Gostem ou não, o fato é que a funkeira Anitta é o novo fenômeno da música brasileira. Seu hit 'Show das poderosas' está estourado em todo o país e a carioca tem sido figurinha carimbada em programas de TV, além de ser super hit na internet e de fazer vários shows Brasil afora. Porque deste sucesso? Confira agora uma detalhada análise da carreira de Anitta e do porquê deste sucesso todo lendo a matéria completa.
Por Sílvio Essinger
Anitta, a preparada da vez
Como uma ex-cantora de igreja foi transformada no fenômeno da vez, repetindo uma velha fórmula no país
Como uma ex-cantora de igreja foi transformada no fenômeno da vez, repetindo uma velha fórmula no país
Um mês, em tempo de Anitta, é quase uma eternidade. Há menos de duas
semanas, a cantora carioca de 20 anos lançou “Anitta”, seu álbum de
estreia. O disco estava programado para sair em setembro. Mas, com o
estouro da música “Show das poderosas” — alçada ao primeiro lugar das
paradas de sucessos do país há cerca de dois meses e ainda entre as três
mais tocadas — e a velocidade com que sua carreira foi ganhando vulto, o
disco teve que ser antecipado. Numa das cada vez mais raras brechas
entre apresentações e aparições promocionais na TV, Anitta conversou com
o GLOBO sobre o disco, que está no topo da lista dos mais vendidos do
país, com 40 mil cópias comercializadas (até sexta-feira). Se o processo
não tivesse sido tão corrido, ela diz que teria feito diferente no
disco.
— Eu pensava em uma coisa muito inovadora, chocante. Mas não posso
falar o que é, porque eu vou usar essa ideia em outra situação! — conta a
moça. — Mas aí a gravadora me abriu os olhos para uma coisa: aqui no
Rio, eu posso até estar no cenário há muitos anos (três, na verdade), mas para o resto do Brasil estou começando. O pessoal ainda não tem essa imagem da Anitta.
Três anos atrás, por sinal, alguns hão de lembrar, Anitta nem Anitta era. Era Larissa de Macedo Machado, estudante do bairro de Honório Gurgel, que cantava na igreja e fazia dança de salão. O cabelo ainda era crespo, o nariz, um pouco menos afinado, e o corpo menos exuberante, então sem próteses de silicone. Um vídeo seu no YouTube, com um cover da música “Soltinha”, da cantora Priscila Nocetti (estrela da Furacão 2000) foi visto por um dos produtores da equipe de som, o DJ Renato Azevedo, conhecido como Batutinha. Ele a chamou para um teste para ver se de fato sabia cantar. Depois, conferiu como ela se saía no palco. E ficou impressionado com a habilidade da cantora e das amigas no stiletto — modalidade de dança em cima de salto alto, popularizada pela estrela americana Beyoncé. Na mesma hora, resolveu trabalhar com ela.
É uma velha história na música brasileira. Em 1977, o produtor argentino Santiago Malnati, o Mister Sam, viu no programa de calouros de Silvio Santos uma cantora com um belo par de glúteos chamada Maria Odete. Foi atrás dela e se ofereceu para transformá-la em estrela. Só achava que o nome não ajudava. A cantora se lembrou do filme “Aleluia, Gretchen”, que fazia sucesso nos cinemas, e assim nasceu a primeira estrela da música calipígia brasileira, dos hits “Conga, conga, conga” e “Freak le boom boom”. Gretchen vendeu milhões de discos, sumiu e depois virou figura cult, entre participações em filmes pornô e shows em boates GLS.
— A Anitta é um conjunto. A música, a voz, a dança, o carisma e o show — diz Batutinha, que, assim como Mister Sam, convenceu sua pupila a pensar em um nome artístico.
E Larissa, fã da minissérie “Presença de Anita”, tinha uma boa sugestão para dar.
— A Anita tinha um mistério que despertava a curiosidade de homens, mulheres, de todo mundo. Era só uma menina, mas, ao mesmo tempo, era uma mulher. Brincalhona, sexy, mas não vulgar. Eu gostava dessa brincadeira — conta a cantora, que acatou a ideia de Batutinha de dobrar o T do nome.
Da mesma forma que a dança ajudou Anitta a se destacar, ela ajudou Carla Perez. A bailarina do grupo baiano de axé É o Tchan (ex-Gera Samba) foi parte fundamental (e muito planejada), com suas coreografias de grande apelo sexual e a força de sua imagem loura cheia de curvas, para que o grupo vendesse milhões de discos a partir de 1995. E a safra de bibelôs na música brasileira seguiu, em 1999, com Tiazinha, personagem que atuava como assistente de palco do “Programa H”, de Luciano Huck. Interpretada pela atriz e dançarina Suzana Alves, ela chegou a lançar um disco, pop dançante, com músicas de Vinny e Reginaldo Rossi. Hoje, tanto Carla quanto Suzana estão afastadas da música — e do sucesso.
Carência no mercado
Anitta, porém, tem mais afinidades com uma geração posterior de “preparadas”, que se iniciou há cerca de dez anos, quando a cantora Kelly Key surgiu com a música “Baba” (“baba, olha o que perdeu/ baba, a criança cresceu/ bem feito pra você, agora eu sou mais eu/ isso é pra você aprender a nunca mais me esnobar”). Hoje, a cantora se dedica à atividade de jurada no programa “Ídolos kids”, da TV Record.
— A Kelly introduziu a coisa da mulher com discurso forte, mas não deu continuidade nisso. A Perlla (do sucesso “Tremendo vacilão”, de 2006, hoje gravando discos para o segmento gospel) absorveu o vácuo que ela deixou no mercado. Mas quando a Perlla saiu de cena, ficou um buraco muito grande que, aos poucos, virou carência — analisa o produtor e compositor Umberto Tavares, que trabalhou com as duas cantoras e que, junto com o parceiro Mãozinha, cuidou da produção do álbum de Anitta.
Umberto e Mãozinha chegaram à cantora pelas mãos de Kamilla Fialho, 32, ex-empresária do cantor Naldo. Ela resolveu comandar a carreira de Anitta no ano passado após vê-la num show.
— Ela era diferente — conta Kamilla, que então descobriu que Anitta também sabia compor.
As primeiras músicas da cantora, “Vou ficar”, “Fica só olhando” e “Proposta” foram feitas por Batutinha, a partir de ideias dadas por ela.
— Depois, sozinha, fiz “Menina má” — diz Anitta. — Eu nem me achava boa compositora. Aí um produtor pegou a voz que eu tinha deixado em estúdio, produziu a faixa, e ela estourou. Só não sabia se eu conseguiria fazer outra música boa.
Vídeo em Las Vegas
Kamilla Fialho investiu pesado na carreira de Anitta. Ao contratá-la, em junho do ano passado, pagou a multa de R$ 260 mil que a Furacão 2000 exigia para liberá-la. Depois, montou um espetáculo com músicos e bailarinos, cuidou das mudanças de imagem da cantora (roupas, cabelo e plástica no nariz) e ainda gastou mais R$ 40 mil na gravação de um clipe de “Meiga e abusada”, a primeira faixa que Anitta produziu com Umberto Tavares e Mãozinha. O vídeo foi gravado em outubro, em Las Vegas, com direção do americano Blake Farber, que já trabalhara com Beyoncé. Com ele, a cantora virou sensação na internet.
Aos poucos, as grandes gravadoras começaram a cortejar Kamilla atrás do passe de Anitta. Ela conta que passou o mês de dezembro “enrolando” duas delas, até se decidir pela Warner, com a qual assinou contrato em janeiro.
— É necessário pulverizar a Anitta pelo país — diz Kamilla.
— O que eu tinha visto dez anos antes com a Kelly Key agora estava ali, mais desenvolvido — conta o diretor artístico da Warner Wagner Vianna. — A Anitta tem personalidade.
A produção do álbum começou em fevereiro, com um pequeno problema: mesmo juntando todas as músicas da cantora, elas não enchiam um CD. O jeito foi reservar alguns dias de estúdio para Anitta compor com a equipe de produção.
— A galera ficou sem dormir algumas noites. A Anitta deu muita opinião, mas não foi complicado — avalia Wagner.
Nisso, ela fez, sozinha, as músicas “Show das poderosas” e “Tá na mira”. A Warner preferiu a segunda e quis lançá-la como single. Anitta bateu o pé.
— Eu tinha certeza de que o “Show das poderosas” seria um estouro. “Tá na mira” é muito boa. É para mulheres, homens, gays... Mas não acho que era aquela música que até criança iria cantar. O “Show” é — diz.
Cenário internacional
Deu no que deu. O sucesso da canção pôs Anitta em outro patamar pop. Hoje ela viaja sem parar, com diferentes espetáculos. Um deles, o Clube da Anitta (“para o público AAA”, diz Kamilla), reúne oito bailarinos e ingressos a R$ 300. Há ainda o Show das Poderosas, para grandes palcos, com 15 bailarinos, três cenários, quatro trocas de roupa. E o Camarote da Anitta, em que o público pode vê-la retocando a maquiagem.
Em janeiro, ela grava um DVD. E Kamilla já planeja sua carreira internacional, começando por Portugal.
— Eu quero inovar a cada dia, mostrar para as pessoas que não vim para ir embora daqui a pouco. Há um ano, a gente já tinha as ideias que está botando em prática — diz a “poderosa”.
Três anos atrás, por sinal, alguns hão de lembrar, Anitta nem Anitta era. Era Larissa de Macedo Machado, estudante do bairro de Honório Gurgel, que cantava na igreja e fazia dança de salão. O cabelo ainda era crespo, o nariz, um pouco menos afinado, e o corpo menos exuberante, então sem próteses de silicone. Um vídeo seu no YouTube, com um cover da música “Soltinha”, da cantora Priscila Nocetti (estrela da Furacão 2000) foi visto por um dos produtores da equipe de som, o DJ Renato Azevedo, conhecido como Batutinha. Ele a chamou para um teste para ver se de fato sabia cantar. Depois, conferiu como ela se saía no palco. E ficou impressionado com a habilidade da cantora e das amigas no stiletto — modalidade de dança em cima de salto alto, popularizada pela estrela americana Beyoncé. Na mesma hora, resolveu trabalhar com ela.
É uma velha história na música brasileira. Em 1977, o produtor argentino Santiago Malnati, o Mister Sam, viu no programa de calouros de Silvio Santos uma cantora com um belo par de glúteos chamada Maria Odete. Foi atrás dela e se ofereceu para transformá-la em estrela. Só achava que o nome não ajudava. A cantora se lembrou do filme “Aleluia, Gretchen”, que fazia sucesso nos cinemas, e assim nasceu a primeira estrela da música calipígia brasileira, dos hits “Conga, conga, conga” e “Freak le boom boom”. Gretchen vendeu milhões de discos, sumiu e depois virou figura cult, entre participações em filmes pornô e shows em boates GLS.
— A Anitta é um conjunto. A música, a voz, a dança, o carisma e o show — diz Batutinha, que, assim como Mister Sam, convenceu sua pupila a pensar em um nome artístico.
E Larissa, fã da minissérie “Presença de Anita”, tinha uma boa sugestão para dar.
— A Anita tinha um mistério que despertava a curiosidade de homens, mulheres, de todo mundo. Era só uma menina, mas, ao mesmo tempo, era uma mulher. Brincalhona, sexy, mas não vulgar. Eu gostava dessa brincadeira — conta a cantora, que acatou a ideia de Batutinha de dobrar o T do nome.
Da mesma forma que a dança ajudou Anitta a se destacar, ela ajudou Carla Perez. A bailarina do grupo baiano de axé É o Tchan (ex-Gera Samba) foi parte fundamental (e muito planejada), com suas coreografias de grande apelo sexual e a força de sua imagem loura cheia de curvas, para que o grupo vendesse milhões de discos a partir de 1995. E a safra de bibelôs na música brasileira seguiu, em 1999, com Tiazinha, personagem que atuava como assistente de palco do “Programa H”, de Luciano Huck. Interpretada pela atriz e dançarina Suzana Alves, ela chegou a lançar um disco, pop dançante, com músicas de Vinny e Reginaldo Rossi. Hoje, tanto Carla quanto Suzana estão afastadas da música — e do sucesso.
Carência no mercado
Anitta, porém, tem mais afinidades com uma geração posterior de “preparadas”, que se iniciou há cerca de dez anos, quando a cantora Kelly Key surgiu com a música “Baba” (“baba, olha o que perdeu/ baba, a criança cresceu/ bem feito pra você, agora eu sou mais eu/ isso é pra você aprender a nunca mais me esnobar”). Hoje, a cantora se dedica à atividade de jurada no programa “Ídolos kids”, da TV Record.
— A Kelly introduziu a coisa da mulher com discurso forte, mas não deu continuidade nisso. A Perlla (do sucesso “Tremendo vacilão”, de 2006, hoje gravando discos para o segmento gospel) absorveu o vácuo que ela deixou no mercado. Mas quando a Perlla saiu de cena, ficou um buraco muito grande que, aos poucos, virou carência — analisa o produtor e compositor Umberto Tavares, que trabalhou com as duas cantoras e que, junto com o parceiro Mãozinha, cuidou da produção do álbum de Anitta.
Umberto e Mãozinha chegaram à cantora pelas mãos de Kamilla Fialho, 32, ex-empresária do cantor Naldo. Ela resolveu comandar a carreira de Anitta no ano passado após vê-la num show.
— Ela era diferente — conta Kamilla, que então descobriu que Anitta também sabia compor.
As primeiras músicas da cantora, “Vou ficar”, “Fica só olhando” e “Proposta” foram feitas por Batutinha, a partir de ideias dadas por ela.
— Depois, sozinha, fiz “Menina má” — diz Anitta. — Eu nem me achava boa compositora. Aí um produtor pegou a voz que eu tinha deixado em estúdio, produziu a faixa, e ela estourou. Só não sabia se eu conseguiria fazer outra música boa.
Vídeo em Las Vegas
Kamilla Fialho investiu pesado na carreira de Anitta. Ao contratá-la, em junho do ano passado, pagou a multa de R$ 260 mil que a Furacão 2000 exigia para liberá-la. Depois, montou um espetáculo com músicos e bailarinos, cuidou das mudanças de imagem da cantora (roupas, cabelo e plástica no nariz) e ainda gastou mais R$ 40 mil na gravação de um clipe de “Meiga e abusada”, a primeira faixa que Anitta produziu com Umberto Tavares e Mãozinha. O vídeo foi gravado em outubro, em Las Vegas, com direção do americano Blake Farber, que já trabalhara com Beyoncé. Com ele, a cantora virou sensação na internet.
Aos poucos, as grandes gravadoras começaram a cortejar Kamilla atrás do passe de Anitta. Ela conta que passou o mês de dezembro “enrolando” duas delas, até se decidir pela Warner, com a qual assinou contrato em janeiro.
— É necessário pulverizar a Anitta pelo país — diz Kamilla.
— O que eu tinha visto dez anos antes com a Kelly Key agora estava ali, mais desenvolvido — conta o diretor artístico da Warner Wagner Vianna. — A Anitta tem personalidade.
A produção do álbum começou em fevereiro, com um pequeno problema: mesmo juntando todas as músicas da cantora, elas não enchiam um CD. O jeito foi reservar alguns dias de estúdio para Anitta compor com a equipe de produção.
— A galera ficou sem dormir algumas noites. A Anitta deu muita opinião, mas não foi complicado — avalia Wagner.
Nisso, ela fez, sozinha, as músicas “Show das poderosas” e “Tá na mira”. A Warner preferiu a segunda e quis lançá-la como single. Anitta bateu o pé.
— Eu tinha certeza de que o “Show das poderosas” seria um estouro. “Tá na mira” é muito boa. É para mulheres, homens, gays... Mas não acho que era aquela música que até criança iria cantar. O “Show” é — diz.
Cenário internacional
Deu no que deu. O sucesso da canção pôs Anitta em outro patamar pop. Hoje ela viaja sem parar, com diferentes espetáculos. Um deles, o Clube da Anitta (“para o público AAA”, diz Kamilla), reúne oito bailarinos e ingressos a R$ 300. Há ainda o Show das Poderosas, para grandes palcos, com 15 bailarinos, três cenários, quatro trocas de roupa. E o Camarote da Anitta, em que o público pode vê-la retocando a maquiagem.
Em janeiro, ela grava um DVD. E Kamilla já planeja sua carreira internacional, começando por Portugal.
— Eu quero inovar a cada dia, mostrar para as pessoas que não vim para ir embora daqui a pouco. Há um ano, a gente já tinha as ideias que está botando em prática — diz a “poderosa”.
Penso que tem um verso do Engenheiro que explica isso assim. "Na falta de algo melhor", na falta de algo melhor nem tanto, o pior é a elevação deste tipo de performance em título de musica brasileira. Está no auge, mas até quando mesmo? semana que vem creio. Bora lá seguir vivendo e assistindo esses imediatismos que vem e vão, que vem e vão. Abraço aos Blogueiros.
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