terça-feira, 30 de julho de 2013

A AMPLITUDE DO SER NATURISTA


Mesmo do conhecimento de todos, faço questão de repetir a definição de naturismo: "Naturismo é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o auto-respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente".
Por essa definição já podemos sentir o tamanho da responsabilidade de ser naturista, somente pelo “cuidado com o meio ambiente” por si só, nos faz carregar uma bagagem superior da capacidade do carro que temos à nossa disposição.

Na Rede TV NEWS em 27/11/09 foi publicada a seguinte reportagem: “Milhões de animais são mortos de forma cruel para servir de vestuário a uma minoria. Nas ruas da França é fácil encontrar pessoas que usam casacos de pele”.
E ainda, “Raposas, linces, focas, coelhos quase sempre são mortos de forma cruel. Para não estragar os pelos, os caçadores matam os animais com pauladas na cabeça, afogamento ou utilizam armadilhas que provocam dores intensas e prolongadas. Em alguns casos a pele é retirada com o bicho ainda vivo.”
Eles são mortos para alimentar a vaidade humana. Se são caçados é porque têm quem compre.

Voltando à nossa definição, podemos afirmar que a “harmonia e respeito” criam um clima de paz em nossos relacionamentos. No entanto, é preciso despertar a consciência de que esses relacionamentos não resumem somente entre seres humanos. No artigo de Nuno Michael em “A Consciência da Massa”, ele cita que vivemos em diferentes níveis de consciência e evoluir para outro nível implica questionar e pensar por si mesmo, implica conviver com as conversas ocas, mecânicas de quem nos rodeia, implica ser livre.
Liberdade é o que sempre defendemos dentro do naturismo, mas ela tem um preço, a responsabilidade é maior. O raio de ação não pode ficar limitado à nudez, outras bandeiras têm que ser abraçadas, e uma delas, sem sombra de dúvidas, é a proteção com os nossos animais.
Para que possamos entender melhor a grave situação que nos encontramos, cito abaixo parte do artigo de Nina Rosa em “Escolher a Paz”.

Nós que vivemos na época atual estamos tendo a oportunidade de participar de uma dessas grandes mudanças. A mudança que prioriza os valores morais, os princípios, a ética. A mudança que nos fará também sentir a dor ou a alegria de um irmão nosso do reino mineral, vegetal ou animal, como se fosse a nossa própria dor ou nossa própria alegria.
Não é tão estranho assim olhar um rio de águas poluídas e fétidas e sentir sua dor… Não é difícil sentirmos a alegria de um riacho de águas claras e límpidas, correndo e cantando em seu caminho. Certamente podemos sentir sua alegria. Eles não precisam falar a nossa linguagem, aliás, bem limitada.
Nem precisamos ir até a Amazônia para assistir a espetáculos degradantes de desflorestamento e de negligência com o reino vegetal. É só sairmos às ruas, nas cidades e olharmos para nossas irmãs, cimentadas até o tronco, sem ter como armazenar água, sem consideração, muitas vezes usadas como lixeiras em sua base. Falta amor e gratidão pela beleza, pela sombra, pela purificação do ar, pela energia positiva, por nada, apenas por existirem, como direito que têm.
Por outro lado, quando estamos num bosque preservado, com árvores nativas, exuberantes, sentimo-nos parte de sua harmonia. Mesmo quando observamos uma só árvore na calçada, bem cuidada, sentimos sua harmonia, e somos envolvidos por ela.
E o que estamos fazendo ao reino animal? Exploração, exploração e mais exploração. E dor, e sofrimento. Desrespeito ao direito à vida, desrespeito a todos os seus direitos.
– Estamos degolando-os vivos, queimando e mastigando sua carne.
– Estamos arrancando sua pele e vestindo-a sobre nossa pele.
– Estamos confinando-os em pequenos espaços só para quando, e se tivermos vontade, olharmos para eles e satisfazermos nossa curiosidade.
– Estamos aprisionando os alados, por inveja ou vaidade, para que cantem só para nós, quando têm o céu por direito.
– Estamos confinando seres aquáticos a pequenos ou grandes aquários, para olhar ou nadar com eles por breves momentos, submetendo-os a toda uma vida de submissão, quando eles têm por direito a imensidão das águas.
– Estamos apoiando a ridicularização de grandes animais, rindo da sua dor e do roubo de sua dignidade em espetáculos circenses, como se fazia no passado com anões e mulheres barbadas e ensinamos nossas crianças a rirem também.
– Estamos jogando-os em arenas com os genitais fortemente amarrados, para que pulem de aflição e de dor, enquanto gritamos e rimos, alheios ao seu sofrimento.
– Estamos comprando-os como objetos, e descartando-os como objetos, na primeira dificuldade.
Todas essas barbaridades somos nós que fazemos quando apoiamos o consumo da exploração. Somos nós que patrocinamos e mantemos esses horrores acontecendo; e depois, com a barriga cheia de cadáveres, com a nossa aura manchada de dor e desamor, com indiferença pelo destino dos irmãos dos outros reinos, queremos para nós mesmos a paz?
“Desde que chega a esta Terra, o viajante toma, toma e não dá quase nada em troca.”
Se não queremos fazer parte disso, temos que mudar nosso paradigma; temos que passar e ver nossos irmãos dos outros reinos com o mesmo interesse que vemos a nós mesmos. Temos que colocar o interesse deles de não sofrer, paralelo ao nosso igual interesse. Temos que conhecer e respeitar seus direitos e sermos exemplo disso na prática.

Os princípios do Naturismo são verdadeiramente belos e harmoniosos, mas as nossas ações deverão ser ampliadas, pelo motivo do aumento da nossa consciência que a natureza não está para servir somente ao ser humano.
É hora de pararmos com as críticas e agirmos. É hora de conscientizar também do peso da nossa responsabilidade.

(Texto de Evandro Telles)


Evandro Telles (evandro.telles@terra.com.br) é escritor e lançou os livros: “Verdades que as roupas escondem” (2009), “Naturismo – Um Estilo de Vida Transformador” (2013) e “Naturismo – Um Corpo Não Fragmentado” (2013).


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