Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu
em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como
influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei
Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se
coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa
sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos
Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô
crônico (www.pierrocronico.blogspot.com).
Confira, abaixo, a crônica “Ultimate”:
Quem
hoje em dia pode ganhar o seu dinheiro honestamente? É... a vida anda muito
difícil... Pra nós então nem se fala. Malandro tá ferrado quando acha que vai
se dar bem. Sempre se encontra doidão querendo dar uma de Minotauro. Porra!
Assim só nos fode. Nessa profissão de bandido, que já não tem direito a seguro
trabalhista nenhum, ainda temos que enfrentar Jack Chan? Pô, meu, o bagulho é
doido!
Ontem
mesmo fui surrado por um frangote de quinze anos. De quinze anos... Nessa idade
tem que estar brincando de carrinho, de bolinha de gude, empinando papagaio,
mas não surrando os outros. Cadê o respeito aos mais velhos? Meu filho, vá
brincar de bafo, trocar figurinha...
Sou
trabalhador, tenho filhos e mulheres pra sustentar... Tava atrás do prejuízo!
Sou ladrão, um pai de família e, por isso, mereço respeito.
Nessa
mania doida de UFC, você vai tentar ganhar um e os maluco doido vem com mata
leão, muay thay e o caralho a quatro, a cinco... eu gostava da parada quando
todo mundo era manso, homens-cordeiro, na mansitude dos trejeitos. Era só
enfiar a mão debaixo da camisa que passava tudo, celular, dinheiro, o
redondo...
Agora
tu chega e se lasca, leva porrada. Te ganham no grito, te amarram com faixa de
Jiu jitsu amarela. Porra, ainda dei sorte, imagina se o moleque fosse faixa
preta, estaria fodido.
É
bom quando se vê o lado bom das coisas. Fica manso e feliz. Estou preso, mas
logo sairei, esse é o lado bom, graças a Deus Pai que retira toda injustiça e
liberta de todas as algemas da opressão e da injustiça. Nossa, acho que vou
abrir uma igreja, é a minha verdadeira vocação!
Minha
cara tá inchada, a roxidão por todo corpo. Surrado, lábio pocado de porrada. A
vida... Será que é bonita? Será feia como meus lábios feridos,
estropiados, feia como minha cara batida, surrada, destruída? Da vida eu não
sei, mas de uma coisa eu tenho certeza: as crianças não são como as de
antigamente.
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