sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PROFESSORES, PERCAM O MEDO DE SORRIR.



Uma constante no cotidiano escolar é o extermínio do sorriso em nome da autoridade e disciplina. Um resquício histórico remanescente da educação jesuítica que aportou em nosso país no século XVI persiste em arranhar a formação inicial e continuada dos educadores brasileiros fazendo-os crer que sorrir fragiliza a representação simbólica do “bom professor”

Não cabe aqui criticar a maneira jesuítica de educar uma vez que estamos hoje em outro contexto histórico e cultural. No entanto vale destacar que nossos colonizadores não chegaram aqui apenas com as roupas do corpo e seus pertences materiais. Cada um deles trouxe também toda sua bagagem de pertences imateriais. A cultura foi trazida e imposta por meio de uma educação baseada em punições e castigos físicos.

De certa forma até hoje repetimos esta maneira de educar trocando os castigos físicos pela violência simbólica expressa em práticas pedagógicas castradoras da criatividade, do questionamento e, sobretudo da efetiva construção de conhecimentos. Por medo de perder lugar no altar do conhecimento muitas vezes ditamos conceitos ao invés de trocarmos idéias. E tornamos a sisudez nossa máscara cênica nos monólogos encenados diante dos alunos.

O que precisamos amadurecer urgente é que sisudez não é sinônimo de competência muito menos de autoridade. O que traduz a competência é o saber fazer bem. Saber fazer bem é expresso pelo domínio do conteúdo e das técnicas de ensino. Também é fundamental estar evidente a dimensão ética do educador.

A educação pré-jesuítica no Brasil se dava por meio do exemplo e da admiração dos “mestres” com o tempo fomos tentando impor o respeito e não o conquistar. A educação dos indígenas se baseava nas relações afetivas entre os membros da tribo. Os mais jovens respeitavam os mais velhos por uma questão de admiração e não de imposição. É exatamente isso que precisamos resgatar.

O professor que ousa sorrir torna a comunicação bem mais efetiva e afetiva. O sorriso possui o poder de aproximar as pessoas e torná-las mais atraentes. Por mais importante que seja um conteúdo ele acaba se esvaziando de sentido e atratividade na medida em que o portador do discurso não consegue envolver a platéia.

Outro poder do sorriso na relação ensino-aprendizagem é tornar mais palatável os conceitos. Quem fala sorrindo dá a impressão ao expectador que está falando sobre algo simples de forma agradável e principalmente inspira confiança. Grandes oradores como Barack Obama e Silvio Santos usam largamente esta técnica e se notabilizaram pela habilidade de encantar o público.

Vale uma advertência em relação ao campo semântico dos verbetes rir e sorrir. Quem ri está rindo de algo ou alguém. Quem sorri está sorrindo para alguém ou com alguém. Canso de ver professores desejarem bom dia e no rosto deles uma expressão de formalidade e aspereza que não endossam o discurso. Sorria com o corpo inteiro. Faça do sorriso um convite para o diálogo. Se permita ir além do pedestal que destinaram aos “donos do saber”.

A cada sorriso o cérebro é induzido a produzir e liberar mais endorfina, o neurotransmissor relacionado às sensações de prazer e bem-estar. Deixemos de lado os tarjas-pretas, as pílulas de felicidade, e passemos a abrir as portas do coração para uma prática pedagógica que ressuscite o prazer de educar e a satisfação de ser professor.

(Texto de Fabio Flores)



Fabio Flores é professor, humorista e palestrante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário