domingo, 22 de fevereiro de 2015

CRÍTICA DO OSCAR 2015

Aconteceu nesta madrugada a 87ª edição do Oscar. Confira uma crítica acerca da cerimônia e dos premiados lendo a postagem completa.

Por Sandro Bahiense

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Mais dinâmico e democrático
'O Grande Hotel Budapeste' leva maior número de estatuetas, mas melhor filme fica mesmo com 'Birdman'

Em sua octogésima sétima edição, o Oscar manteve sua principal característica nestes últimos tempos: A previsibilidade. Os favoritos levaram e poucas foram as surpresas, mesmo em categorias menos badaladas.

'O Grande Hotel Budapeste' levou quatro troféus, todos de categorias técnicas, enquanto os principais prêmios (ator, atriz, diretor e filme) se espalharam.


A noite começou com a previsível, mas merecida, vitória de Patricia Arquette (foto acima) como melhor atriz coadjuvante por Boyhood. Já a melhor atriz ficou mesmo com Julianne Morre no momento musa premiada do Oscar.

Eddie Redmayne, outra barbada da noite, levou como melhor ator por seu Stephen Hawking em 'A Teoria de Tudo'. O coadjuvante ficou JK Simmons de 'Whiplash', filme, aliás, que surpreendeu com quatro premiações.

Iñarritú abocanhou o Oscar de roteiro original, merecidamente, aliás, por 'Birdman' e 'O Jogo da Imitação' surpreendeu no adaptado. Legal. Alejandro ainda levou como diretor, após disputa firme com Linklater de 'Boyhood'.

A letra de "Glory" que cita o personagem principal do filme 'Selma', o ativista Martin Luther King, mas que também faz menção aos protestos recentes em Ferguson, que revitalizaram a luta por igualdade racial nos EUA levou o Oscar de melhor canção em momento genuíno de comoção. Na cola, até Lady Gaga emocionou

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Na disputa mais acirrada da noite 'Birdman' levou a melhor por 'Boyhood'. Por fim acredito que o filme tenha merecido, pois foi, de fato, o mais impactante do ano.

A cerimônia

Foi mais simples, enxuta e sem as desnecessárias apresentações que nada acrescentam à festa. Neil Patrick Harris compôs sua apresentação em um tipo discreto, leve e dinâmico, dispensando piadinhas bobas, sem graças e que normalmente só são entendidas pelos próprios atores.

Foi tudo muito frio, pasteurizado, mas pelo menos não foi arrastado, o que, por fim, vale mais. O foco foi nas categorias e nos premiados o que achei bom. Se foi previsível, o Oscar pelo menos se mantém grandioso apesar de realmente parecer ter oitenta e sete anos de idade!

CRÍTICA DO FILME 50 TONS DE CINZA

Um pouco demorado? Sim, eu sei. Mas garanto que você não viu ainda uma crítica como a nossa. Confira abaixo o que achamos de 50 Tons de Cinza - O filme.

Por Sandro Bahiense


Predisposição
Olhar contrário ou favorável de quem conhecia a estória afeta julgamentos para o bem e para o mal.

É muito difícil julgar a um produto que desperta tanto asco de alguns e, principalmente tanta paixão de outros. Aliás, sejamos francos: Outros não, outras não é? 

"Gostei, e pronto!", "Vi e verei mais duas vezes". "Vocês não sabem de nada" e blá, blá, blá e blá, blá, blá... São algumas das respostas de fãs que defendem cegamente a um produto que gostaram e pronto! Particularmente detesto reações infantis e sem argumentos como de algumas fãs descerebradas e sugiro que estas guardem seus "posicionamentos" só para si.

Fãs maduras, por sua vez, tem dois argumentos a qual consideram irrefutáveis: "Você não leu o livro" e "essa é uma história de amor". Para estas digo previamente: Li o livro e sim, considero que esta é uma história de amor (podemos trocar amor por relacionamento?)

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Bons para uns, terrível para outros... 50 Tons dividindo opiniões.

Isso posto, vamos lá:

50 Tons de Cinza, o livro, é uma das coisas mais bisonhas que já foram escritas em uma folha de papel na história. Trama piegas, brega, chata, previsível, nada original e muito má escrita. 

Logo quando li que E. L. James exigiu que o texto do livro fosse literal no filme, não podia esperar algo bom e, de fato, não foi.

Vejam os diálogos

"_ Eu acho que o senhor tem um coração maior do que transparece...
_ Algumas pessoas dizem que eu nem tenho coração.
_ Porque diriam isso?
_ Porque me conhecem bem."

Numa loja de material de construção

"_ O que você me sugere mais (como material de construção)?
_ Macacão. Para botar em cima da roupa.
_ Não. Eu posso fazer sem roupa."

"_ Eu não sou romântico.
_ Meus gostos são peculiares...
_ Você não entenderia.
_ Ah, então me ensina."

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O filme é elegante igual esse visual da Dakota

Daí vemos que é impossível fazer algo elegante disso. Mas até que a diretora Sam Taylor-Johnson, pelo menos nos primeiros quinze minutos de filme, consegue tirar algo bom da coisa. Com um texto irônico, ela deixa a coisa bem na pegada de comédia romântica e, olha!, o filme fica até bem legal.

Mas depois que Grey e Steele começam a meter... ops, quer dizer, fazer amor, ops, quer dizer, de novo, foder, é que o filme fica um saco.

A pegada comédia romântica saí e entra o, teoricamente, triller erótico. É quando vemos os maiores pontos falhos. Foi só impressão minha, ou os atores principais Dakota Johnson e Jamie Dornan pareciam tensos, ou, até com vergonha? (Alguém viu ambos extremamente constrangidos nas entrevistas de divulgação?)

Dakota, pelo menos, é realmente feinha e sem graça. Branquinha demais, pequenininha demais, com peito e bunda de menos... De fato ela poderia ser uma virgem bv com 21 anos mesmo! 

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Não podia ser um cara mais gostosão?

Achei graça do Dornan. O Christian é um cara bonitão, gostosão. Não entendo de beleza masculina, mas o Jamie não preenche tão bem esses requisitos. Minha esposa que estava na tortura, opa, quer dizer, no cinema comigo achou o irmão do Grey mais interessante. Aliás, ela achou o José mais interessante, o cara que trabalhava na loja da Anastacia mais interessante...

Minha sessão tinha, sei lá, 852 mulheres assistindo. Elas "uivaram" quando o Grey disse que queria foder, quando ele tirou a camisa, quando ele mostrou a coleção de carros (porque uivaram nessa parte?), mas na hora em que apareceu a bundinha murcha do cara, silêncio absoluto. Talvez se fosse o Charlie Hunnam, primeiro a ser cogitado para fazer o Grey, a coisa (ou a bundinha) seria melhor.

Aliás, que filme erótico mais pudico. Nenhum nu frontal (teve nu "lateral", dela, em momentos bem rápidos). O pinto do Dornan? Um centímetro dele, num microssegundo. Bundas? Da Dakota umas 676 vezes. Do Jamie, umas três. Para quem era voltado o filme mesmo?

O quarto vermelho apareceu umas três vezes e as poucas cenas de imitação de sadomasoquismo (chamar aquelas brincadeirinhas do livro/filme de BSDM é exagero) foram em câmera lenta para dar uma amenizada. Ah, e com uma trilha sonora de zona de periferia ao fundo para "dar um clima".

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Z...z...Z...z..Z... 50 minutos de sono...

Última meia hora do filme é de dar sono. Indico a quem sofre de insônia.

Nós homens estamos maus, pois nossas namoradas, esposas, tias e mães estão se excitando com qualquer coisa. 50 Tons deixa como moral da estória que os homens têm de melhorar muito seu desempenho erótico sensual.

Crítica técnica

Seriamente agora. Ótima fotografia, em tons de cinza, claro. Som bom. Roteiro razoavelmente bem explorado dentro das limitações que listamos acima. Jamie Dornan bem em um papel que não possuía profundidade. Dakota também se saiu bem, especialmente (e quem leu o livro há de concordar comigo) porque deu um ar mais sarcástico e senhora de si à sua Anastacia Steele.

Os pontos falhos foram a edição e seus buracos de tempo, o pouco aproveitamento do restante do elenco, o tom sussurrado de voz da Johnson e a trama arrastada do meio para o fim do filme dando-lhe um ar chato e cansativo.

Houve pressa onde devia haver esmiúce (especialmente na dúvida de Steele em aceitar ou não o modo de vida de Grey) e houve lerdeza onde devia haver dinamismo. A diretora falhou em ter nos mostrado algumas incongruências fatais. Grey é um cara duro, quase sem coração. No filme, o personagem que não se diz romântico, anda de mãozinhas dadas, salva a donzela bêbada, toca piano para a amada...

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Frio ou quente Sr.Grey?

O espaço de tempo e as resoluções que não se cumprem foram irritantes. Num take Grey diz que não pode manter o relacionamento com Steele por ele achar que não é homem para ela. Dois takes depois, contudo, ele a "salva" de sua bebedeira e a bota em sua cama. Em outra cena Anastacia dispensa Grey. Em seguida o bonitão entra na casa da jovem e ela, toda lânguida, permite que ele a amarre com sua gravata e faça sexo oral nela.

Christian e Anastacia brigam na casa dos pais do empresário. Logo o filme dá um pulo e eles já aparecem no quarto branco onde ela super curte estar amarrada por correntes. No take seguinte ele a chicota e ela vai embora toda ofendida. Como assim? De novo. Quem leu o livro percebem um pulo de umas 70 páginas aí. Em suma. Taylor-Johnson foi ótima nos primeiros 15 minutos do filme, e terrível no restante seguinte. O saldo é negativo. Como leitor me surpreendi pelas fãs terem saído satisfeitas do cinema.

50 Tons de Cinza é um filme de entretenimento, feito para as mulheres, especialmente para quem leu o livro. E se trata de uma história diferente de amor, com pitadas de sexo,  roteiro este desconhecido pela maioria das mulheres/leitoras/espectadoras comuns. 

URGENTE! MORRE INTEGRANTE DA LEGIÃO URBANA.

Urgente! Integrante da banda Legião Urbana foi encontrado morto nesta manhã. Saiba mais lendo a matéria completa.

Detalhe da capa do álbum "Que país é este', de 1987 (Foto: Reprodução)

Ex-baixista da Legião Urbana é encontrado morto em Guarujá, diz PM
Renato Rocha era conhecido também como Billy ou Negrete e tinha 53 anos. Corpo estava no chão do quarto do hotel onde ele estava hospedado.

O ex-baixista Renato Rocha, integrante da primeira formação da banda Legião Urbana, foi encontrado morto, na manhã deste domingo (22), dentro de um hotel em Guarujá, no litoral de São Paulo.

Segundo a Polícia Militar, o corpo encontrado encostado na porta de um hotel no bairro da Enseada, por volta das 8h30, era do músico que fez parte da primeira formação da banda. Informações obtidas preliminarmente pela polícia indicam que Renato teria morrido de causa natural.

A irmã do músico, responsável por administrar uma das páginas em homenagem a Renato nas redes sociais, postou uma mensagem falando sobre a morte do músico. "Renato faleceu nesta manhã, de parada cardíaca, em São Paulo. Vai com os anjos, Renato. Força ao seu casal de filhos, sua netinha, ao seu pai e aos seus demais familiares", diz a mensagem.

Na mesma publicação, uma mensagem atribuída ao irmão de Renato, o médico Roberto Rocha, explica que uma mulher foi chamar o músico no quarto e, como ele não respondeu, acabou acionando outras pessoas para abrir a porta. Renato teria sido encontrado caído, já morto.

Roberto da Silva Rocha, também irmão do ex-baxista, escreveu em uma rede social que está de luto. "Meu irmão acaba de falecer em sampa, ele foi baixist do Legião Urbana, Renato Rocha, Negrete". Ele acrescenta ainda que o músico 'deixa um casal de filhos e uma neta que não curtiu'.

Ainda segundo a polícia, o corpo foi removido do hotel e encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) do Guarujá. Ainda não há informações sobre local e horário do velório e do enterro do músico.

Legião Urbana
Renato da Silva Rocha, conhecido também como Billy ou Negrete, tinha 53 anos. Ele era baixista e compositor do Legião Urbana, banda da qual fez parte da formação original ao lado de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

Renato, que afirmou em entrevistas enfrentar problemas com drogas, foi convidado em 2014 para uma participação no projeto Urbana Legion. Ele voltou aos palcos para tocar os sucessos do Legião Urbana junto com o também ex-integrante Eduardo Paraná.
Retirado de G1

CONHEÇA OS GANHADORES DO 'FRAMBOESA DE OURO' DE 2015

Tradicional premiação que elege os piores do ano no cinema, o 'Framboesa de Ouro' de 2015 elegeu duas musas como as decepções do ano passado. Veja a lista completa.


Framboesa de Ouro 2015: Confira a lista completa dos "ganhadores"
Cameron Diaz e Megan Fox saíram premiadas da noite que consagrou filme desconhecido no Brasil.

Como acontece tradicionalmente, o Framboesa de Ouro foi realizado às vésperas da cerimônia do Oscar, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Em 2015, a premiação que consagra o pior do cinema americano destacou um filme que ainda não foi lançado no Brasil.

Confira a lista completa dos "ganhadores":

Pior Filme
Kirk Cameron’s Saving Christmas

Pior Remake, Adaptação ou Sequência
Annie

Pior Roteiro
Kirk Cameron’s Saving Christmas

Pior Diretor
Michael Bay (Transformers: A Era da Extinção)

Pior Atriz
Cameron Diaz (Mulheres ao Ataque e Sex Tape: Perdido na Nuvem)

Pior Ator
Kirk Cameron (Kirk Cameron’s Saving Christmas)

Pior Ator Coadjuvante
Kelsey Grammer (Os Mercenários 3 e Transformers: A Era da Extinção)

Pior Atriz Coadjuvante
Megan Fox (As Tartarugas Ninja)

Pior Combo
Kirk Cameron e seu ego (Kirk Cameron’s Saving Christmas)

Prêmio Redenção
Ben Affleck - Vencedor do Framboesa por Contato de Risco / Queridinho do Oscar com Argo e Garota Exemplar

PALPITES DOS VENCEDORES DO OSCAR 2015

Neste domingo acontece mais uma edição do Oscar, o maior prêmio do cinema americano. Confira abaixo os nossos palpites - e os porquês destes - acerca de quem achamos que levará a estatueta.


Previsibilidade
Mais uma vez Oscar promete não surpreender

Já é uma marca do Oscar nos, pelo menos, últimos dez anos. Com a popularização da internet e, justo a esta, a proliferação de blogs e sites de cinema, os favoritos a ganhar as premiações são amplamente divulgados e, o pior, normalmente são os mesmos que, de fato, ganham. Em suma, o Oscar está mais previsível do que tudo.

Neste ano, mais uma vez, temos os favoritos. Como fãs de cinema, nós também daremos os nossos pitacos. Será que acertaremos? Acho que sim. Veja a lista dos palpites abaixo.

Birdman (Foto: Divulgação)
'Birdman' perdeu força nas últimas semanas

Melhor filme

Favorito: Boyhood - da Infância à Juventude (Birdman corre por fora)
Porque: Porque Hollywood ama essas histórias longas, onde atores se transformam... 
Merece: Nem um pouco. O filme é chatíssimo e o fato de ter levado vários anos (acompanha a história do menino até a juventude) para ser feito não faz o filme ser bom.
Quem gostaríamos que ganhasse: A zebríssima 'A Teoria de Tudo', pois é uma história emocionante e que não trata o seu personagem principal (o astrofísico Stephen Hawking) como herói.

Melhor atriz

Favorita: Julianne Moore
Porque: Porque musas, quando apresentam trabalhos pelo menos razoáveis, vencem.
Merece: Olha... Merece.
Quem gostaríamos que ganhasse: A Julianne Moore mesmo. Ficará em boas mãos.

Melhor ator

Favorito: Eddie Redmayne
Porque: Porque a atuação dele em 'A Teoria de Tudo' foi foda!
Merece: Pra cacete!
Quem gostaríamos que ganhasse: Ele. Duas vezes, se possível.

Richard Linklater. Disputa acima com Inarritú.

Melhor diretor

Favorito: Alejandro Gonzales Inarritú
Porque: Porque deverá ser o único prêmio de 'Birdman' na noite.
Merece: Então... Não é que essa categoria está bem disputada e, olha!, poderá reservar algumas surpresas. O Richard Linklater do 'Boyhood' e o Wes Anderson de 'O Grande Hotel Budapeste' também tem lá suas chances e mereceriam se ganhassem também.
Quem gostaríamos que ganhasse: O Inarritú. Qualquer um que tenha colhão para fazer um filme em Hollywood criticando Hollywood merece ganhar.

Melhor atirz coadjuvante: Muito provavelmente a Patricia Arquete 
Melhor ator coadjuvante: Muito provavelmente o J. K. Simmons 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

CRÔNICA - A DESIMPORTÂNCIA DOS SEM TALENTO

"Ele me perguntou se eu fumava (fumaria) um baseado, daí eu disse: Um não! Eu fumo um montão!"


A desimportância dos sem talento

Estava indo à praia quando ouvi uma conversa entre dois jovens, com, mais ou menos, vinte anos cada. Um deles contava animadamente um "causo". Dentre algumas situações listadas, ele proferiu a frase do alto desta crônica. Mais. Proferiu a frase com orgulho incomum. Em suma: Ele era importante porque fumava muita maconha. Eis o seu mérito!

André Gide, escritor francês, certa vez disse que "É melhor ser odiado pelo que você é do que amado por aquilo que você não é", contudo amor é tudo que buscamos na vida que, nestes dias atuais, se ramificou através da fama. Em suma: O amor pelo que você conquistou, ou fez.

Nenhum problema em se buscar a fama, se ela viesse, adjunta, ao sucesso. Fama e sucesso, aliás, tem classificações absolutamente distintas. Sucesso é atingir o máximo de excelência em determinada atividade. A fama, por sua vez, pode surgir pela sua simples exposição que, inclusive, na maioria das vezes, advém de esforço algum. O sucesso pode trazer consigo a fama. A fama, por sua vez, nunca trará o sucesso a reboque.

Em miúdos. Lima Duarte faz grande sucesso como ator e, por isso, se tornou uma personalidade famosa. Um ex BBB qualquer fica famoso, mas não atinge nenhum sucesso, pois não possui mérito algum. Lima Duarte tem 50 anos de sucesso. Um ex BBB tem 50 dias de fama.


A fama por nada

Daí voltamos ao jovem da frase do alto desta crônica. E exercitemos nossa capacidade de imaginação. Pelo amor de Deus, sem as hipocrisias de achar preconceito em tudo, por favor!

O jovem era feio, pardo, magro, estava trajado com roupas pouco elegantes, falava um Português afetado e recheado de gírias. Andava a pé em um sol de onze da manhã de um dia de meio de semana. 

Concluí-se dentro do nosso imaginativo exercício que: O jovem não está acima da média nos quesitos inteligência, nem beleza, nem aptidão artística ou esportiva. Oras, a imensa maioria de nós também não estamos. Contudo este jovem apresenta decisiva diferença. Ele quer ser famoso! E, acredite, ele não é único.

Se ele não é bonito, nem craque de futebol, se não sabe cantar e/ou se destacar em quaisquer outras atividades de relevância, o que lhe sobra: Ser famoso porque fuma maconha.

Outro exemplo. Tenho vários contatos no meu Facebook. Em sua maioria adolescentes. E elas tratam de marcar sua posição de destaque na sociedade fazendo o quê? Tendo inimigas. Faça você esse exercício. Veja quantas pessoas mandam "recados" às inimigas na sua listagem de contatos. Dos mais sarcásticos aos mais ferozes. Agora perceba a reflexão implícita: Se tenho inimiga é porque causo inveja. E se causo inveja, isso se dá porque tenho uma beleza ou alguma aptidão que se destaca.

O mais inusitado é que a maioria destas jovens não são belas, não tem aptidão artística ou esportiva destacada e não possuem desempenho escolar acima da média.

Acha meu argumento furado? 'Show das poderosas' da Anitta e 'Beijinho no ombro' de Valesca Popozuda falam de quê? Mulheres que não se abalam com as inveja das "recalcadas", inimigas em linguagem popular.


Ganhe uma aptidão e cause inveja de verdade

Bem, essa não deveria ser a motivação, mas... Se você realmente quer causar inveja (ou admiração) em alguém, faça por onde. Todos nós temos alguma atividade a qual nos destacamos. Foque em algumas delas. E se dedique. Estude muito. Educação causa admiração, acredite.

Aliás... Se você parar de querer ser famosinho e estudar, entenderá que ser famosinho é, no final das contas, uma grande bobagem. 


domingo, 1 de fevereiro de 2015

CHARLIE HEBDO. A SÁTIRA SATIRIZADA PELO IMPERIALISMO AMERICANO.



1. Se se considera a fórmula do rosto, tendo em vista a filosofia de Deleuze e Guattari, muro branco buracos de subjetividade, é possível assinalar dois momentos na história da civilização burguesa: 1) um primeiro em que a questão do rosto era simples, maniqueísta, porque funciona(va) afirmando o rosto europeu e inferiorizando os demais perfis humanos. Nessa primeira fase, que predominou até a metade do século passado, o muro branco da sociedade capitalista era pincelado por marcas subjetivas antinômicas, como branco e negro, centro e periferia, colonizador e colonizado, homem e mulher, heterossexual e homossexual, sempre positivando o primeiro termo, fundamentalmente europeu, em detrimento do segundo, basicamente não europeu; 2) na segunda fase da civilização burguesa, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, a estrutura maniqueísta dos rostos sociais se multiplicou como as mercadorias e, ainda como estas, entrou num processo de superprodução de traços subjetivos agitados pela ideologia liberal.

2. A primeira fase, de estrutura maniqueísta, constitui a base do imperialismo europeu. A segunda, por sua vez, é o modelo de realização do imperialismo americano. Em relação a esses dois imperialismos dominantes da civilização burguesa, um teórico instigante para analisá-los é Franz Fanon; e o é não porque tenha tematizado conscientemente essa questão mas porque constituiu um autor de transição do imperialismo europeu para o americano, principalmente se forem considerados comparativamente seus dois principais livros teóricos, Os condenados da Terra (1961) e Pele negra, máscaras brancas(1952).
3. Em Os condenados da Terra é possível evidenciar uma posição militante abertamente maniqueísta ao imperialismo europeu, identificado como um sistema de bens que apenas será superado se ocorrer uma descolonização completa, capaz de abarcar todos os âmbitos da vida. O rosto do europeu nessa obra de Fanon se espalha por todo o socius e se constitui como o centro sísmico de um aparelho social/colonial absolutamente implacável com os colonizados; e assim é tanto mais inflexivelmente avassalador quanto mais o ponto de vista a ser considerado for o do excluído coletivo, esse anônimo cuja existência é sem rosto, logo inexistente, logo naturalmente violável, necessariamente sacrificável, matável.
4. O rosto do imperialismo europeu é bem mais que o rosto em si, branco, do colonizador. Como a imagem estereotipada de Cristo, é antes a rostidade de uma religião: o sistema de bens institucionais da civilização burguesa, contra o qual não resta outra alternativa senão a resposta incontornável de uma violência oposta, impassível às ilusões do “não é bem assim”, ou de qualquer outra forma usual ou não de contemporizar o pior, a invasão colonizadora, geralmente camuflada pelo humanismo eurocêntrico, esse inesperado espetáculo que ora se traveste de conhecimento, ora de sublimes artes, de refinados comportamentos, de últimos modelos tecnológicos, ora em simpáticos sorrisos; humanismo que é na verdade um sistema de aparência cujo strip-tease é preciso afrontar para vê-lo tal como é: terrorismo inominável contra os povos do mundo.
5. Parte desse humanismo terrorista do imperialismo europeu, em Os condenados da terra, é a ilusão essencialista presente em segmentos diversos dos povos colonizados, quando, em face de um presente inabitável, tende a clamar por um retorno a um idílico passado pré-colonial. Não existe volta, diz com todas as letras Fanon. É por isso que a resposta do colonizado contra o sistema de aparência do colonizador deve ser uma só: violência revolucionária, compreendida como negação e afirmação; negação sem titubear ao sistema de bens do colonizador e também aos sísifos dilemas eternos do colonizado; afirmação sem autoilusão de um mundo sem colonizadores e sem colonizados, logo sem imperialismos.
6. Publicado nove anos antes, Pele negra, máscaras brancas (1952)se constitui como (sem desconsiderar seu brilho próprio) um singular suplemento ao livro Os condenados da terra, pois, mais que matizar a violência da rostidade dominante, analisa as psicopatologias inscritas na relação entre colonizado e colonizador; do branco e do negro, designando-as como metafísicas do branco e do negro, de colonizador e de colonizado; metafísicas que indiciam, no jogo de máscaras entre negros e brancos, colonizadores e colonizados, um período sempre infantil da História do homem, razão suficiente para concluir: é o homem que precisa se liberar de suas taras identitárias, de seus fundamentalismos étnicos, de suas neuroses derivadas de seus valores ancorados em sistemas de ideais de ego e reificação, independente se é branco ou se é negro, se é colonizador ou colonizado, se é pobre ou se é rico.
7. Ainda tendo em vista Pele negra, máscaras brancas, para Fanon, o homem precisaria se liberar de si mesmo, de sua humanidade, seu humanismo, suas máscaras herdeiras de relações de força, inclusive tendo em vista a relação homem/não homem, porque não somos nada se se considera que ser algo seja ser superior. O homem necessita liberar-se, emfim e em começo, de sua infância opressora e oprimida, de suas síndromes, de seus narcisismos, inventando-se revolucionariamente na e pela igualdade.
8. O que define Fanon como um autor de transição entre as artimanhas humanistas e maniqueístas do imperialismo europeu e as diluições ilusórias do imperialismo americano tem talvez relação o com o que Lacan dizia a respeito do inconsciente: isso pensa. É no plano do pensamento do inconsciente que o imperialismo americano pode ser analisado como uma inversão da teoria de Fanon, pois, se em Os condenados da Terra é possível ler uma consciente recusa ao pacote de bens do imperialismo europeu e se em Pele negra máscaras brancas a metafísica entre brancos e negros pressupõe que estes transvestem aqueles num contexto em que ambos se mascaram neuroticamente, aquilo que o imperialismo americano fez e faz é manter tudo como era antes, mas da seguinte forma: fazendo com que os condenados da Terra se tornem as máscaras negras e/ou colonizadas da pele branca e /ou colonizadora.
9. O imperialismo americano é mais europeu do que o europeu e o é expandindo-o. Abstrai o rosto branco tornando-o efígie do dólar e o ancora não apenas no petróleo mas em qualquer outro rosto. A ligação dólar/petróleo, eixo de seu domínio, não apenas o associa aos fundamentalismos islâmicos mas também às máscaras dos condenados da Terra, que são igualmente sua fonte primária ou seu petróleo betuminoso, razão pela qual pode ser analisada também como dólar/rostos não brancos ou simplesmente dólar/máscaras negras.
10. Sob o ponto de vista do domínio americano, a fórmula pele branca/máscaras negras equivale, nesse sentido, a dólar/rostos não europeus num contexto planetário, insistimos, em que tudo é máscara, inclusive as esquerdas, o imperialismo europeu, os valores ocidentais, os países, as línguas, os povos, as moedas, classe sociais, a liberdade de expressão. As máscaras são, portanto, o fundamento do imperialismo americano. É por isso que elas se tornam cada vez mais fundamentalistas e é igualmente por isso que elas são máscaras negras, expressão que usamos com sentido de máscaras de alteridades, razão suficiente para deduzir que estas, assim como o petróleo, são o verdadeiro ponto de apoio do dólar, seu padrão ouro, não sendo circunstancial que se espalham e se multiplicam, sem teto, assim como ocorre com o dólar, narcisicamente.
11. Se, para Fanon, a relação entre classe social é abstrata e universal embora se viva de forma concreta e a raça é imanente e singular, um paralelo talvez possa ser realizado com a equivalência entre pele branca, entendida como abstrata efígie no dólar, e petróleo, compreendido como imanente âncora para o dólar, formando o petrodólar. No contexto do imperialismo americano, o dólar substitui a classe social, ocupando a sua universalidade abstrata e assim como esta adquire, embora seja apenas uma moeda, uma realidade concreta. Por outro lado, os rostos, as alteridades, o petróleo, as máscaras negras, enfim, são vividas de forma imanente e singular, tendo o dólar como seu verdadeiro deus.
12. É nesse sentido, pois, que é possível falar em fundamentalismo como o traço que define o imperialismo americano, deixando claro que o fanatismo islâmico é apenas um sintoma de uma humanidade igualmente fanática: pela efígie do dólar! Assim, se o imperialismo americano se constitui como inversão do pensamento de Fanon (ou mesmo de Marx) é porque ele transformou a pele branca dólar em uma abstrata universalidade, substituindo as classes sociais, em contextos diversos em que estas também se tornam singulares e imanentes. Logo: pontos de apoio para o dólar – a pele branca do mundo.
13. EmPele negra, máscaras brancas, o axioma racista da pele negra é: quando me amam me dizem que é apesar de minha cor e quando me odeiam me dizem que não têm relação com minha cor. Tendo em vista o imperialismo americano, esse axioma racista contra a pele negra assume cada vez mais outra configuração, a saber: se me amam me dizem que é apesar de não ter dinheiro (dólar); se não me amam dirão que não é pelo fato de eu ser pobre, razão suficiente para concluir o óbvio: mais que nunca a potência de alteridade, a verdadeira pele negra do mundo, é pobre, os deserdados da Terra.
14. Tendo em vista o modelo de realização do imperialismo americano, com sua fórmula bombástica pele branca/dólar igual âncora cambial nas máscaras negras/petróleo do mundo contemporâneo, alguns imperativos categóricos da regra do jogo, sob o ponto de vista da liberdade de expressão, podem ser assim comunicados: agitem-se, alteridades da Terra, em nome do dólar! Expressem-se de forma fundamentalista, máscaras negras de todos os rincões! Sejam vocês mesmas, mulheres, gays, negros, muçulmanos, ocidentais, orientais!
15. O verdadeiro deus do mundo é a pele branca/dólar como efígie do capital planetário. Para alcançar a graça dele é preciso que as alteridades se expressem a partir de uma liberdade fundamentalista, baseada no corpo a corpo do ódio, da divisão, do preconceito, do racismo.
16. Se o dólar é o europeu tornado efígie e o petróleo são as alteridades metamorfoseadas em buchas de canhão, aquele, o dólar, é o humanismo ocidental; e estas, as alteridades, são o strip-tease encarnado do terror.
17. O imperialismo americano, portanto, funciona como o banco central do mundo. Sua verdadeira liberdade de expressão é a que diz respeito ao poder soberano de emitir dólar (pela branca) por conta própria, ilimitadamente. Para tanto, sabe que precisa agitar as máscaras negras do mundo, dividindo-as ilimitadamente.
18. A contradição de base desse inversamente proporcional sistema de equivalência se inscreve no dado óbvio de que as máscaras negras (petróleo) são recursos primários limitados. Para dar conta desse imbróglio, o imperialismo americano necessita um total domínio das tecnologias midiáticas, porque estas são o meio através do qual virtualmente é possível produzir ilimitadamente (leia-se editadamente) as máscaras negras (petróleo) fundamentalistas.
19. A liberdade de expressão falsamente universal da pele branca/dólar como substituto humanista da luta de classes é a sua ancoragem bombástica nas liberdades de expressão das peles negras/petróleo do mundo, como realização divisionista da luta de classes, ilimitadamente editável no espetáculo midiático a serviço do imperialismo americano, que torna tudo valor de troca igualmente ilimitado, satirizando os valores de uso.
20. Sob o ponto de vista do imperialismo americano, liberdade de expressão, nesse contexto, é isto: confusão, ódio entre oprimidos, divisão dos trabalhadores, como realização da universalidade abstrata, porém concreta, do dólar – valor de troca que transforma as peles negras, valores de uso, em máscaras negras, entendidas como valores de troca ou simplesmente escambos da pele branca (dólar).
21. O imperialismo americano, portanto, com sua fórmula pele branca (dólar)/ máscaras negras/petróleo alimenta o fundamentalismo expressivo das alteridades, com o objetivo de dividir os trabalhadores do contemporâneo, em escala planetária.
22. A liberdade de expressão, por isso mesmo, é a que nos divide, nos equivoca, nos faz odiar a gente mesmo, em nome do deus pele branca dólar.
23. A eficiência do imperialismo americano tem relação com o fato dele ter encontrado um modelo planetário para a luta de classes, ancorada na liberdade de expressão do ódio de trabalhador para trabalhador, do empregado para o desempregado, de rosto para rosto, ou, simplesmente, para dialogar com Fanon, de imanência singular das e nas pelas negras em detrimento da abstração universal da luta de classes.
24. Tudo é rosto e todos os rostos podem ser âncoras para o deus (pele branca) dólar, donde seja possível deduzir que tudo pode ser religião, fundamentalismo. Maio de 68, sob esse ponto de vista, por mais instigante que tenha sido, se tornou um rosto religioso a serviço do imperialismo americano, que edita e reedita a tudo, transformando a liberdade de expressão dos rostos das alteridades em energia de combustão de seu domínio planetário.
25. Pelo fato de o dólar deus (pele branca) ter substituído a luta de classes como universalidade da civilização burguesa, reeditando-a por meio da liberdade de expressão das máscaras negras dividindo-se atomicamente, maio de 68 se tornou também máscara negra, mais um ponto de ancoragem para o deus dólar (pele branca), não sendo circunstancial, sob esse ponto de vista, que seus herdeiros sejam os mais estilizados narcisos, geralmente cínicos, do contemporâneo. São, com raríssimas exceções, uns porra-loucas reacionários quanto mais se expressam livremente.
26. É aqui que uma metamorfose curiosa ocorreu com os rostos contemporâneos (claro, isso inclui os ainda vivos) de maio de 68. No geral, se apresentam como despojados, sexualmente liberados, mas quando o assunto é o mundo universal/concreto da opressão de classe, riem satiricamente. Dizem, debochando, que já não estamos no século 19, que não existem classes sociais, que o mundo é outro e, de forma maniqueísta, dizem que todo maniqueísta é burro. Além do mais, é comum se apresentarem orgulhosamente como laicos, mas logo se nota que adoram o deus dólar (pele branca). São uma caricatura deles mesmos, satíricos com quase tudo, menos com a presunção deles, menos com a multiplicidade ambulante deles, menos com o vinho caro – menos com o dólar (deus olímpico, pele branca). São enfim e em começo uns ultramodernos estilizados, reacionários.
27. Embora lamentamos a morte de todos os assassinados do jornal satírico francêsCharlie Hebdo, este tem mantido uma linha editorial herdeira da geração capturada de maio de 68, ao se expressarem livremente por meio de uma sátira preconceituosa por partir do ponto de vista do humanismo ocidental, desvinculando assim este do seu lado nu: o terrorismo.
28. Denunciar satiricamente o strip-tease dos fanatismos religiosos sem considerar sua relação com a vestimenta humanista do sistema de opressão ocidental é ser simplesmente uma arma de guerra dos imperialismos europeu e americano.
29. A sátira é um gênero diabolicamente divino, singular, mas quando debocha, carnavalizando de baixo para cima, as idealidades, os rituais e as mistificações ideológicas dos poderosos, principalmente tendo em vista o estilo de vida deles, na sua configuração histórica, laica, supostamente humanista.
30. A sátira se inscreve como o horizonte insubstituível da liberdade de expressão, dilatando-a criativamente, quando, avacalhando, retrata os poderes instituídos de uma dada época em flagrante posição de cócoras, como animais, como risíveis, como mortais.
31. A sátira é a liberdade de expressão, quando desmistifica as religiões, (no geral vividas como tradições históricas, como instituições respeitáveis) dos grandes poderes de sua época.
32. A sátira é o gênero dos gêneros quando carnavaliza as hierarquias, as táticas e estratégias dos plutocratas, pondo-as de quatro, fazendo-as latir, grunhir, escorregar nas suas contradições, peidar.
33. A sátira é magnífica quando inverte a ordem cínica do mundo, ao passar uma rasteira em tudo que é alto, divinizado, reverenciado, exclusivo, com muita gargalhada, escárnio, plasticidade, ousadia, petulância.
34. A sátira, enfim e em começo, abre janelas para o porvir quando, desmistificando-nos despudoradamente, não apenas demonstra que somos todos uns bichos humanos, mas também quando denuncia as desigualdades, pois só assim será a revolução do riso, desautorizando, no nosso presente, principalmente o Ocidente, com suas guerras infinitas, o Ocidente e suas multinacionais criminosas, o Ocidente e seus dólares peles brancas, o Ocidente e seus imperialismos genocidas travestidos de civilização, de poesia, de refinamento educacional, de saberes respeitáveis, de rigores.
35. A sátira é o horror dos rigores ideológicos dos vencedores de uma dada época, pois lhes joga na cara a pantomima de suas aberrações genocidas, metamorfoseadas em humanismos.
36. A sátira pode ser o gênero dos gêneros quando, no contemporâneo, torna-se o strip-tease daquilo que o imperialismo americano designa como direitos humanos pois demonstra, ou pode fazê-lo, que estes são a aberração trágica, terrorista, do direito à vida coletiva, o mais sagrado de todos, porque é a condição fundamental para qualquer outro; porque é o princípio dos princípios, nascido do chão de existir – esse lugar em que todo riso é satírico não por natureza, porque a sátira jamais será natural, mas porque histórico, humano, demasiadamente humano; porque é de onde brotamos igualmente, para rirmos com os mais simples e não deles.
37. É precisamente por isso que satirizar as religiões tradicionais, o islamismo, o cristianismo, o judaísmo, como fazia e faz o jornal francês Charlie Hebdo, é não apenas uma ingenuidade mas antes de tudo uma crença fundamentalista advinda da pior forma de religião possível, a saber: a que confunde a dimensão laica do chão de existir, que é a igualdade a que estamos desafiados a inventar, (por meio da luta de classes planetária) com a religião dos oligarcas e principalmente com a religião do imperialismo americano, com sua falsa universalidade (não) humanista dólar (pele branca); e o é por uma razão muito simples: o imperialismo americano trabalha todos os dias do ano com o objetivo de transformar a humanidade toda em refém do ódio religioso tradicional, inclusive nos transformando em religiosos subjetivos.
38. Nada mais conveniente, para o imperialismo americano, portanto, que a perspectiva editorial satírica praticada pelos cartunistas do jornal Charlie Hebdo. Ao achincalhar as religiões milenares, o faziam e o fazem como fieis colaboradores da mais fanática delas, no contemporâneo: a rostidade divinizada dólar (pele branca), abstração monetária ancorada no ódio religioso, usado como bomba de combustão alimentada pelas máscaras negras de todo o planeta, além de ser igualmente manipulada como peça geopolítica contra China e Rússia e também, o que muito é pior, como pretexto para invadir países, bombardeá-los, não sendo circunstancial os exemplos de Iraque, Afeganistão, Líbia, Palestina, Síria, Sudão, Somália, Iêmen; o mundo todo.
39. Se, vivos, os caricaturistas de Charlie Hebdo eram nada mais nada menos que os satíricos satirizados ou idiotas úteis da pele branca (dólar) abstração monetária do imperialismo americano, mortos se tornaram combustível para a inclusão/combustão de mais um grupo humano fanaticamente bombástico a seu serviço: os europeus, instigados à liberdade de expressão para se tornarem o Emirado Cristão Europeu.
40. Em nome de Cristo, do humanismo eurocêntrico, da religião laica ocidental, os tambores do ódio religioso agitam a Europa, especialmente o país da Revolução Francesa, preparando-se para futuras vetustas guerras contemporaneamente milenares.
41. Curiosamente, a religião mais fanática de todas, o sionismo, strip-tease do judaísmo, é também a mais, por paradoxal que pareça, laica. É ela que arregimenta seus mártires, a saber: o Emirado Islâmico, o Emirado Europeu, o Emirado Midiático, em nome da pele branca/dólar do imperialismo americano, sendo a sua religião milenar.
42. O império do caos, a pele branca (dólar) estadunidense, quer que todos sejamos fanaticamente (o que significa belicosamente) sua âncora petrolífera explosiva, dividindo-nos para nos tornar senhores da liberdade de expressão do ódio a nós mesmos. Com isso, satiriza-nos, pondo-nos de quatro.
43. Para romper essa aliança suicidária, entre a pele branca (dólar) abstração universal com sua equivalência carnal nas máscaras negras (petróleo), agora com a inclusão do Emirado Cristão Europeu, Fanon ofereceu-nos a resposta: revolução criativa, apta a liberar o homem de seus infantilismos, se e quando estiver lastreada em outro sistema de equivalência, a saber: da abstração (sempre vivida como concreta) universal da luta de classes ancorada nos povos do mundo, singulares e imanentes, tendo em vista um combate sem tréguas ao imperialismo europeu, ao americano e/ou a qualquer outro.
44. O sistema de equivalência revolucionário, para o contemporâneo, é este: abstração universal da luta de classes, vivida como valor de uso no cotidiano dos povos, o que só será possível se aprendermos a satirizar a sátira que o sistema midiático corporativo realiza sem cessar da humanidade inteira, editando e reeditando-nos ilimitadamente como reificados e reificantes; como subjetividades isoladas, divididas, presunçosas, infantis.
45. A luta de classes, portanto, mais do que nunca necessita se inscrever no interior do sistema midiático, sem ilusões com as novas tecnologias, no geral vividas como suportes virtuais da liberdade de expressão da e pelo dólar (pele branca); suportes que têm como strip-tease os valores de uso transformados Emirado Islâmico, al-Qaida, talibãs, o Emirado Cristão Europeu, alteridades narcísicas, isoladas.
46. Para manter o sistema de abstração ilimitado do dólar (pele branca), o imperialismo americano ao fim e ao cabo satiriza os valores de uso e o faz agitando-os fanaticamente, explosivamente.
47. Ou nos editamos planetariamente, afirmando o porvir, como valores de uso, contra toda abstração monetária e seus valores de troca entre máscaras negras isoladamente/satiricamente editáveis; ou devoraremos, como parasitas, o futuro, neste presente em combustão objetivamente subjetiva.
(Texto de Luís Eustáquio Soares)

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Luis Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura no Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo.