Uma constante no
cotidiano escolar é o extermínio do sorriso em nome da autoridade e disciplina.
Um resquício histórico remanescente da educação jesuítica que aportou em nosso
país no século XVI persiste em arranhar a formação inicial e continuada dos
educadores brasileiros fazendo-os crer que sorrir fragiliza a representação
simbólica do “bom professor”
Não cabe aqui criticar a
maneira jesuítica de educar uma vez que estamos hoje em outro contexto
histórico e cultural. No entanto vale destacar que nossos colonizadores não
chegaram aqui apenas com as roupas do corpo e seus pertences materiais. Cada um
deles trouxe também toda sua bagagem de pertences imateriais. A cultura foi
trazida e imposta por meio de uma educação baseada em punições e castigos
físicos.
De certa forma até hoje
repetimos esta maneira de educar trocando os castigos físicos pela violência
simbólica expressa em práticas pedagógicas castradoras da criatividade, do
questionamento e, sobretudo da efetiva construção de conhecimentos. Por medo de
perder lugar no altar do conhecimento muitas vezes ditamos conceitos ao invés
de trocarmos idéias. E tornamos a sisudez nossa máscara cênica nos monólogos
encenados diante dos alunos.
O que precisamos
amadurecer urgente é que sisudez não é sinônimo de competência muito menos de
autoridade. O que traduz a competência é o saber fazer bem. Saber fazer bem é expresso
pelo domínio do conteúdo e das técnicas de ensino. Também é fundamental estar
evidente a dimensão ética do educador.
A educação pré-jesuítica no Brasil se dava por
meio do exemplo e da admiração dos “mestres” com o tempo fomos tentando impor o
respeito e não o conquistar. A educação dos indígenas se baseava nas relações
afetivas entre os membros da tribo. Os mais jovens respeitavam os mais velhos
por uma questão de admiração e não de imposição. É exatamente isso que
precisamos resgatar.
O professor que ousa
sorrir torna a comunicação bem mais efetiva e afetiva. O sorriso possui o poder
de aproximar as pessoas e torná-las mais atraentes. Por mais importante que
seja um conteúdo ele acaba se esvaziando de sentido e atratividade na medida em
que o portador do discurso não consegue envolver a platéia.
Outro poder do sorriso na
relação ensino-aprendizagem é tornar mais palatável os conceitos. Quem fala
sorrindo dá a impressão ao expectador que está falando sobre algo simples de
forma agradável e principalmente inspira confiança. Grandes oradores como
Barack Obama e Silvio Santos usam largamente esta técnica e se notabilizaram
pela habilidade de encantar o público.
Vale uma advertência em
relação ao campo semântico dos verbetes rir e sorrir. Quem ri está rindo de
algo ou alguém. Quem sorri está sorrindo para alguém ou com alguém. Canso de
ver professores desejarem bom dia e no rosto deles uma expressão de formalidade
e aspereza que não endossam o discurso. Sorria com o corpo inteiro. Faça do
sorriso um convite para o diálogo. Se permita ir além do pedestal que destinaram
aos “donos do saber”.
A cada
sorriso o cérebro é induzido a produzir e liberar mais endorfina, o
neurotransmissor relacionado às sensações de prazer e bem-estar. Deixemos de
lado os tarjas-pretas, as pílulas de felicidade, e passemos a abrir as portas do
coração para uma prática pedagógica que ressuscite o prazer de educar e a
satisfação de ser professor.
(Texto de Fabio Flores)
Fabio Flores é professor, humorista e palestrante.
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