Carlos
Alexandre da Silva Rocha nasceu em
Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências
Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o
livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do
leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias
humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado
em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “O bandido misterioso”:
Ele se aproximou dela, usava terno preto gravata
cinza, bigodinho aparado e escovado à moda da década de quarenta, além dos
cabelos penteados para trás empapados de gel, afinal ele era um retrospectivo.
Fumava um charuto, parecia que era cubano, e a cada baforada segurava-o com o
indicador e o polegar com a elegância de um Don Corleone. Perguntou se podia
assentar-se ao seu lado, ela disse que sim, acrescentando o fato de que a praça
é pública.
Ele sentou e disse-lhe:
– Cara dama, sinto informar o teu infortúnio, mas
isto é um assalto!
Antes que ela pudesse demonstrar qualquer reação
contra o ato ignóbil, ele mostrou, dentro do seu bolso da calça, um trinta e
oito prateado. Sem reação, começou a chorar. Ele como um gentleman sacou
um lenço alvo para que ela enxugasse as lágrimas que teimavam em cair no chão
sujo da praça.
– Obrigada, disse ela disfarçando um sorriso e
pegando o lenço, achando que era muito gentil de sua parte. Ele, por sua vez,
retrucou que era um prazer poder servi-la.
O larápio tenta explicar o motivo de sua prática fora
da lei:
– A vida está difícil e se é pra roubar que seja em
alto estilo, retruca ele.
Ela retira a aliança grossa dos cinco anos de
casamento, deixando uma marca branca e funda em seu dedo. Sente frio, ele, como
um cavaleiro, tira o paletó e a leva para tomar um táxi.
– O mundo está muito violento para uma delicada
dama, acrescenta ele soltando grossas colunas de fumaça para o ar.
Paga ao taxista com o dinheiro espoliado. Ela parte
sem aliança, dinheiro, cordão e o relógio oriente que ela levava no pulso,
apenas enrolada no cheiroso paletó Armani de seu curioso assaltante.
Em sua casa seu adiposo marido assistia TV, seu
time do coração estava nas quartas de final, nem reparou que ela estava de
paletó, muito menos que havia chegado em casa. Ela sentou-se à mesa de frente
para a geladeira, pensava no gentleman que a assaltara, nos seus modos
gentis e no seu jeito encantador que os homens esqueceram.
Pensa em procurá-lo. Há sempre uma chance de ser
feliz, coisa que não é com o atual marido. A gota d’água para que ela tomasse
essa decisão extrema foi quando seu marido busca uma cerveja e a metade de seu
traseiro cabeludo e branquelo estava a aparecer, o vulgo cofrinho.
– Assim não dá, fala consigo mesma.
Juntou todas as suas roupas numa trouxa e atirou-se
à rua, rumo ao banco de sua felicidade. Ficou lá, sentada naquele banco, sem
nunca sair durante dias, semanas, meses, até completarem anos. Emagreceu. Seus
olhos ficaram fundos, estava quase cadavérica. Não saia daquele banco de praça
nem para comer. Não saia por nada deste mundo, ele nunca aparecia!
Quando estava para morrer, eis que surge a silhueta
indefinida de um homem. Seu coração disparou, só podia ser ele para tomá-la em
seus braços e amá-la no fim de sua vida. Não era o bandido misterioso. Era o seu
marido... Teve uma desgostosa morte.
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