Jornalista e crítico musical de primeira linha, Nelson Motta volta ao mundo da literatura com um livro sobre... Futebol! Futebol? Sim. Nada mais propício em um ano de Copa do Mundo. Saiba mais lendo a matéria completa:
Por Luísa Torre
Nelson Motta fala sobre o novo livro que tem como tema o futebol
Em novo livro de resenha esportiva, Nelson Motta relembra "causos" e gols inesquecíveis de Copas e Olimpíadas que cobriu e ainda fala com exclusividade sobre o futebol nos tempos atuais
Jornalista há mais de 40 anos, Nelson Motta é nome de peso quando se fala em música e crítica musical. Com uma vasta experiência na área, ele não só trabalhou como jornalista, mas também como produtor e até como cantor e compositor.
Ainda falando de música, Nelson Motta também se aventurou na área literária. Após lançar três romances pop – “O Canto da Sereia” (2002), adaptado pela Globo em formato de minissérie no ano passado, “Bandidos e Mocinhas” (2004) e “Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo” (2006) – e um livro de contos, “Força Estranha” (2010), Motta se dedicou, em 2007, à biografia “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, que já saiu como blockbuster, superando o best seller autobiográfico “Noites Tropicais”, de 2000, onde conta as histórias da música a partir de sua vivência.
A biografia de Tim Maia também ganhou adaptação de imenso sucesso para o teatro e, neste ano, chega aos cinemas do país, com Babu Santana no papel do ícone do soul funk brasuca.
Além de produtor musical, compositor, jornalista e escritor, Nelson Motta também é apaixonado por futebol. Animado pela onda que cresce no Brasil às vésperas da Copa do Mundo, ele acaba de reunir crônicas que escreveu durante a cobertura de sete mundiais – incluindo o triunfo do Brasil em 1970 –, duas Olimpíadas e um Pan-Americano em um novo livro, “Resenha Esportiva”, em que conta com bom humor os dramas e as comédias que testemunhou dentro e fora de campo.
Além de relembrar vitórias e derrotas, passes e gols que ficaram marcados na história do futebol, o autor mergulha nas curiosidades de cada país que sediou um Mundial e acompanha as aventuras dos torcedores brasileiros em terras estrangeiras. Com maestria narrativa, Nelson Motta transporta o leitor para dentro dos estádios em que esteve. Em um papo sincero sobre futebol, Motta contou com exclusividade casos curiosos que viveu.
Você escreve sobre vários assuntos, mas principalmente sobre música, para jornais e blogs. Por que decidiu falar sobre esporte no livro?
Porque adoro futebol em geral e o Fluminense em particular e tive a oportunidade de cobrir sete Copas do Mundo para diversos jornais, fazendo crônicas sobre tudo que acontecia fora do campo, fora de jogo, com torcedores, cartolas, jornalistas, tentando fazer o leitor se sentir dentro da Copa, com seus dramas e comédias.
Como foi a produção das crônicas que estão no livro?
Foram crônicas que escrevi todos os dias nessas sete Copas, que em 1998 saíram com o nome de “Confissões de um Torcedor”. O livro saiu duas semanas antes do início da Copa da França, estava vendendo muito bem, até que o Brasil perdeu a final e ninguém mais queria ouvir falar de futebol (risos). Então, agora fiz uma nova seleção, reescrevi tudo, acrescentei várias crônicas novas sobre duas Olimpíadas que cobri nos últimos anos – Atlanta e Londres – e outras Copas do Mundo. Agora está saindo bem antes, como aperitivo para a Copa que acontece em junho no Brasil.
Qual gol você viu ao vivo e que mais te emocionou?
O quarto do Brasil contra a Itália na final da Copa de 1970, no estádio Azteca, no México. Era a consagração final, pelo passe de Pelé, pela potência épica do chute do capitão. E o segundo do Brasil, de Falcão, contra a Itália, em 1982, em Barcelona. Achei que não perderíamos mais...
E qual jogo foi o mais marcante?
Além da final de 1970 – pelo brilho e pela glória –, o drama do Brasil x Itália em 1982 no estádio de Sarriá, na Espanha. Porque tínhamos, de longe, o melhor time, o que jogava mais bonito, e perdemos um jogo incrível – e a Copa, porque a Itália acabou campeã. Muito marcante foi em 1986 no México, contra a França, quando o Brasil finalmente parecia ter engrenado depois de vários tropeços. Jogamos muita bola, mas perdemos um jogo ganho. Extremamente marcante, e feio, duro, violento, foi o Brasil x Argentina em uma noite gelada de Rosário, em 1978, quando empatamos por 0 a 0. Perdemos a Copa ali.
Das histórias que viveu no esporte, tem alguma que o faz rir até hoje?
Sim, de um jornalista, num giro da seleção brasileira pela Europa em 1977. Depois de um mês totalmente a seco sexualmente, foi parar em uma sauna mista em Hamburgo e quando uma simpática senhorinha de uns 60 anos pediu lhe que passasse óleo nas suas costas, em alguns segundos... ejaculou nas costas da atônita senhora. Ficou conhecido entre os jornalistas e jogadores como “o Monstro de Hamburgo”.
Qual foi o momento de mais tensão que você viveu dentro de campo?
Nesse Brasil e Argentina de 1978, no estádio de Rosário, barra pesada mesmo, frio de rachar, argentinos ferozes, com a ditadura argentina fazendo tudo para ganhar a Copa da nossa ditadura, medo e tensão nas ruas, repressão, um horror. E ainda um time medíocre em campo... ufa!
Dentro do seu conhecimento e vivência do esporte, você se considera uma enciclopédia viva do futebol?
Longe disso; me faltam alguns terabytes de memória (risos). E agora com o Google, quem precisa de enciclopédias (risos)? Mas adoro ouvir histórias de futebol, conheci seus maiores contadores, Nelson Rodrigues, João Saldanha, Armando Nogueira, Sandro Moreyra, meus ídolos da crônica esportiva.
Atualmente, tem muita crítica à forma como o futebol é tratado dentro do Brasil, em que muita coisa se resolve no “tapetão”. Como você vê isso?
Detesto o tapetão. Preferiria que o Fluminense, por falta de méritos, e a Portuguesa, por incompetência e lambança, jogassem a série B.
Fora do futebol, que outras modalidade esportivas você gosta mais?
Adoro o vôlei masculino, feminino e de praia. Sou amigo de vários jogadores, assisti a muitas vitórias emocionantes, bem mais do que no futebol dos últimos anos.
Nas Olimpíadas ou no Pan, teve algum jogo que o marcou?
A vitória do time de futebol feminino contra os Estados Unidos, dando show no Pan de 2007. Fui às lágrimas no estádio e escrevi uma crônica comovidíssima sobre Marta e companhia. Tambem vi e vibrei com a vitória da minhas amigas Jackie Silva e Sandra Pires no vôlei de praia nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.
Qual esporte, no Brasil, você vê que ainda precisa de investimento?
O futebol (risos)! O futebol está muito longe dos padrões civilizados, mesmo tendo excelentes jogadores, grande cobertura de mídia, torcidas apaixonadas, poder aquisitivo, patrocinadores poderosos... O mercado dos sonhos para qualquer investidor. Mas com essa Confederação Brasileira de Futebol (CBF), essas federações, esses clubes servindo de trampolim político, nunca vai dar certo.
O que acha das críticas que a Copa do Mundo que será realizada no Brasil vem recebendo?
Muito dinheiro, e muito mal gasto. Todos sabem do desperdício, muitos imaginam as maracutaias, os sobrepreços, os trambiques. O Grêmio fez, mais rápido e com dinheiro próprio, um estádio tão bom quanto o Maracanã ou o de Brasília por menos da metade do preço. Por quê?
O que espera da Copa e das Olimpíadas no Brasil?
Das Olimpíadas, espero pouco, um pouco mais do que as excelências, exceções e surpresas de sempre. Mas no futebol, a Copa das Confederações me deu esperanças. Mas acho a Alemanha o melhor time e tenho pavor de enfrentar a Argentina numa final no Maracanã.
Para você, qual a relação entre a música e o futebol em nosso país?
Fazem parte da nossa identidade cultural, andam sempre juntos. Desde que o samba é samba, nas músicas das torcidas, nas festas, nas transmissões esportivas, os artistas são torcedores apaixonados.
A vida musical e artística de Nelson Motta
Nelson Motta já foi estrela dos palcos e lançou artistas importantes da música brasileira. Em 1966, com sua música “Saveiro”, feita em parceria com Dorival Caymmi, venceu o 1º Festival Internacional da Canção. Foi ele o responsável pelo lançamento da cantora Marisa Monte e pelo Festival Hollywood Rock.
Sua primeira música gravada foi “Encontro”, em 1964. De lá pra cá, compôs outros singles de sucesso, como “Dancing Days”, “Como Uma Onda” e “Coisas do Brasil”. No Brasil e fora, dirigiu espetáculos teatrais e produziu discos de artistas de extremo sucesso, como Elis Regina, Marisa Monte, Gal Costa e Daniela Mercury, entre outros. Motta foi ainda diretor artístico da gravadora Warner Music e produtor da Polygran.
Fonte: A Gazeta
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