Juliano Nogueira é publicitário, músico e apresentador do Programa Inspira. Confira, abaixo, a entrevista com o artista:
1 – Olá, Juliano! Primeiramente, como as artes entraram em sua vida?
Resposta: Acho que naturalmente. Minha mãe dava aula de orgão, daqueles com dois teclados e pedaleiras antigões, sabe? Mas teve um dia em especial que me catapultou a me interessar mais, quando andava no Fusca do meu tio e rolava uma fita K7 com um som que me deixou louco. Era a fita do álbum “A Hard Days Nights”, dos Beatles. Acho que furei de tanto ouvir. Uns dias depois ele disse que eu tinha que ouvir outras coisas e começou a soltar sua coleção de albuns de rock com todos os estilos. Então, se começou de alguma forma, foi pela música.
2 – Quando mais jovem o que você costumava ler/ouvir/ver? O que você indica como boa cultura aos jovens de hoje?
Resposta: Sempre preferi a música e ela me deixou mais sensível para outros tipos de arte, como o cinema e, claro, aos comerciais que via na TV ou ouvia em rádio, que futuramente seria minha profissão. Sempre fui muito fã de humor, adorava qualquer tipo de expressão humorística, Trapalhões, Chico Anysio, Jô Soares, Djalma Jorge Show, da Jovem Pan, e, claro, a que mais me marcou, a TV Pirata. Creio que tanto a música e o humor principalmente. Hoje tem muita coisa boa, mas aconselho olhar algumas coisas do passado. Eu era fã de Monty Phyton, dos Beatles e eles não fizeram parte da minha geração. Para entender o atual, consulte o antigo, é uma dica.
3 – Sua primeira banda foi o Mr. Roll, uma galera que tocava canções dos anos 60/70, não é? Podemos perceber que atualmente várias bandas tem bebido dessa fonte (músicas dos anos 60/70). Por que você acha que tal fenômeno tem acontecido?
Resposta: No Mr. Roll e depois com as outras bandas, tive a oportunidade de conhecer alguns artistas como Tom Zé, Barão Vermelho, Cidade Negra, Titãs, Marcelo Nova, FUGAZI, Raimundos, Pato Fu, entre outros, e todos eles bebem dessa fonte ou buscam referências por lá. Creio que música quando é boa é atemporal, agora mesmo estava ouvindo uma rádio dos anos 90 da Inglaterra e quanta coisa boa que eu nem conhecia tive a oportunidade de conhecer. Certamente, daqui alguns anos veremos mais e mais bandas usando letras no estilo do Chorão, por exemplo. O que acho é que é muito importante dar valor a coisas boas e são muitas, em todas as gerações.
4 – Após o Mr. Roll, você foi pro ‘Bando de Conga’. Como é que foi essa mudança “de camisa”? A banda começou como uma brincadeira e depois acabou se tornando uma coisa séria, não foi? Conte-nos mais acerca deste projeto. O ‘Bando de Conga’ chegou a ter algum registro? (cd ou dvd). A banda continua na ativa?
Resposta: Não ouve mudança, o Bando de Conga simplesmente aconteceu e começou como uma brincadeira. Dei um violão de presente de aniversário para o Victor Mazzei, a gente trabalhava junto num minúsculo escritório no centro de Vitória e ele começou a arranhar algumas notinhas como todo mundo que começa faz e com isso pela veia humorística dele, foi inevitável surgirem algumas paródias. Uma certa hora peguei o violão e disse: “vou fazer uma música pra te sacanear” e aí saiu a primeira frase musical da banda “Vitão, não é o Gepetto não, ele bem que queria ser aquele velho feliz, mas o Vitão é o Pinóquio, por causa do seu nariz” (em referência a bela napa que ele possuiu). Claro, era bobo e tolo, mas caímos na gargalhada, e ele mais o Genison Kobe começaram a retalhação fazendo músicas um sacaneando o outro, era um Bulliyng permitido. Resolvemos gravar só para nós, isso bem antes das redes sociais funcionarem de verdade, mandamos para alguns amigos próximos com muita vergonha e eles, para nosso espanto, amaram e exigiram um show. Marcamos dois, fizemos e não paramos mais. Lançamos o cd “Bandália” totalmente beneficinte em 2005 e um DVD ao vivo em 2006. Fizemos centenas de shows e paramos com os palcos em 2011. Hoje, temos nossa fanpage onde mantemos vivas as bobagens e nos divertimos muito. Quem sabe uma dia não rola um show especial?
5 – Tempos depois, você foi convidado a integrar a Vix Beatles. Queria que você nos contasse como foi essa transição. Como é tocar músicas universais num tempo de coisas tão voláteis?
Resposta: É fácil. Tocar Beatles, no sentido que você perguntou, é muito fácil, é aceitação imediata. O mais complicado pra mim foi ter que largar de lado meu lado mais compositor, tanto do Mr. Roll como do Bando de Conga para ser um músico mais técnico. Penei bastante, ainda mais que os caras da Vix Beatles são músicos de uma capacidade técnica absurda, mas creio que somei a banda justamente com esse meu lado mais marginal dos palcos, e tocar Beatles é uma realização.
6 – Como é a rotina de apresentações? Qual música que não pode faltar no set list de vocês? Os Beatles realmente são eternos?
Resposta: Não existe nada sem Beatles e ponto final. Goste ou não, é impossível não ter essa referência. Atualmente, a banda passa por uma reconstrução já que temos mais um integrante, Vitor Abaurre e tanto o Ricardo Martinelli e Thiago Zechinelli acabaram de ser papais, então, estamos preparando novidades que sempre atualizamos em nossa fanpage. Se não tiver “Twist And Shout” é morte.
7 – Aliás, deixa eu te fazer uma pergunta super simples: O que é o Beatles pra você?
Resposta: Fiz-me essa pergunta quando fiquei de frente para o Abbey Road Studios e cheguei a conclusão que nem eles saberiam responder.
8 - Você é publicitário há muito tempo. As artes influenciaram na sua escolha de profissão? Fale-nos da sua carreira: as dificuldades, as vivências, os prazeres.
Resposta: Sempre quis ser publicitário, mas aconteceu por acaso. Tinha 17 anos quando uma equipe de show automobilístico (que sou louco) da Volkswagen esteve na Praia da Costa e corri lá com uma camera VHS e na cara de pau filmei e entrevistei os caras, andei em duas rodas, saltei no fogo e tudo isso filmando. A agência da Volks local ficou sabendo, pediu minhas filmagens e sabe-se lá porque me deram a oportunidade de fazer um estágio de um mês conhecendo todos os setores da área de comunicação. Fiz, percebi que tinha o jeito e fui contratado. Isso está fazendo 20 anos agora em 2013, de lá pra cá tive minha própria agência por mais de 14 anos, alguns prêmios locais e nacionais e que não vou citar para não ser mais um publicitário falando de prêmios. Mas o que mais gostaria de falar é que na propaganda aprendi que ser criativo é só uma coisinha. O publicitário assim como todas as áreas, tem que ser um profissional dedicado, um “ralador”, um batalhador. É um erro o publicitário que se apega ao fato de ser criativo e se basta. Em resumo, propaganda para mim é trabalho e levo muito a sério.
9 – Subtende-se que os publicitários estão sempre à frente dos outros no que tange a saber sobre gostos e escolhas. Você já usou sua porção publicitário para te auxiliar na sua porção artística?
Resposta: Sempre. O Bando de Conga é o maior exemplo. Jogávamos de lado as técnicas musicais, por muitas vezes, os padrões de composições, de letras, para justamente mostrar o improvável. Sempre foi delicioso criar para o Bando de Conga, era como criar uma peça publicitária. Quanto ao estar a frente não vejo bem assim, o bom publicitário é um bom observador. Temos sempre que olhar as coisas por fora, não podemos ser radicais demais, ser fanáticos de mais por uma coisa. O publicitário precisa estar aberto até para o errado.
10 – Inclusive, se você pudesse bolar uma propaganda para divulgar as artes em geral do estado como seria?
Resposta: “Temos um papel em branco, pintem.”
11 – Falando em arte no estado, antenado que você é, como você avalia as produções artísticas feitas no Espírito Santo? Somos um bom celeiro artístico?
Resposta: Sempre fomos. Como trabalhei em Curitiba, São Paulo e Rio em algumas oportunidades pude ver que tanto artisticamente como na minha área da comunicação, não devemos nada a ninguém. Acho que de uns anos para cá até pela aumento de pessoas, assim como eu que vieram de fora, o “novo” povo capixaba tem dado mais valor as coisas daqui, mas te digo que há 20 anos atrás era muito complicado você ser ao menos convidado a dar uma entrevista como essa que estou dando para vocês agora. Além dessa mudança no perfil da população, o que nos atrasa é falta de apoio público. Quando tem é para alguns, ainda vivemos num estado dominado por poucos, mas a tendência é isso ir mudando, assim eu espero.
12 – O que você tem ouvido atualmente? Quem você nos indica como boa música na certa?
Resposta: Tem alguns anos que não me fecho mais. Se gosto de algo procuro ouvir, mas o mundo dá voltas e eu acabo sempre buscando minhas referências básicas. Uma banda que sempre indico para todo mundo é o Supergrass, um power trio super criativo com belas melodias, baixo marcante e bom humor. Curto muito!
13 – Falando de rock ‘n’ roll. Passamos mais uma vez por uma entre safra de bandas e ou artistas bons. Será que dessa vez o rock nacional morreu de verdade? O quanto a onda do ‘politicamente correto’ tem atrapalhado essa molecada a mostrar seu verdadeiro valor? É possível, guardada suas devidas proporções, claro, termos um novo Raul Seixas ou Renato Russo, ou isso acabou pra sempre?
Resposta: Eu não gosto de quem se limita e se rotula e hoje em dia tá complicado ser algo diferente porque todo mundo tem uma arma na mão chamada redes sociais e como serial killer´s atiram a esmo sem ao menos saberem o que falam. Sempre que comento isso sou zombado, mas como vocês me deram a oportunidade, aí vai: Pó rque detonam tando o RESTART, por exemplo? Calma, não estou dizendo que gosto, mas raciocina comigo: Uns jovens com cabelos estranhos vestindo roupas diferentes, compondo suas próprias músicas e arrebatanto milhões de gatinhas. Acho que já vi isso nos anos 60 com uma tal banda de Liverpool, ou não? Os mais (bobos) radicais vão querer me matar agora, mas não estou comparando, só dizendo que há 50 anos atrás eles certamente enfrentaram as mesmas barreiras e preconceitos, mas hoje isso acontece de forma instantânea e sem base sólida na maioria das vezes. Fiz questão de ver um show da banda e o vocalista, “@seiláquem” toca um baixão igual ao meu, que deve pesar o dobro dele, cantando música própria para um público de 50 mil pessoas alucinadas por eles! Oras, quem não queria ter o mesmo? Outro dia assisti o documentário de Justin Bieber e na boa, bati palmas em pé para o moleque! O cara canta, dança, compõe, toca e tudo isso desde os 6 anos de idade! Tinha um tal de Michael Jackson que não fez algo semelhante? Será, então, que esses não sãos nossos Raul´s, nossos Renato´s ? O mesmo posso falar agora do Chorão, por conta da morte dele comecei a ouvir a discografia da banda para minha coluna. Não curto muito, mas ouvi de coração aberto e vi que as letras deles são simplesmente fantásticas. Me lembra muito a maneira de compor do Renato Russo, sem rimas, e falando de amor ou problemas sociais. Ou seja, tínhamos aqui entre nós um cara como eles e simplesmente não nos dávamos o valor necessário, eu mesmo fiz isso com o Chorão. Não respeito e não leio nada que seja pejorativo a artistas que estão fazendo seu trabalho dignamente, não significa que gosto, mas respeito.
14 – Você colabora com o Outros 300 com o ‘Discografia em trânsito’ que, aliás, faz muito sucesso. Isso é uma mostra que o nosso público tem cada vez gostado mais do antigo?
Resposta: Recentemente, minha coluna falou sobre o LolaPalloza desse ano e lá mais da metade das bandas eu nunca havia ouvido falar, mesmo assim vi tudo com calma e curti muita coisa. O novo sempre vem, não adianta, mas o antigo tem que ser valorizado sempre.
15 – Inclusive, falando de internet... Você acha que a rede é benéfica ou maléfica para as artes? É possível vivermos de divulgação artística somente virtual?
Resposta: Uma coisa não exclui a outra, o que vejo é que as redes estão criando uma série de comentaristas sem base e pior que isso, um monte pessoas mal educadas e ofensivas que covardemente se escondem atrás de seus computadores apontando e ofendendo os outros, tanto nas artes, religião e principalmente nos esportes (futebol). É lamentável ver pessoas que admiro se tornarem ridículos por conta de uma derrota do time adversário ou rotulando esse ou aquele artista. Todo fanatismo é limitado. Fora isso sim, é possível sim, quando é bem usada. É um caminho sem volta, mas que deve ser melhor utilizada. Por ser algo novo, as pessoas ainda estão aprendendo que estamos conectados e que respeitar o time de um, a banda do outro é importante. Não falo de humor, brincadeiras sadias, estou falando de baixaria mesmo. Hoje, ao publicar algo sério, um trabalho artístico ou mesmo publicitário estamos cada vez mais nos expondo e claro abertos a críticas e a essas babaquises de pessoas covardes e limitadas, mas acredito e dou valor a quem sabe criticar, bronquear, “gritar”, se revoltar com qualidade, conteúdo e respeito da mesma forma dos que elogiam seu trabalho. A questão é que bom senso ainda está longe da realidade e digo até que as classes mais altas são decepcionantes nesse quesito. Mas mudará, vai melhorar, tenho certeza.
16 – Atualmente, você e o professor e publicitário Victor Mazzei apresentam o programa o ‘Inspira’. Fale-nos mais acerca dele.
Resposta: Eu penso que o Programa Inspira é a nossa entrada na maturidade. Nele, tanto eu como Mazzei estamos colocando à público nossas experiências e utilizando isso ao entrevistar nossos convidados. O objetivo do programa, é claro, valorizar o lado criativo do entrevistado, mas sempre buscamos deixar ele a vontade para poder falar do que ninguém vê. Queremos conhecer os bastidores da pessoa, os processos dela para produzir e estamos muito felizes com o retorno que temos tido. O que mais me agrada no programa é não ter firulas literalmente. Sem cenário, sem corte, tudo feito no pau e o mais inusitado é ser em preto e branco. Ao contrario de tudo que falamos nessa entrevista a proposta do programa é simples e objetiva, sem mega produções que no final das contas iriam tirar o valor da palavra do entrevistado. O que queremos é que as pessoas mais ouçam do que vejam, como se fosse um programa de rádio. Ou seja, em tempos de tecnologia a mil criamos um programa para se apreciar como nos velhos tempos no estilo “Radio, someone still love you”.
17 – Quais são os próximos projetos de Juliano Nogueira. O que teremos de novidade?
Resposta: Tem muita lenha para ser queimada. Aguardem.
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Confira o Programa “Inspira” com Amaro Lima
Direção e apresentação: Juliano Nogueira e Victor Mazzei
Uma produção da Agência Integrada FAESA e TV FAESA.
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Twitter: @inspirashow
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