A nova moda no cenário musical nacional, o funk ostentação também chegou ao estado. Confira uma matéria com vários garotos e garotas que estão tentando "ostentar" por aqui também.
Por Luísa Torre
Espírito Santo também tem funk ostentação
MCs chegam a faturar R$ 3 mil por apresentação no Estado
Funk, bebida, mulheres, carros, motos, cordão de ouro e muita curtição. Essas são alguns dos ingredientes que não podem faltar na vida de um MC de funk ostentação. Mas não é só no Rio e em São Paulo que se fala de luxo e riqueza nas letras de funk. No Espírito Santo, o gênero conquista cada vez mais adeptos e hoje já são vários os MCs que vivem do estilo. Por cada show, eles chegam a receber até R$ 3 mil dentro do Estado.
Muita gente que cantava funk realidade – sobre as dificuldades da vida na favela – mudou para a ostentação por causa da moda e da curtição característica do estilo. O MC Sturt, nome artístico de Romário Mendes, 19 anos, é um deles. Em suas músicas, motos, mulheres, joias e grana são palavras-chave.
“Tenho três músicas de funk ostentação e faço uma média de três shows por mês. Estou começando”, diz. “MC de funk ostentação tem que ter relógio da moda, cordão de ouro, roupa maneira. Mas o importante é curtir com a galera, na humildade”.
O estilo é parte muito importante na carreira de um MC de funk ostentação. Mostrar carros de luxo, lanchas e jet skis nos videoclipes, por exemplo, além de usar roupa de marca, relógio e cordão dourados e tênis caro nos bailes são alguns dos itens necessários para estar nesse mundo. Tudo com o objetivo de chamar a atenção das mulheres.
“Funk ostentação é paixão, é a vontade de ter as coisas boas. Ter roupa de marca, cordão, relógio e mostrar no camarote da balada. Só o cordão do cara já faz a paixão das meninas”, destaca Alife Ferreira, o MC Alife NH, 18.
Na música “Sapekinha”, que está nas rádios do Rio, de Minas Gerais e do Espírito Santo, Alife canta: “Novinha, eu já tô ligado, eu já sei o que você quer: meu Camaro, meu Rolex, você quer andar na Santa Fe”, em referência a modelos caros de carros.
A ostentação é o que o mercado de agora pede, diz MC DG, 18, que canta funk realidade, mas se veste no estilo ostentação. “Comecei na comunidade e hoje faço cinco shows por mês, me sustento com o funk”.
A dama da ostentação capixaba
Uma das poucas mulheres no funk ostentação no Espírito Santo, Patrícia Alves, 25, mais conhecida como MC Malvada – apelido que herdou dos tempos em que jogava “Counter Strike” em lan houses –, largou a música da igreja que frequentava e se entregou ao funk, cenário em que se destacou com a nova “Vida de Magnata”.
Hoje, faz cerca de seis shows por mês. “Coloquei um pouco de ostentação na minha música, tenho meu carro, gosto de comprar roupa e estou sempre no camarote. Mas passo a mensagem de não invejar. Quero dizer que, se hoje você tem onde ostentar, é porque você foi pelo caminho certo”.
“AQUI, DURANTE A SEMANA, A GENTE SÓ FREQUENTA SHOPPING, PORTANDO AS MELHORES ROUPAS PRA OSTENTAR NO CAMAROTE” Trecho de “Vida de Magnata”, da MC Malvada.
Um MC de funk não canta sozinho. Por trás deles, nos shows, estão os DJs, e, no som de estúdio, os produtores musicais e empresários. Mas quem está nos bastidores também aproveita a fama e a vida boa dos artistas. É o que afirma o empresário Raí de Andrade, dono do Studio Chefão, que cuida dos negócios de quatro artistas. “Dá para curtir a fama dos MCs. Ficamos no camarote e aproveitamos todo o luxo e a curtição”.
O produtor musical e DJ Jhonjhon, 21, confirma. “O MC solta a voz e nós pensamos a batida, o arranjo. Mas fazemos tudo junto com os MCs. A fama é a parte mais legal, mas quem leva o melhor é o MC e o DJ que toca com ele. Eu faço produção por gosto mesmo”, conta.
Um cordão de ouro, um relógio e boné da moda também não podem faltar para o DJ Xandy da Serra, que, com apenas 15 anos, coloca som para os MCs nos bailes e festas. “Tem que usar roupa que chama a atenção, que está na moda. A mulherada chega junto”, entrega.
Ex-militar e agora dono de estúdio que produz artistas, o Palladynus DJ conta que nem só os MCs tiram sua renda do funk. “Uma produção minha custa em torno de R$ 2 mil. E trabalho muito. Já lancei mais de 40 produções em dois anos e umas 30 foram para as rádios”.
Ele, que tem dois artistas e está em vias de fechar com um terceiro, contou que, além de produzir as músicas, também prepara os artistas para o mercado. “O artista de funk ostentação vive de imagem. Ele tem que ter joias, boné, tênis da moda, cordão de ouro. O artista tem que ter tanto ou mais estilo que talento”.
Com turnê marcada por São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre e muitos outros bailes fora do Estado, MC Vitinho é Febre pode dizer que está vivendo o sonho do funk ostentação. Com a música “Tropa do Moço” estourada, e a música “Nesse Verão” gravada com o carioca MC Koringa, Victor Calixto, nome de batismo do MC, 26 anos, conta que chega a fazer 15 bailes de quarta a domingo o que cobra, pelo menos, R$ 2 mil por aparição. “Estou comprando tudo que sempre quis, tem que aproveitar”.
No entanto, alguns empréstimos ajudam a bombar o visual. No clipe de seu maior sucesso, “Tropa do Moço”, há carrões e muito luxo. “Tem um Camaro, uma Infinity... é tudo de amigo. O cordão que uso no clipe tem meio quilo de ouro e 28 diamantes no crucifixo, e é de um amigo também”.
Segundo ele, a ostentação de suas letras é diferente: fala sobre batalhar para conquistar uma vida de luxo. “Tenho 15 anos de funk, canto desde dos 11. Cheguei a desistir por um tempo. Fui açougueiro, pizzaiolo, trabalhei em shopping. Mas um amigo meu me chamou para voltar a cantar”.
O primeiro funk ostentação de Vitinho foi “Os Brabos é que é Nóis”. Depois dela, veio “Tropa do Moço”. “A minha ostentação é consciente. Não falo só de ouro, carro e mulher, quero mostrar isso do ponto de vista de quem é humilde, do cara que veio de baixo e venceu”.
Para ele, cantor de funk ostentação tem que mostrar estilo único para merecer a fama. “Tenho relógio da moda, cordão, uso bastante roupa de marca e um tênis que vale R$ 1 mil. O MC tem que ter joia, relógio, roupa boa, e sempre estar com uma mulher bonita. A minha, aliás, é maravilhosa”, brincou.
Vitinho conta que está construindo uma casa. “Pretendo fazer uma mansão no meu quarteirão. Vou trocar meu carro para um Corolla, mas não saio do meu bairro”, diz ele, que vive em Jardim Marilândia, Vila Velha.
Hoje, Vitinho afirma que vive de funk. “Por mês, faço uma média de 15 a 20 bailes, só em Vitória. Se estiver fora, é uma média de 10 a 15 bailes por semana, de quarta a domingo. Em Vitória, a gente ganha uns R$ 2 mil para tocar de 20 a 25 minutos”.
Mas a humildade não pode ser perdida, ele atesta. “Tive uma surpresa na visita a Porto Alegre, não fazia ideia do meu sucesso. No primeiro baile, vi uma menina desmaiando para segurar em mim. Quase chorei com ela. Tem que continuar humilde. Mas estou vivendo tudo pelo que batalhei e sonhei”.
Conheça outros MCs
Luxo com a ajuda dos amigos
Há 15 anos no mundo do funk, Alisson Rodrigues da Silva, 28, mais conhecido como MC Zoião, decidiu cantar funk ostentação por causa da moda. Estourou com duas músicas: “Estilo Magnata” e “Meu Proceder”, as duas com videoclipe recheados de carrões, motos, lanchas, mulheres e dinheiro.
Ele contou que os carros, motos, lancha e até a casa dos clipes são todos de amigos e conhecidos. “Meu visual é ostentação, tenho relógio da moda, tênis, cordão banhado a ouro. A gente que faz show direto tem que chamar a atenção”.
Ostentação fortalece o rolezinho
Com apenas 13 anos, MC Dadi já canta sobre carrões e cordões de ouro em sua nova música “Ostentação é Meu Lema”. O MC, que se chama Richard Domingos, divide os vocais com o pai, MC Picapau, há 18 anos cantor de funk e quem influenciou o filho a começar no funk ostentação.
“Gosto de roupa de marca, uso cordão de prata, boné de marca e tênis também. Final de semana vou ao shopping com amigos dar um rolezinho. Por ser cantor de funk, as meninas dão mais moral. Elas gostam do meu estilo”, diz MC Dadi.
Retirado integralmente de A Gazeta
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