A série norte-americana, baseada
na epopéia do vulto histórico das revoluções servis, Espartaco, apesar de seu
caráter hollybloodyano, configura-se como uma paródia do status quo pós-moderno. O estado democrático com todos os seus vícios, descritos
na própria "República" de Platão, mantém o mesmo esqueleto da
República Romana em nossa sociedade. Ou seja, o povo pensa que tem escolha e
que seus governantes são legítimos, quando, no fundo, de tudo o que existe é uma
meticulosa rede de intrigas e corrupções.
Para
manter o controle da massa, especialmente da classe média (cidadãos romanos que
assistiam aos jogos nas arenas) os governantes promoviam espetáculos, a partir
dos quais manipulavam a vontade dos cidadãos, vinculando-a a suas decisões.
Com isso, faziam parecer que a decisão era do povo. Enquanto isso, os mais
miseráveis, os escravos, eram obrigados a lutar na arena, a servir de acessórios
sexuais, entre outros tipos de humilhações e maus tratos. E hoje em dia? Bom, atualmente todos os cidadãos
votam. Certo? Até mesmo os escravos, pelo menos no Império Norte-Americano,
digo, no mundo capitalista.
Mas pensemos bem no que
acontece antes do voto. Antes do voto temos o futebol, que é num estádio, que
se parece com uma arena. Temos o BBB, em que os escravos da mídia, os brothers,
digladiavam-se por glória, fama e moedas, o que se parece com uma arena. Temos
os escândalos políticos, em que oposição acusa governo e vice-versa, o que
parece uma arena, temos a violência urbana em que traficantes lutam pelo
controle de territórios; a polícia se corrompe; políticos usam o quadro como
lema de campanha, a luta contra o crime; a classe média se amedontra, mas
assiste aos noticiários dia após dia impressionando-se com a veiculação da
violência e atentando para os noticiários mais sanguinolentos, o que se
assemelha à arena. Temos as disputas internacionais em que a guerra ao terror e
a luta pela liberdade serve de desculpa para ataques cujo objetivo mais agudo é
a manutenção dos interesses imperialistas das potências econômicas, digamos que
é uma arena global. Agora tá na moda o UFC, vejam só! Bom, esse é
descaradamente uma arena. Ah! É claro. Temos o carnaval, que provém de
espetáculos circenses, que vem de onde? Ah!? Desculpa. Isso era para ser a
sinopse de um seriado. Bom, nunca fui bom nisso mesmo.
Mas, enfim, cheguemos às
eleições: Vamos pensar apenas por cinco minutos, não custa muito e nem doí.
Primeiro: quem organiza e controla o sistema eleitoral é a elite; você acha
realmente que o resultado está na mão do povo?! Não seria fácil fraudar o
sistema sem ser descoberto?! Você consegue contar milhões de votos pra ir lá
conferir (Nessa hora me veio à mente um ateu que acredita no sistema eleitoral,
não sei por quê)?! Segundo: mesmo que não haja fraude no sistema eleitoral,
ainda assim não é a vontade do povo que decide a eleição, mas a emoção do povo
sendo controlada pelo marketing de campanha. Talvez a estreia pós-moderna desse
fenômeno no Brasil tenha ocorrido na eleição do candidato "mais
bonitinho" em 1990, Fernando Collor. O então derrotado Lula só conseguiu
êxito quando adotou a mesma estratégia, ou seja, aplicou dinheiro, cuja origem
é alvo de investigação, em sua campanha. Em Vitória, temos o candidato eleito,
Luciano, que apesar de prometer mudança (risos) teme um rico marketing de
campanha e está explicitamente ligado a grupos empresariais e políticos que já
há muito tempo tem controlado o estado de forma mesquinha atrapalhando o seu
pleno desenvolvimento em nome de seus interesses. Já foi longe demais,ou perto
demais, João, volta pra sinopse, ou seja lá o que isso for (risos). Mas, antes de
voltar à série, falta o terceiro tópico: Imaginemos que num mundo quase ideal
não haja controle do resultado das eleições, algumas pessoas realmente se deem
ao trabalho de investigar a vida política do candidato e consigam atestar sua
integridade, ou seja, imaginemos que realmente exista o tal ficha limpa e que
ele milagrosamente seja eleito; Agora pense numa ovelhinha raquítica no meio de
umas dezenas de lobos sadios e astutos. Bom, vamos voltar pra série que eu acho
já muito claro, ou não, foda-se!
Quem quiser um resumo da série
procure nos spoillers espalhados pela internet ou assista-a, vale mesmo a pena.
Pela internet mesmo dá pra ver, e não é ilegal, olha aqui. Vou partir então do pressuposto de que o leitor (se é que
alguém vai ler essa bagunça) já conferiu o resumo na Wikipedia ou assistiu.
Notem
que a primeira forma de o império escravizar os trácios é oferecendo aliança
contra um exército inimigo que ameaçava ambos, é claro que junto com a proteção
deveria haver o juramento de fidelidade ao império; Imaginem o que pagamos em
troca de proteção contra os chineses, contra os fundamentalistas islâmicos,
contra os coreanos, entre outras ameaças terroristas. Mas, Spartacus não era
bobo e quando viu que o buraco era mais embaixo rebelou-se. Em troca da
rebelião obteve a escravidão e sentença de morte. Como ficaria vexatório para o Império matar um cara que derrotou quatro na arena, transformaram-no em um
gladiador. Mas para dominá-lo mesmo tiveram que mexer com sua mente, tirando
seu sonho de rever sua esposa, dando a ele fama e glória, e fazendo-o acreditar
no ideal da "irmandade" é tipo um "vida loka" dos
gladiadores.
Tudo vai de acordo com o plano
quando o protagonista é obrigado a matar seu melhor amigo por causa dos
caprichos de um playboyzinho romano. Segue-se a descoberta de que sua esposa
foi morta pelo seu Dominus e aí Spartacus liberta sua mente. Como é um cara
influente, liberta também a mente de seus companheiros, a partir daí temos a
revolução dos escravos.
Vamos
parar de contar a história e partir para o ponto alto da série: o ataque à
arena. Um ponto importante a ser observado nesse episódio é que para atingir à
elite na arena os escravos tiveram que antes causar pânico na classe média
presente: colocaram fogo na arquibancada, no meio do tumulto causado
conseguiram libertar seus amigos que estavam prestes a serem executados.
A
segunda temporada da série (que pulo hein!) termina com a promessa de que
outros exércitos virão e que a rebelião um dia seria derrotada (o que, de fato, ocorreu
na História), mas não deixaria de haver um recado para os poderosos: vocês
pegaram pesado e agora sofrem as consequências. Nas palavras de Racionais MCs:
"A senzala avisou, mauricinho hoje paga o preço".
De fato, a classe média por ser
eixo social do sistema acaba servindo de elo entre a reação/servidão dos mais
pobres e o domínio/temor dos mais ricos. Vale lembrar que o império teve o seu
fim, mas não o seu legado. Estamos contemplando a história se repetindo (nada
há de novo debaixo do sol) e o império, pelas previsões platônicas, está
próximo ao colapso, pois seus vícios chegam ao extremo. Mas como um escravo de
hoje pode libertar-se? Como libertar sua mente? Como sair da Matrix? (ops! é
outra história) Bom, o sistema não vai facilitar. Entretanto, ele deixa brechas
(as redes sociais são um bom começo...). Mas ai o estilo de vida confortável da
pós-modernidade, ai o consumismo, a alienação. Que esperança teremos?!
Tá!
Finalmente, assistam à série. Tem bastante sangue, nudez, emoção, testosterona
e um pouquinho do aprendizado moralizante dos heróis hollywoodyanos.
Tudo
isso me fez lembrar da música que mais gosto do Lobão (Vídeo abaixo)
(Texto
de João Carlos Barcelos Ramos)
João Carlos Barcelos Ramos é graduado em Letras Português pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós graduado e Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade Ateneu. Atua como professor de Língua Portuguesa na rede estadual de educação do Espírito Santo. Posta seus poemas, pensamentos, entre outros, em seu blog http://muralsarauvaral.blogspot.com.br/.
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