André Serrano é estudante de Letras Português na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), membro da Confraria dos Bardos, escritor em formação. Gosta de literatura fantástica, noites frias e sobretudo café - forte, amargo. Confira, abaixo, a crônica "Vitória no xadrez":
VITÓRIA NO XADREZ
Peças mecânicas com aparência humana mantêm a cidade-máquina funcionando. O cais recebe cargas indistintas de corpos e contêineres, sua destinação é monetária; os ônibus transportam outros corpos, compressos, às vezes com pressa de chegar ao trabalho; as torres de fumaça da grande indústria de minério reúnem ao seu redor um grande número de peões, emprestados de um tabuleiro de xadrez. As salas de aula estão lotadas com os mesmos professores ensinando novos alunos as mesmas técnicas para passar no vestibular. "Marque o X no quadrado certo." É possível ouvir o barulho das engrenagens. Parece vir de baixo da calçada. Todos passam indiferentes de um lado para o outro da rua. As engrenagens continuam trabalhando, ninguém as ouve. A máquina continua sua tarefa rotineira de drenar qualquer resquício de humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário