscópio, Quase Um Segundo, Se eu Não te Amasse Tanto Assim e Nada por Mim.
ResponderExcluirsó um comentário: Djavan desmentiu esse boato que a música Flor de lis tem , sobre o parto.
ResponderExcluirDe fato Djavan desmentiu. Contudo o teor da letra, mesmo que ficcional, continua denso. Assim quem a ouve sem a devida atenção, mais levado pelo ritmo da música, não percebe a grandeza da letra.
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