Quentin Tarantino homenageia o faroeste em 'Django Livre'
Indicado a cinco estatuetas do Oscar, longa traz o velho faroeste com pegada de cultura pop
Em sua excelente filmografia, Quentin Tarantino nunca escondeu suas referências. Pelo contrário. Em todos seus filmes, é possível resgatar homenagens diretas a diretores e gêneros que o cineasta cresceu admirando. Após incursões recentes pelos filmes de kung-fu ("Kill Bill") e pela Segunda Guerra ("Bastardos Inglórios"), o diretor finalmente chega aos "spaghetti westerns" em "Django Livre", que estreia sexta-feira no Estado.
O roteiro original, indicado ao Oscar e assinado pelo próprio Tarantino, traz Jamie Foxx como Django, um ex-escravo que, após ser libertado pelo caçador de recompensas alemão King Schultz (Christoph Waltz, indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante), inicia sua jornada para encontrar e libertar sua esposa Broomhilda, uma escrava com nome de princesa alemã. No caminho, Django se torna também um caçador de recompensas e aproveita os ensinamentos de seu mentor para se vingar de escravagistas.
A violenta jornada e a transformação de Django ao longo das quase três horas de filme conferem aspectos épicos ao longa. Não são apenas os escravagistas brancos que são confrontados, mas toda a cultura do Sul dos Estados Unidos nos anos que precederam a Guerra de Secessão (1861-1865). Naquele cenário, um negro montado em um cavalo configurava uma grande transgressão até mesmo para outros negros.
No papel originalmente pensado para Will Smith, Jamie Foxx se sai
muito bem nas cenas de ação. 'Django Livre' tem cinco indicações ao Oscar 2013
(Melhor Filme, fotografia, Edição de Som, Ator Coadjuvante e Roteiro Original)
Estilo
"Django Livre" funciona como uma ótima homenagem aos faroestes dos italianos Sergio Leone ("Por um Punhado de Dólares") e Sergio Corbucci ("Django"). Estão presentes as características marcantes do gênero, como os zooms forçados (para enfocar expressões ou personagens), os cenários contemplativos, além, é claro, dos duelos de pistolas. A trilha sonora conta com três canções originais de Ennio Morricone, compositor famoso por suas trilhas de faroestes.
A presença de Morricone, intencionalmente, contrasta com o resto da trilha, que passeia por hip hop, blues e jazz, todos gêneros fundamentais na formação da cultura negra estadunidense.
Também fundamentais para o filme são as presenças de Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e a trupe de coadjuvantes que eles lideram. Pela primeira vez em muito tempo, DiCaprio não é o protagonista do filme; isso, entanto, não impede que ele roube a cena como o cruel aristocrata Calvin Candie a partir da segunda metade do filme. Sua atuação, assim como as de Waltz e L. Jackson, acabam até ofuscando Jamie Foxx, apenas correto, mas que se sai bem nas violentas e bem coreografadas sequências de ação.
Mesmo que não possua a estrutura narrativa impecável encontrada em outros filmes do diretor, "Django Livre" diverte como poucos. Tarantino brinca com as sombras como Kubric, filma quedas como Leone e mistura gêneros como só ele sabe fazer. "Django Livre" passeia com facilidade entre o faroeste, o "blaxploitation" (filmes produzidos e protagonizados por atores negros nos anos 1970), a ação e a comédia sem amenizar a crueldade de seu tema principal.
Django Livre
Faroeste. (Django Unchained, EUA, 2012). Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson, Kerry Washington, James Remar, Walton Goggins, Don Johnson. Duração: 165 min.
Cotação: *****
Estreia sexta-feira.
Fonte: A Gazeta
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