Carlos
Alexandre da Silva Rocha nasceu em
Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências
Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o
livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do
leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias
humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado
em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Volta mundo, volta!”
VOLTA MUNDO, VOLTA
A casa está
vazia. Minha mulher foi pra Goiás. Pai Marcão com suas cartas de tarô tirou a
pessoa amada de mim em apenas cinco dias, olha que nem precisei soltar o cheque
pré-datado, ele a levou na vista de quem quisesse olhar. Ele é rápido no
gatilho, levou meu dinheiro, minha mulher e o meu amado e querido gato. Numa
hora dessas deve estar devorando-a pouco a pouco, para que eles estejam
alinhados como os planetas, talvez, assim, o mundo não acabe.
Os Maias
destruíram com a minha vida... O nó da gravata está apertado e por isso respiro
a prestações. Será que minha vida presta para algo? Estou em débito com a vida
ou é a vida que está comigo? Eu que vivi tão pouco! Volta mundo, volta!
Sinto-me
ridículo ao tentar afrouxar a gravata. Meu mundo caiu... E ainda assim espero o
fim do mundo em pé em cima de um banquinho. Se minha mulher estivesse aqui
estaria alinhando o meu planeta na via láctea dela. No entanto, Pai Marcão foi
mais esperto do que eu, ele deve estar alinhando nela constantemente, minha
mulher é muito gostosa e essa é a minha maior lástima.
Sei que vou
morrer hoje, pois é vinte um de dezembro de dois mil e doze e porque os Maias
falaram, eram extraterrestres de inteligência acima da nossa, eles sabiam das
coisas... E eu, como não sei de nada, quero partir com as reminiscências das
coisas boas, do vinho francês que eu não sei pronunciar a marca, do terno
italiano que nunca poderia comprar. Graças ao cartão de crédito pude realizar
as minhas últimas vontades, Deus seja louvado! Se o mundo não acabar hoje...
vou precisar louvar e muito.
O banquinho mexe
um pouco e eu começo a tremer com medo de cair. Dou risadas nervosas, a gravata
de seda italiana parece acariciar meu pescoço. Maldigo a minha condição social,
é tão fácil se acostumar com coisas boas, o difícil é largar... Me vejo no
espelho, pelo menos morrerei bem vestido, estou parecendo um galã de filme
Hollywoodiano, tô a cara daquele ator... aquele tal de Bread Pit.
Bebo mais uns
goles de vinho. Partirei de porre para a cova, mas, Ai meu Deus, se o mundo
acabar não vai ter ninguém pra cavar! É, vou ter que apodrecer como um morto
comum. Não, mortos comuns vão pra vala, eu não terei nem isso. Não poderei ser
enterrado em pé, como fazem com os suicidas. Volta mundo, não me abandone...
A gravata me
aperta. São meia noite e um minuto e o mundo não acabou. O relógio chega até a
uma hora da manhã, mas nada aconteceu... Será que o relógio dos Maias não
funcionava como o nosso? Ou o calendário deles está no horário de inverno?
Dizem que antigamente o tempo passava mais devagar, talvez seja isso.
Um misto de
alegria e de euforia tomou conta de mim. Foi quando me deparei com a minha
imagem refletida no espelho, o terno italiano... Os Maias acabaram com minha
vida, com o meu cartão de crédito, me deixaram em débito...
Dou o passo que
me levará ao nada. A gravata estica e o laço aperta. Estou pendurado em meu
ventilador de teto, tento morrer pra não prestar conta, ou melhor, não
pagá-las. O aparelho não agüenta o meu peso e caio pesadamente no chão. Da
aventura arriscada me sobra um galo na cabeça, talvez seja meu chifre
apontando.
Estou sem mulher
e, pior, sem meu gato, logo aquele meu lindo felino... A propaganda daquela
agência publicitária estava certa: “Maias é o C******”, P****! Eu mato esse Pai
Marcão, aquele Filho da Puta!
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