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domingo, 1 de fevereiro de 2015

CHARLIE HEBDO. A SÁTIRA SATIRIZADA PELO IMPERIALISMO AMERICANO.



1. Se se considera a fórmula do rosto, tendo em vista a filosofia de Deleuze e Guattari, muro branco buracos de subjetividade, é possível assinalar dois momentos na história da civilização burguesa: 1) um primeiro em que a questão do rosto era simples, maniqueísta, porque funciona(va) afirmando o rosto europeu e inferiorizando os demais perfis humanos. Nessa primeira fase, que predominou até a metade do século passado, o muro branco da sociedade capitalista era pincelado por marcas subjetivas antinômicas, como branco e negro, centro e periferia, colonizador e colonizado, homem e mulher, heterossexual e homossexual, sempre positivando o primeiro termo, fundamentalmente europeu, em detrimento do segundo, basicamente não europeu; 2) na segunda fase da civilização burguesa, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, a estrutura maniqueísta dos rostos sociais se multiplicou como as mercadorias e, ainda como estas, entrou num processo de superprodução de traços subjetivos agitados pela ideologia liberal.

2. A primeira fase, de estrutura maniqueísta, constitui a base do imperialismo europeu. A segunda, por sua vez, é o modelo de realização do imperialismo americano. Em relação a esses dois imperialismos dominantes da civilização burguesa, um teórico instigante para analisá-los é Franz Fanon; e o é não porque tenha tematizado conscientemente essa questão mas porque constituiu um autor de transição do imperialismo europeu para o americano, principalmente se forem considerados comparativamente seus dois principais livros teóricos, Os condenados da Terra (1961) e Pele negra, máscaras brancas(1952).
3. Em Os condenados da Terra é possível evidenciar uma posição militante abertamente maniqueísta ao imperialismo europeu, identificado como um sistema de bens que apenas será superado se ocorrer uma descolonização completa, capaz de abarcar todos os âmbitos da vida. O rosto do europeu nessa obra de Fanon se espalha por todo o socius e se constitui como o centro sísmico de um aparelho social/colonial absolutamente implacável com os colonizados; e assim é tanto mais inflexivelmente avassalador quanto mais o ponto de vista a ser considerado for o do excluído coletivo, esse anônimo cuja existência é sem rosto, logo inexistente, logo naturalmente violável, necessariamente sacrificável, matável.
4. O rosto do imperialismo europeu é bem mais que o rosto em si, branco, do colonizador. Como a imagem estereotipada de Cristo, é antes a rostidade de uma religião: o sistema de bens institucionais da civilização burguesa, contra o qual não resta outra alternativa senão a resposta incontornável de uma violência oposta, impassível às ilusões do “não é bem assim”, ou de qualquer outra forma usual ou não de contemporizar o pior, a invasão colonizadora, geralmente camuflada pelo humanismo eurocêntrico, esse inesperado espetáculo que ora se traveste de conhecimento, ora de sublimes artes, de refinados comportamentos, de últimos modelos tecnológicos, ora em simpáticos sorrisos; humanismo que é na verdade um sistema de aparência cujo strip-tease é preciso afrontar para vê-lo tal como é: terrorismo inominável contra os povos do mundo.
5. Parte desse humanismo terrorista do imperialismo europeu, em Os condenados da terra, é a ilusão essencialista presente em segmentos diversos dos povos colonizados, quando, em face de um presente inabitável, tende a clamar por um retorno a um idílico passado pré-colonial. Não existe volta, diz com todas as letras Fanon. É por isso que a resposta do colonizado contra o sistema de aparência do colonizador deve ser uma só: violência revolucionária, compreendida como negação e afirmação; negação sem titubear ao sistema de bens do colonizador e também aos sísifos dilemas eternos do colonizado; afirmação sem autoilusão de um mundo sem colonizadores e sem colonizados, logo sem imperialismos.
6. Publicado nove anos antes, Pele negra, máscaras brancas (1952)se constitui como (sem desconsiderar seu brilho próprio) um singular suplemento ao livro Os condenados da terra, pois, mais que matizar a violência da rostidade dominante, analisa as psicopatologias inscritas na relação entre colonizado e colonizador; do branco e do negro, designando-as como metafísicas do branco e do negro, de colonizador e de colonizado; metafísicas que indiciam, no jogo de máscaras entre negros e brancos, colonizadores e colonizados, um período sempre infantil da História do homem, razão suficiente para concluir: é o homem que precisa se liberar de suas taras identitárias, de seus fundamentalismos étnicos, de suas neuroses derivadas de seus valores ancorados em sistemas de ideais de ego e reificação, independente se é branco ou se é negro, se é colonizador ou colonizado, se é pobre ou se é rico.
7. Ainda tendo em vista Pele negra, máscaras brancas, para Fanon, o homem precisaria se liberar de si mesmo, de sua humanidade, seu humanismo, suas máscaras herdeiras de relações de força, inclusive tendo em vista a relação homem/não homem, porque não somos nada se se considera que ser algo seja ser superior. O homem necessita liberar-se, emfim e em começo, de sua infância opressora e oprimida, de suas síndromes, de seus narcisismos, inventando-se revolucionariamente na e pela igualdade.
8. O que define Fanon como um autor de transição entre as artimanhas humanistas e maniqueístas do imperialismo europeu e as diluições ilusórias do imperialismo americano tem talvez relação o com o que Lacan dizia a respeito do inconsciente: isso pensa. É no plano do pensamento do inconsciente que o imperialismo americano pode ser analisado como uma inversão da teoria de Fanon, pois, se em Os condenados da Terra é possível ler uma consciente recusa ao pacote de bens do imperialismo europeu e se em Pele negra máscaras brancas a metafísica entre brancos e negros pressupõe que estes transvestem aqueles num contexto em que ambos se mascaram neuroticamente, aquilo que o imperialismo americano fez e faz é manter tudo como era antes, mas da seguinte forma: fazendo com que os condenados da Terra se tornem as máscaras negras e/ou colonizadas da pele branca e /ou colonizadora.
9. O imperialismo americano é mais europeu do que o europeu e o é expandindo-o. Abstrai o rosto branco tornando-o efígie do dólar e o ancora não apenas no petróleo mas em qualquer outro rosto. A ligação dólar/petróleo, eixo de seu domínio, não apenas o associa aos fundamentalismos islâmicos mas também às máscaras dos condenados da Terra, que são igualmente sua fonte primária ou seu petróleo betuminoso, razão pela qual pode ser analisada também como dólar/rostos não brancos ou simplesmente dólar/máscaras negras.
10. Sob o ponto de vista do domínio americano, a fórmula pele branca/máscaras negras equivale, nesse sentido, a dólar/rostos não europeus num contexto planetário, insistimos, em que tudo é máscara, inclusive as esquerdas, o imperialismo europeu, os valores ocidentais, os países, as línguas, os povos, as moedas, classe sociais, a liberdade de expressão. As máscaras são, portanto, o fundamento do imperialismo americano. É por isso que elas se tornam cada vez mais fundamentalistas e é igualmente por isso que elas são máscaras negras, expressão que usamos com sentido de máscaras de alteridades, razão suficiente para deduzir que estas, assim como o petróleo, são o verdadeiro ponto de apoio do dólar, seu padrão ouro, não sendo circunstancial que se espalham e se multiplicam, sem teto, assim como ocorre com o dólar, narcisicamente.
11. Se, para Fanon, a relação entre classe social é abstrata e universal embora se viva de forma concreta e a raça é imanente e singular, um paralelo talvez possa ser realizado com a equivalência entre pele branca, entendida como abstrata efígie no dólar, e petróleo, compreendido como imanente âncora para o dólar, formando o petrodólar. No contexto do imperialismo americano, o dólar substitui a classe social, ocupando a sua universalidade abstrata e assim como esta adquire, embora seja apenas uma moeda, uma realidade concreta. Por outro lado, os rostos, as alteridades, o petróleo, as máscaras negras, enfim, são vividas de forma imanente e singular, tendo o dólar como seu verdadeiro deus.
12. É nesse sentido, pois, que é possível falar em fundamentalismo como o traço que define o imperialismo americano, deixando claro que o fanatismo islâmico é apenas um sintoma de uma humanidade igualmente fanática: pela efígie do dólar! Assim, se o imperialismo americano se constitui como inversão do pensamento de Fanon (ou mesmo de Marx) é porque ele transformou a pele branca dólar em uma abstrata universalidade, substituindo as classes sociais, em contextos diversos em que estas também se tornam singulares e imanentes. Logo: pontos de apoio para o dólar – a pele branca do mundo.
13. EmPele negra, máscaras brancas, o axioma racista da pele negra é: quando me amam me dizem que é apesar de minha cor e quando me odeiam me dizem que não têm relação com minha cor. Tendo em vista o imperialismo americano, esse axioma racista contra a pele negra assume cada vez mais outra configuração, a saber: se me amam me dizem que é apesar de não ter dinheiro (dólar); se não me amam dirão que não é pelo fato de eu ser pobre, razão suficiente para concluir o óbvio: mais que nunca a potência de alteridade, a verdadeira pele negra do mundo, é pobre, os deserdados da Terra.
14. Tendo em vista o modelo de realização do imperialismo americano, com sua fórmula bombástica pele branca/dólar igual âncora cambial nas máscaras negras/petróleo do mundo contemporâneo, alguns imperativos categóricos da regra do jogo, sob o ponto de vista da liberdade de expressão, podem ser assim comunicados: agitem-se, alteridades da Terra, em nome do dólar! Expressem-se de forma fundamentalista, máscaras negras de todos os rincões! Sejam vocês mesmas, mulheres, gays, negros, muçulmanos, ocidentais, orientais!
15. O verdadeiro deus do mundo é a pele branca/dólar como efígie do capital planetário. Para alcançar a graça dele é preciso que as alteridades se expressem a partir de uma liberdade fundamentalista, baseada no corpo a corpo do ódio, da divisão, do preconceito, do racismo.
16. Se o dólar é o europeu tornado efígie e o petróleo são as alteridades metamorfoseadas em buchas de canhão, aquele, o dólar, é o humanismo ocidental; e estas, as alteridades, são o strip-tease encarnado do terror.
17. O imperialismo americano, portanto, funciona como o banco central do mundo. Sua verdadeira liberdade de expressão é a que diz respeito ao poder soberano de emitir dólar (pela branca) por conta própria, ilimitadamente. Para tanto, sabe que precisa agitar as máscaras negras do mundo, dividindo-as ilimitadamente.
18. A contradição de base desse inversamente proporcional sistema de equivalência se inscreve no dado óbvio de que as máscaras negras (petróleo) são recursos primários limitados. Para dar conta desse imbróglio, o imperialismo americano necessita um total domínio das tecnologias midiáticas, porque estas são o meio através do qual virtualmente é possível produzir ilimitadamente (leia-se editadamente) as máscaras negras (petróleo) fundamentalistas.
19. A liberdade de expressão falsamente universal da pele branca/dólar como substituto humanista da luta de classes é a sua ancoragem bombástica nas liberdades de expressão das peles negras/petróleo do mundo, como realização divisionista da luta de classes, ilimitadamente editável no espetáculo midiático a serviço do imperialismo americano, que torna tudo valor de troca igualmente ilimitado, satirizando os valores de uso.
20. Sob o ponto de vista do imperialismo americano, liberdade de expressão, nesse contexto, é isto: confusão, ódio entre oprimidos, divisão dos trabalhadores, como realização da universalidade abstrata, porém concreta, do dólar – valor de troca que transforma as peles negras, valores de uso, em máscaras negras, entendidas como valores de troca ou simplesmente escambos da pele branca (dólar).
21. O imperialismo americano, portanto, com sua fórmula pele branca (dólar)/ máscaras negras/petróleo alimenta o fundamentalismo expressivo das alteridades, com o objetivo de dividir os trabalhadores do contemporâneo, em escala planetária.
22. A liberdade de expressão, por isso mesmo, é a que nos divide, nos equivoca, nos faz odiar a gente mesmo, em nome do deus pele branca dólar.
23. A eficiência do imperialismo americano tem relação com o fato dele ter encontrado um modelo planetário para a luta de classes, ancorada na liberdade de expressão do ódio de trabalhador para trabalhador, do empregado para o desempregado, de rosto para rosto, ou, simplesmente, para dialogar com Fanon, de imanência singular das e nas pelas negras em detrimento da abstração universal da luta de classes.
24. Tudo é rosto e todos os rostos podem ser âncoras para o deus (pele branca) dólar, donde seja possível deduzir que tudo pode ser religião, fundamentalismo. Maio de 68, sob esse ponto de vista, por mais instigante que tenha sido, se tornou um rosto religioso a serviço do imperialismo americano, que edita e reedita a tudo, transformando a liberdade de expressão dos rostos das alteridades em energia de combustão de seu domínio planetário.
25. Pelo fato de o dólar deus (pele branca) ter substituído a luta de classes como universalidade da civilização burguesa, reeditando-a por meio da liberdade de expressão das máscaras negras dividindo-se atomicamente, maio de 68 se tornou também máscara negra, mais um ponto de ancoragem para o deus dólar (pele branca), não sendo circunstancial, sob esse ponto de vista, que seus herdeiros sejam os mais estilizados narcisos, geralmente cínicos, do contemporâneo. São, com raríssimas exceções, uns porra-loucas reacionários quanto mais se expressam livremente.
26. É aqui que uma metamorfose curiosa ocorreu com os rostos contemporâneos (claro, isso inclui os ainda vivos) de maio de 68. No geral, se apresentam como despojados, sexualmente liberados, mas quando o assunto é o mundo universal/concreto da opressão de classe, riem satiricamente. Dizem, debochando, que já não estamos no século 19, que não existem classes sociais, que o mundo é outro e, de forma maniqueísta, dizem que todo maniqueísta é burro. Além do mais, é comum se apresentarem orgulhosamente como laicos, mas logo se nota que adoram o deus dólar (pele branca). São uma caricatura deles mesmos, satíricos com quase tudo, menos com a presunção deles, menos com a multiplicidade ambulante deles, menos com o vinho caro – menos com o dólar (deus olímpico, pele branca). São enfim e em começo uns ultramodernos estilizados, reacionários.
27. Embora lamentamos a morte de todos os assassinados do jornal satírico francêsCharlie Hebdo, este tem mantido uma linha editorial herdeira da geração capturada de maio de 68, ao se expressarem livremente por meio de uma sátira preconceituosa por partir do ponto de vista do humanismo ocidental, desvinculando assim este do seu lado nu: o terrorismo.
28. Denunciar satiricamente o strip-tease dos fanatismos religiosos sem considerar sua relação com a vestimenta humanista do sistema de opressão ocidental é ser simplesmente uma arma de guerra dos imperialismos europeu e americano.
29. A sátira é um gênero diabolicamente divino, singular, mas quando debocha, carnavalizando de baixo para cima, as idealidades, os rituais e as mistificações ideológicas dos poderosos, principalmente tendo em vista o estilo de vida deles, na sua configuração histórica, laica, supostamente humanista.
30. A sátira se inscreve como o horizonte insubstituível da liberdade de expressão, dilatando-a criativamente, quando, avacalhando, retrata os poderes instituídos de uma dada época em flagrante posição de cócoras, como animais, como risíveis, como mortais.
31. A sátira é a liberdade de expressão, quando desmistifica as religiões, (no geral vividas como tradições históricas, como instituições respeitáveis) dos grandes poderes de sua época.
32. A sátira é o gênero dos gêneros quando carnavaliza as hierarquias, as táticas e estratégias dos plutocratas, pondo-as de quatro, fazendo-as latir, grunhir, escorregar nas suas contradições, peidar.
33. A sátira é magnífica quando inverte a ordem cínica do mundo, ao passar uma rasteira em tudo que é alto, divinizado, reverenciado, exclusivo, com muita gargalhada, escárnio, plasticidade, ousadia, petulância.
34. A sátira, enfim e em começo, abre janelas para o porvir quando, desmistificando-nos despudoradamente, não apenas demonstra que somos todos uns bichos humanos, mas também quando denuncia as desigualdades, pois só assim será a revolução do riso, desautorizando, no nosso presente, principalmente o Ocidente, com suas guerras infinitas, o Ocidente e suas multinacionais criminosas, o Ocidente e seus dólares peles brancas, o Ocidente e seus imperialismos genocidas travestidos de civilização, de poesia, de refinamento educacional, de saberes respeitáveis, de rigores.
35. A sátira é o horror dos rigores ideológicos dos vencedores de uma dada época, pois lhes joga na cara a pantomima de suas aberrações genocidas, metamorfoseadas em humanismos.
36. A sátira pode ser o gênero dos gêneros quando, no contemporâneo, torna-se o strip-tease daquilo que o imperialismo americano designa como direitos humanos pois demonstra, ou pode fazê-lo, que estes são a aberração trágica, terrorista, do direito à vida coletiva, o mais sagrado de todos, porque é a condição fundamental para qualquer outro; porque é o princípio dos princípios, nascido do chão de existir – esse lugar em que todo riso é satírico não por natureza, porque a sátira jamais será natural, mas porque histórico, humano, demasiadamente humano; porque é de onde brotamos igualmente, para rirmos com os mais simples e não deles.
37. É precisamente por isso que satirizar as religiões tradicionais, o islamismo, o cristianismo, o judaísmo, como fazia e faz o jornal francês Charlie Hebdo, é não apenas uma ingenuidade mas antes de tudo uma crença fundamentalista advinda da pior forma de religião possível, a saber: a que confunde a dimensão laica do chão de existir, que é a igualdade a que estamos desafiados a inventar, (por meio da luta de classes planetária) com a religião dos oligarcas e principalmente com a religião do imperialismo americano, com sua falsa universalidade (não) humanista dólar (pele branca); e o é por uma razão muito simples: o imperialismo americano trabalha todos os dias do ano com o objetivo de transformar a humanidade toda em refém do ódio religioso tradicional, inclusive nos transformando em religiosos subjetivos.
38. Nada mais conveniente, para o imperialismo americano, portanto, que a perspectiva editorial satírica praticada pelos cartunistas do jornal Charlie Hebdo. Ao achincalhar as religiões milenares, o faziam e o fazem como fieis colaboradores da mais fanática delas, no contemporâneo: a rostidade divinizada dólar (pele branca), abstração monetária ancorada no ódio religioso, usado como bomba de combustão alimentada pelas máscaras negras de todo o planeta, além de ser igualmente manipulada como peça geopolítica contra China e Rússia e também, o que muito é pior, como pretexto para invadir países, bombardeá-los, não sendo circunstancial os exemplos de Iraque, Afeganistão, Líbia, Palestina, Síria, Sudão, Somália, Iêmen; o mundo todo.
39. Se, vivos, os caricaturistas de Charlie Hebdo eram nada mais nada menos que os satíricos satirizados ou idiotas úteis da pele branca (dólar) abstração monetária do imperialismo americano, mortos se tornaram combustível para a inclusão/combustão de mais um grupo humano fanaticamente bombástico a seu serviço: os europeus, instigados à liberdade de expressão para se tornarem o Emirado Cristão Europeu.
40. Em nome de Cristo, do humanismo eurocêntrico, da religião laica ocidental, os tambores do ódio religioso agitam a Europa, especialmente o país da Revolução Francesa, preparando-se para futuras vetustas guerras contemporaneamente milenares.
41. Curiosamente, a religião mais fanática de todas, o sionismo, strip-tease do judaísmo, é também a mais, por paradoxal que pareça, laica. É ela que arregimenta seus mártires, a saber: o Emirado Islâmico, o Emirado Europeu, o Emirado Midiático, em nome da pele branca/dólar do imperialismo americano, sendo a sua religião milenar.
42. O império do caos, a pele branca (dólar) estadunidense, quer que todos sejamos fanaticamente (o que significa belicosamente) sua âncora petrolífera explosiva, dividindo-nos para nos tornar senhores da liberdade de expressão do ódio a nós mesmos. Com isso, satiriza-nos, pondo-nos de quatro.
43. Para romper essa aliança suicidária, entre a pele branca (dólar) abstração universal com sua equivalência carnal nas máscaras negras (petróleo), agora com a inclusão do Emirado Cristão Europeu, Fanon ofereceu-nos a resposta: revolução criativa, apta a liberar o homem de seus infantilismos, se e quando estiver lastreada em outro sistema de equivalência, a saber: da abstração (sempre vivida como concreta) universal da luta de classes ancorada nos povos do mundo, singulares e imanentes, tendo em vista um combate sem tréguas ao imperialismo europeu, ao americano e/ou a qualquer outro.
44. O sistema de equivalência revolucionário, para o contemporâneo, é este: abstração universal da luta de classes, vivida como valor de uso no cotidiano dos povos, o que só será possível se aprendermos a satirizar a sátira que o sistema midiático corporativo realiza sem cessar da humanidade inteira, editando e reeditando-nos ilimitadamente como reificados e reificantes; como subjetividades isoladas, divididas, presunçosas, infantis.
45. A luta de classes, portanto, mais do que nunca necessita se inscrever no interior do sistema midiático, sem ilusões com as novas tecnologias, no geral vividas como suportes virtuais da liberdade de expressão da e pelo dólar (pele branca); suportes que têm como strip-tease os valores de uso transformados Emirado Islâmico, al-Qaida, talibãs, o Emirado Cristão Europeu, alteridades narcísicas, isoladas.
46. Para manter o sistema de abstração ilimitado do dólar (pele branca), o imperialismo americano ao fim e ao cabo satiriza os valores de uso e o faz agitando-os fanaticamente, explosivamente.
47. Ou nos editamos planetariamente, afirmando o porvir, como valores de uso, contra toda abstração monetária e seus valores de troca entre máscaras negras isoladamente/satiricamente editáveis; ou devoraremos, como parasitas, o futuro, neste presente em combustão objetivamente subjetiva.
(Texto de Luís Eustáquio Soares)

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Luis Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura no Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A FIGURA DO ABISMO



O cenário: nossa sociedade, em que os sujeitos se encontram profundamente agenciados e o índice do que tenha ou não qualidade na manifestação artística deixa de ser os aspectos artísticos e filosóficos e se transfere para o seu potencial de entretenimento, e portanto a capacidade da obra reduzir-se a mero objeto mercantil consumível por um lucrativo número de pessoas

em que a “arte culinária” (termo cunhado por Theodor Adorno ao se referir a essa falta de profundidade) domina a percepção e se faz positivamente valorada; na qual, em se tratando do texto ficcional em prosa, logra ser julgado “bom” pela avaliação mediana apenas o enredo cujos códigos de interpretação se fundam na realidade concreta para crismá-la no imaginário. O evento: o recente lançamento pela Secult de O sismo particular, livro de contos de Herbert Farias. O terceiro do autor, desde 2009.     

Os 37 contos da obra se inscrevem no insólito, discurso ficcional a respeito de que não se pode afirmar exatamente recuse a realidade concreta, mesmo porque é preciso a contraposição para, mediante o contrataste, instaurar-se o insólito. Sua estratégia é inviabilizar a leitura realística e estruturada na verossimilhança externa, ou seja, o discurso insólito nega o real enquanto modelo que posa para a edificação do texto, esse real fetichizado como uma pin-up. Ao fazer isso, o insólito subverte a lógica racionalista, forçando uma leitura noutras bases.

Herbert não facilita a vida daquele leitor acostumado a uma semântica sem abalos sísmicos, a tramas comportadas. Sob esse aspecto, sua prosa dialoga com a de outros autores capixabas, como Bernadette Lyra (mormente em seus primeiros trabalhos) e Miguel Marvilla (1959-2009), salientando que boa parte da produção contística deste era francamente um exercício poético, ao passo que em Herbert o estranhamento ocorre muito mais pela trama, o que não impede a presença da prosa poética eventual, como em “Nos fones de ouvido do carcereiro, impessoas antilúdicas explodiam crianças e velhos em volume miserável” (No cativeiro), embora estejam nos fenômenos e situações as marcas mais relevantes do insólito em O sismo particular. No primeiro caso temos, por exemplo, A nuvem, em que uma substância química fabricada em laboratório, e pairando sobre uma cidade devido a um acidente, induz os moradores a assassinarem seus desafetos; no segundo quesito, em Memorial do triunfo temos “A caixa que guarda meus charutos épicos são as costelas cristalizadas de um menino de oito anos, cujo pai recusou-se ao pagamento de impostos”.

Em O sismo particular, o percurso textual entre superfície e profundidade é a figura do abismo, uma das constantes do livro. Com relativa economia vocabular, a queda é um dos instrumentos que conduz tramas e personagens a um universo nada simples, bem abstrato e não reificado, mas, apesar disso, profundamente correlato ao real em função das vias simbólicas abertas. Assim, quando Teroxyca, Epílogo incansável e Damião falam de queda, esse abismo fabulado no insólito nos dá de certa maneira a sensação de concretude não apenas porque a vida contemporânea é abissal: é como se, ao estilhaçar o verossímil, dos destroços fosse mostrar-se uma verdade imamente que, perpetrada na ficção, dialogasse com o real por fazer parte de um universo maior, uma grande estrutura de sentimento.  

(Texto de Eduardo Selga publicado em “C2 + Pensar”, do jornal A Gazeta, em 17 de janeiro de 2015)


Eduargo Selga é professor de Língua Portuguesa e mestrando em Literatura pela UFES.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

LACAN, O 'JN' E A MORTE DE EDUARDO CAMPOS.


O que é a repetição? Na psicanálise lacaniana é o que insiste na borda do vazio. Algo que pode ser tanto o semblante do mundo, tal como nele nos instalamos; tanto pode ser o saltar-se pra terceira margem do rio, instaurando a possibilidade de um discurso que não fosse semblante.
São quatro os discursos do mundo, ainda em diálogo com Lacan: 1) o discurso do mestre ou do senhor; 2) o discurso do universitário ou do saber ou do escravo; 3) o discurso da histérica; 4) e o do analista. Nenhum discurso está fora do semblante pela evidente razão de que seja o próprio semblante, o do mestre ou do senhor, o do escravo ou do saber, o da histérica e o do analista.
Semblantes, todos o somos.
O primeiro discurso, o do mestre ou do senhor, constitui o lugar do mais-de-gozar. Este, em termos de capitalismo, é a instância transcendental da mais-valia entendida como o mais-de-gozar do burguês ou de Deus ou das oligarquias. O segundo, por sua vez, o do escravo ou do saber, constitui-se como o semblante do gozo do mais-de-gozar do mestre ou do senhor. Se este funciona como semblante abstrato e transcendental no seu mais-de-gozar, aquele é sua encarnação gozada, gozando, gozante. O escravo e/ou o saber goza o mais-de-gozar do mestre ou do senhor, como se fosse, e é, o semblante encarnado de poderes ocultos e ausentes, que se fazem presentes através dele, do oprimido.
É por isso que tanto no campo das esquerdas, que supostamente se colocariam como representantes do discurso dos oprimidos; quanto no campo da universidade, instituição que fala em nome do saber, não existem, neles mesmos, linhas de fuga para a produção de um mundo realmente justo e livre, pois são o semblante em gozo do mais-de-gozar do mestre ou do senhor. Sem o oprimido ou o saber, o mais-de-gozar do burguês ou das oligarquias se constituiria como um sólido semblante do nada, desmanchando-se no ar.
Gozo do opressor
É aqui que entra o discurso da histérica, que tem a vantagem de pôr em crise o gozo do escravo ou do saber, pois a histérica é a que cobra diretamente do senhor e do mestre o gozo e o mais-de-gozar. O que a histérica quer é que o senhor e o mestre gozem e ao mesmo tempo mais-gozem. É por isso que seu discurso é um semblante, como todo discurso, mas também uma repetição de algo que está ou pode estar na borda de um discurso que não fosse semblante, porque o senhor e o mestre não podem gozar e mais-de-gozar ao mesmo tempo.
A histérica exige que o mestre ou senhor o seja de fato, para além do semblante. Ela é a borda do vazio. Um triz para a produção de um discurso que não fosse semblante, mas também, se capturada pelo saber ou pelo senhor (o que é o mais comum, tragicamente), constitui, em seu sofrimento, o próprio curto-circuito de um mais-de-gozar que é um gozar; o corpo do escravo e do saber como caricatura de oligarquias ou de Deus ou, ainda e ao mesmo tempo, o discurso do mestre e do senhor caricaturalmente encarnando o discurso do escravo e do saber.
Apenas, pois, produzindo um furo no saber e uma perspectiva de desopressão, em relação ao gozo do escravo que a histérica poderia produzir um discurso que não fosse semblante. Este é a possibilidade, a única, de produção de outro mundo. O discurso do analista, por isso mesmo, deve exercitar-se pra produzir-se como o histérico, mas sem o gozo do saber e do escravo e, é claro, sem o mais-de-gozar do mestre e do senhor. O discurso do analista, pois, é impossível – o lugar do não semblante. Uma histérica que não fosse semblante. Logo, que não fosse nem o gozo do escravo e do saber, nem muito menos o mais-de-gozar do senhor e do mestre e, portanto, uma histérica que não fosse histérica.
Essa digressão necessária tem como objetivo o seguinte axioma: o oprimido é o semblante em gozo do mais-de-gozar do opressor. Não é, pois, por si mesmo, o lugar da emancipação, da justiça. Por outro lado, porque é também histérico (todo oprimido é histérico), traz em si a possibilidade de produzir um discurso que não fosse semblante.
Época fundamentalista
Isso significa dizer que o oprimido tanto pode encarnar o mais-de-gozar do senhor, gozando seu despotismo de forma caricatural, genocida, como pode lançar-se no vazio, o futuro, e produzir um discurso que não fosse semblante, isto é, que não fosse nem o discurso do mestre e do senhor, nem o discurso do escravo e do saber, nem o discurso da histérica – mas um mundo de infinita igualdade, ao qual, não existe designação melhor, com Marx, damos o singelo nome de comunismo, esse advir, se futuro tivermos, de um discurso que não fosse semblante – isto é, que não fossem hierarquias, opressões, oprimidos, no qual e através do qual seríamos todos um sim à experimentação ininterrupta, e coletiva, sempre, do discurso do analista – na borda do impossível: a igualdade sem fim.
E qual o cenário contemporâneo? Como se dá o jogo entre o discurso do mestre ou do senhor e o discurso do escravo e do saber, na atualidade? Vivemos mesmo numa época curiosa. Difícil de analisar. Pela seguinte razão: hoje o oprimido faz o inverso da histérica. Ao invés de delegar pro senhor e pro mestre o gozar de seu mais-de-gozar, como faz a histérica, o que seria o mesmo que exigir que o mestre ou o senhor trabalhe, sem parasitismo, pra produzir mais-valia, sem explorar a ninguém, o oprimido, hoje, no geral deseja fazer o inverso, a saber: quer ser o próprio mais-de-gozar do senhor e do mestre. Com isso, o que efetivamente realiza é o semblante de seu gozo caricatural, diria trágico, pois mata e se mata para e em nome do mais-de-gozar do mestre e do senhor.
E quem são os mestres e os senhores do contemporâneo? São, é preciso designá-los sem pestanejar, a oligarquia americana, europeia e sionista, essa trindade que ocupa o polo da transcendência do mais-de-gozar do mestre e do senhor e que põe todo o planeta gozando o semblante de sua mais-valia, matando e se matando em seu nome. Essa é a realidade e a realidade nada mais é que o discurso do senhor e do escravo funcionando, em harmonia, se assim pode ser dito.
Mas como o oprimido pode querer o discurso do mestre e do senhor, se é oprimido? Como pode mais-de-gozar, se seu lugar no semblante é o do gozo? Claro que isso não é possível, razão pela qual só se realiza no plano religioso. É por isso que seja possível dizer que vivemos numa época extremamente religiosa, fundamentalista, pois o nosso é um tempo em que o oprimido quer ser Deus e, querendo, mata e se mata em nome de Deus, vale dizer, em nome do discurso do mestre ou do senhor.
Segundo turno
O gozo do oprimido na atualidade é fundamentalista e está pronto pra tudo: pra matar e pra morrer. Claro que essa situação não ocorre apenas entre os fieis islâmicos. Esse é um fenômeno planetário. Orquestrado para ser o que tem sido.
E a partir daqui, chega-se ao caso da morte de Eduardo Campos, no Brasil.
Dois argumentos são possíveis e convergentes (claro, e uma infinidade de outros) para analisar esse trágico acidente que o vitimou, assim como mais seis pessoas, tão importantes quanto ele e quanto nós – porque eram vivos como continuamos a ser. O primeiro argumento tem relação com a furada em que se meteu Eduardo Campos e nos metemos todos nós quando nos colocamos na posição de gozar o mais-de-gozar do senhor, sobretudo o senhor imperialismo americano-europeu-sionista. Gozar, como semblante desse lugar, é, hoje mais do que nunca, pedir pra matar e pra morrer.
Não existem alternativas, sob esse ponto de vista. É matar e/ou morrer a fim de nos suicidar-nos em nome do imperialismo americano-europeu-sionista. Esse semblante do senhor da civilização burguesa quer que sejamos kamikazes, como escravos, do gozo de seu mais-de-gozar, ao matar-nos e matar para combater um mundo multipolar. Quer, portanto, que nos matemos para combater antes de tudo a China e a Rússia, com a promessa de um lugar garantido ao lado direito de Deus, no paraíso do mais-de-gozar do mestre da eternidade.
Nas três últimas eleições presidenciais, sem a interferência do Partido da Imprensa Golpista (PIG), o PT – duas vezes com Lula e da última vez com Dilma Rousseff – teria muito provavelmente ganhado as eleições no primeiro turno. Não terá sido, pois, circunstancial, que Heloísa Helena, candidata a presidência, há oito anos, pelo PSOL, tenha sido midiatizada e, portanto, usada com o objetivo de contribuir, gozando o semblante do discurso do senhor, para a emergência de um segundo turno, quando concorreu com Lula da Silva. Também não foi mero acaso que, há quatro anos, Marina da Silva, então candidata pelo Partido Verde, por igual motivo tenha sido aureolada pelo semblante espetacular das mídias corporativas para servir aos propósitos de um segundo turno. Eduardo Campos foi a bola da vez, razão pela qual foi devidamente midiatizado, tal como Heloísa Helena e Marina da Silva, para gozar o semblante de um desejado segundo turno golpista, num cenário de adversidade eleitoral para a oligarquia senhorial brasileira.
O semblante dos semblantes
Como não estava cumprindo o lugar de semblante designado para ele pelo discurso do senhor do imperialismo americano-europeu-sionista, de alguma forma, Eduardo Campos devia sucumbir. Tornar-se uma carta fora do baralho. Tragicamente, isso aconteceu através de um acidente de avião. Mais um trágico “acidente” de avião, esse é o terceiro, que ocorre no Brasil durante a campanha eleitoral para presidente, desde a era Lula. Mera coincidência!?
E, eis, finalmente, o segundo argumento, ainda que hipoteticamente. Existe, sim, a possibilidade de tudo ter sido arranjado, planejado. Existe, pois, a possibilidade de Eduardo Campos e as seis pessoas que o acompanhavam terem sido assassinadas para que Marina da Silva viesse a ser (e já foi) colocada em seu lugar, como semblante em gozo a serviço de um segundo turno e, no limite, a serviço, como presidente eleita (esconjuro!) do e para imperialismo americano-europeu-sionista.
Essa possibilidade, a de que Eduardo Campos e seus seis assessores tenham sido assassinados, deve ser, sim, considerada. E ela é tanto mais factível quanto mais ficamos sabendo que não há registro de voz na caixa-preta encontrada nos destroços do avião e, pasmem, que o áudio obtido, conforme o comunicado oficial da Força Aérea Brasileira (FAB), não corresponde ao do voo em questão.
Mera coincidência? Talvez, assim como não menos “talvez” seja uma inocente coincidência que a diligente polícia investigativa brasileira, ciosa de sua funcionalidade sistêmica, tenha contratado “especialistas americanos” para “ajudar” nas investigações, como se pudessem ser neutros; como se não fossem a priori o semblante da carniçaria que se espalha pelo mundo, com seus discursos de saber que nada mais são que o gozo especializado do mais-de-gozar da rapina do imperialismo americano-europeu-sionista, que extorque, genocida todo o planeta, em nome de seu divino direito de ser o semblante dos semblantes, de forma absolutamente unipolar.
O Judas de Eduardo Campos
Tudo, como roteiro de uma crônica previamente anunciada, parece coincidir, convergir, confabular a favor da impunidade, da, enfim, versão que deve prevalecer, ratificar-se: foi mesmo um trágico acidente de avião que matou o candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos – e mais seis pessoas que faziam parte de sua equipe de campanha! Nada mais.
Coincidências e “inocências” assim só são possíveis no plano do semblante do escravo gozando o discurso do senhor, pois, nesse lugar, o gozo do que fazemos, escolhemos, investigamos, enfim, o gozo de nossas diligências, nossos esforços, é, no geral, transformado em mais-valia pelo senhor, que mais-nos-goza: Tio Sam, que invadiu o mundo inteiro, mais-gozando a partir de nossos subservientes gozos colonizados.
De qualquer forma, se a versão que ora apresento for possível, se o que houve foi um assassinato planejado com o objetivo de transformar Marina da Silva em candidata a presidente do Brasil, num conveniente cenário de manipulação catártico/midiática da morte de Eduardo Campos, a data escolhida para o trágico dia de sua morte (assim como a de seus seis assessores), a manhã seguinte da noite que precedeu a sua entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, dia 13 de agosto, terá sido apenas mais uma coincidência? Será igualmente coincidência que o dia 13 de agosto seja o dia da morte do avô de Eduardo Campos, o conhecido político de viés progressista, Miguel Arraes, a quem Eduardo Campos traiu pelo simples motivo de ter aceitado compor o cenário de uma farsa a serviço do Tio Sam? Alguém da TV Globo saberia de antemão da trama meticulosamente (ou seria melhor dizer, desesperadamente) planejada para dar cabo da vida de Eduardo Campos?
Independente disso tudo, efetivamente o Jornal Nacional se tornou o Judas de Eduardo Campos, imagem que uso sem querer minimamente comparar o ex-governador de Pernambuco a Jesus Cristo, o que ele não era e nunca foi, não obstante a tragédia que foi a sua morte e de mais seis pessoas, como o é a morte de qualquer ser vivo deste planeta.
Um discurso sem mortificação global
Jornal Nacional, independente de qualquer trama, havida e não havida, insisto, é mesmo um felizardo, se o compararmos aos outros canais e jornais da televisão brasileira. Afinal, coube a seus atores, quero dizer, performáticos funcionários travestidos de jornalistas, William Bonner e Patrícia Poeta, transformar – ou tentar – em catarse nacional a morte de Eduardo Campos, divulgando (mera coincidência?) as últimas imagens dele vivo, inclusive a de um café que precedeu a entrevista, onde apareceu rindo com os entrevistadores, festivamente.
Se comecei este texto falando em repetição, sob o ponto de vista da psicanálise de Lacan, foi para fechá-lo alegando que o gozo do escravo, como semblante, constitui a festiva antessala de sua morte sacrificada em nome do soberano. Infelizmente esse foi o destino trágico de Eduardo Campo, tanto mais trágico quanto mais editável pelo urubu imperialista global.
Esperemos e lutemos, por outro lado, para que, em nome do que havia de singular em Eduardo Campos, afinal somos muitos; em nome de um discurso que não fosse semblante dele e nele, quando vivo, em nome enfim dos vivos, que o Jornal Nacionaljamais seja eleito o novo presidente do Brasil. Que o semblante da TV Globo não seja jamais o nosso lugar de gozo e que em relação a ele possamos contribuir para produzir um discurso que não fosse semblante – o da vida, sem mistificação e, portanto, sem mortificação global.
O resto é teoria da conspiração, que não ousa dizer seu nome.
(Texto de Luís Eustáquio Soares)
                                                       

Luis Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal do Espírito Santo.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O 'MATHEMA' DO GOLPE OLIGÁRQUICO NA VENEZUELA


Tão interessante quanto a conferência “O que é o autor?”, realizada por Michel Foucault em 1969, na Sociedade Francesa de Filosofia, foi a intervenção, em forma de debate, de figuras como Lucien Goldmann, Jacques Lacan, J. d’Ormesson, J. Ullmo e J. Wahl, pois de uma forma e de outra todos os presentes tocaram naquilo que Foucault não falou explicitamente embora lá estivesse todo seu argumento acerca da questão autoral ou mesmo a questão do sujeito, a saber: na estrutura, no estruturalismo.

O principal argumento de Michel Foucault sobre o autor não se centrou na sua existência ou não existência, na sua morte ou não morte. Foucault evitou a falsa polêmica, como a de saber, por exemplo, se Deus existe ou não existe. A premissa que sustentou seus argumentos foi: a questão que importa não é a da morte do autor, mas a da função que cumpre em um regime discursivo de uma época, entendendo por este o conjunto de práticas discursivas que esquadrinha um determinado tempo histórico, seja sob o ponto de vista da criação, sob o ponto de vista científico ou mesmo sob o ponto de vista dos discursos correntes no cotidiano das maiorias.

A questão para Foucault, portanto, era: por que no campo, por exemplo, da criação literária se permite a presença de um autor experimental, revolucionário e, por outro lado, no campo discursivo das ciências econômicas a simples referência a um autor experimental soaria como absoluta falta de rigor científico? Qual o peso social que tem o discurso literário em relação ao discurso econômico? Imaginemos, em todas as faculdades de economia do mundo, o incentivo teórico à ideia de autoria experimental, insubmissa, iconoclástica? Se isso ocorresse teríamos economistas que funcionam como verdadeiros guardiães do status quo, da propriedade privada?

Imaginemos, para prosseguir o raciocínio, que, nos cursos de direito, o rigor, o necessário, o certo fosse o incentivo teórico a um direito experimental, radicalmente histórico e, portanto, absolutamente aberto a se rever permanentemente, tendo em vista a igualdade e o fim de qualquer forma de privilégio? Se isso ocorresse teríamos um Gilmar Mendes, um Joaquim Barbosa? Por que na literatura se permite e mesmo se incentiva uma autoria insubmissa, ávida de realizar sátiras com os burgueses, os sérios, “a moral e os bons costumes” e no campo do direito uma jurisprudência satírica, apta a debochar dos ricos e dos privilegiados, desconstruindo juridicamente suas farsas ideológicas, é absolutamente impossível, nos termos da ordem discursiva do contemporâneo?
 
As contradições entre opressores e oprimidos

A função incentivada e justificada teoricamente para o autor num campo discursivo e noutro, suas semelhanças e diferenças, seus “pode aqui” e “aqui não” determinam o regime discursivo de uma época e, portanto, a ordem hierárquica dos discursos, mantida ferreamente com objetivo de garantir, via saber, os lugares sociais de diferentes perfis humanos: aqui fica o oligarca, de modo intocável, porque é o que arrisca, o que investe, o que gera riquezas; ali fica o trabalhador, porque não ousa, porque é medíocre; porque não tem capacidade de aproveitar as oportunidades que o mundo da economia oferece.

Ao pensar a questão autoral em termos de função que cumpre o autor num campo discursivo ou noutro, investigando semelhanças e diferenças, Foucault se valeu, mesmo que não o tenha admitido, da ideia de estrutura, tendo em vista a seguinte premissa: existe uma estrutura social, que é também econômica, que é também mental, que é também linguística que é também epistemológica, que é também jurídica, que é também cultural que é, portanto, civilizacional.

Chamemos de mathema essa estrutura social/econômica/cultural de uma dada época. O mathema estrutural é o que permite que uma dada civilização possa se reproduzir ao infinito, mesmo diante de injustiças, de contradições, de guerras e genocídios. O mathema é, portanto, o próprio regime discursivo e sua imanente ordem igualmente econômica, social e cultural.

É precisamente aí, no mathema estrutural, que Marx errou o diagnóstico ao afirmar que as contradições da civilização burguesa, estruturalmente inscritas no campo da luta de classes, gerariam quase que naturalmente os germes de seu fim. Marx errou o diagnóstico porque o mathema estrutural da sociedade burguesa é o que reproduz sem cessar as contradições entre possuidores e não possuidores dos meios de produção; entre opressores e oprimidos, exploradores e explorados.
 
O atual estágio da civilização burguesa

Apenas uma vontade coletiva (e isso Marx teorizou com singularidade propositiva), consciente de si, pode mudar o mundo e para tal é preciso destituir o mathema estrutural de sua época. Para isso, é preciso inteligência igualmente coletiva para responder de forma ousada as seguintes questões: qual o mathema de nossa época? Como não reproduzi-lo mesmo pensando que o estamos destituindo? Como propor revolucionariamente outro mathema estrutural, outro regime discursivo outro mundo, portanto?

À primeira questão, elaboremos a seguinte hipótese, como resposta: o mathema estrutural do atual estágio da civilização burguesa é o da reificação de todos e de tudo, reproduzível infinitamente, entendendo por reificação precisamente a falsificação ideológica que faz com que vivamos como se não estivéssemos numa estrutura social específica, como se algo pudesse estar desvinculado do contexto estrutural de sua época. Tudo, absolutamente tudo, no contemporâneo é reificação: as identidades de gênero, étnicas, de classe, de nacionalidades; as línguas e suas variações, os saberes institucionais; o amor, a religião, os poderes constituídos, o que chamamos de Estado, o que chamamos de burguesia, de trabalhador, as multinacionais, os perfis humanos de modo geral, a violência, as guerras; as mercadorias, quem as tem e quem não as tem e o que acontece, como agem e reagem seus possuidores e seus não possuidores.

Tudo está reificado porque tudo é vivido como se não pertencesse a uma dada civilização, como se não fosse parte e contraparte dela num contexto em que a ilusão desse não pertencimento constitui a infinita força do mathema estrutural do contemporâneo: quanto mais saímos pelo mundo como se não fôssemos, nós e os demais, um pedaço dele, mais o reproduzimos, mais o dilatamos, mais o eternizamos; mais enfim somos e seremos a função sujeito ou a função autor da ordem discursiva e econômica de nossa atual época.

Como esse mathema da reificação de tudo e de todos não surge do nada sua razão histórica é uma só: a intensa divisão internacional do trabalho que tomou a humanidade toda, que é também uma divisão internacional dos saberes, das técnicas, das mercadorias, dos processos econômicos, das identidades e mesmo ou talvez principalmente das ideologias. O mathema do contemporâneo, nesse sentido, é o da divisão, razão pela qual atuar nela é reforçá-la, é constituir-se como o próprio mathema, parte e contraparte do atual estágio da civilização burguesa.
 
A mentira da indústria cultural

A única forma de combater o mathema da divisão de tudo e de todos, que é também o mathema da reificação de tudo e de todos se dá no horizonte igualmente sem fim da não submissão a ele, o que só é possível não insistindo, não desejando e não cultivando e não nos capitulando perante a divisão internacional de tudo e de todos, tendo em vista cada vez mais a produção e a reprodução, em escala planetária, de mathemas da igualdade, antes de tudo econômica, num contexto de cidadania planetária, partindo com clareza não reificada da seguinte premissa: somos todos terráqueos e todos merecemos viver com dignidade.

Uma questão de método para se contrapor, não nos capitulando, ao mathema da divisão e da reificação, que seqüestrou toda a humanidade, é esta: as mídias corporativas ou simplesmente a indústria cultural são na atualidade o epicentro sísmico do mathema da reificação e da divisão de tudo e de todos, razão pela qual, suas reificadas mercadorias, incluindo redes sociais, uso de celulares e outros artefatos tecnológicos, tornaram-se cem por cento reificadas e reificantes – e não conhecem outra linguagem!

Como a reificação, além de um tremendo engano e autoengano é também uma escandalosa e não aceitável mentira (além de não aceitáveis hipocrisias e cinismos), sobre ela podemos afirmar sem medo de errar: as corporações midiáticas produzem uma indústria cultural planetária absolutamente mentirosa, cínica, hipócrita, porque só permitem uma linguagem, a reificação, a divisão, o cultivo de diferenças isoladas, descontextualizadas, estruturando-nos para nos iludirmos ou pensarmos (dá no mesmo, nesse caso) que não pertencemos à estrutura ou ao regime discursivo da civilização burguesa ou que, por outro mesmo lado, só esse mathema, o da divisão e da reificação é possível, situação paradoxal porque se estrutura a fim de que venhamos a crer na civilização burguesa como eterna, o próprio reificado fim da história, pois, além de reificar, produzir mercadorias reificadas e reificantes (e tudo é mercadoria em seu interior), ela mesma, a civilização burguesa planetária, se constitui como a própria reificação histórica, porque separada da/na histórica, embora seja simplesmente histórica, logo mutável, logo potencialmente passageira.

No horizonte do mathema da reificação, marca principal do atual estágio da civilização burguesa, a mentira faz parte do DNA da indústria cultural e, portanto, de suas instâncias promotoras, no horizonte das mídias corporativas televisivas, cibernéticas, radiofônicas, fílmicas, gráficas. E como sempre mentira é mentira em relação a algo, a mentira da indústria cultural do mathema da divisão como a única hipócrita verdade possível é por excelência em relação a tudo que não seja ou resista ou se ofereça como alternativa à divisão e à reificação gerais.
 
Os vestígios de igualdade conquistados em 15 anos

Sob esse aspecto consideremos (mais uma vez) o caso recente do golpe oligárquico em curso na Venezuela. O que está em jogo lá é evidentemente o controle da renda petroleira. Embora esta ainda esteja concentrada nas mãos da oligarquia, desde o primeiro governo de Chávez gradativamente parte dessa renda está sendo canalizada para a historicamente abandonada população venezuelana. Isso é uma verdade histórica, incontestável, bastemos para comprovar que observemos qualquer estatística com peso social, no contexto venezuelano da era Chávez/Maduro. Nunca, em toda história da Venezuela, os recursos advindos da renda do petróleo foram tão significativos na área da educação e da saúde públicas; da habitação, da infraestrutura urbana de transporte coletivo, do cuidado da infância, da velhice, da juventude, do acesso a alimentos mais baratos. Todas as estatísticas comprovam um significativo aumento de qualidade de vida da população venezuelana, não sendo circunstancial que das dezenove eleições (se não me engano) nos últimos 15 anos a revolução bolivariana perdeu apenas uma.

É, pois, o medo e o ódio à igualdade que movem a golpista oligarquia venezuelana, marcada por um desespero cada vez maior, seja porque não tem conseguido virar o quadro eleitoralmente, seja porque tem assistido com pavor uma gradativa perda do controle sobre a renda do petróleo. É o desespero dessa oligarquia, taticamente manipulado pelo imperialismo americano, que o financia e treina, que está nas ruas de Venezuela, de forma racista, sociopata e extremamente violenta em relação antes de tudo ao povo simples, seu verdadeiro inimigo de classe.

Como as mídias corporativas só conhecem reificação e como o lado humano da reificação adorada é o oligárquico, até porque tudo ocorre de oligarquia para oligarquia, é com a oligarquia venezuelana que elas ficaram e ficarão sempre, de versão para versão, conversão convertida, razão suficiente para dizer que tudo, absolutamente tudo que dizem, informam e mostram sobre o que está ocorrendo na Venezuela é mentira, enganação, reificação exaltada de sua oligarquia.

Para ratificar essa imagem paradoxal por si mesma de uma oligarquia oprimida pela polícia bolivariana os meios de comunicação oligárquicos utilizam evidentemente as armas do mathema da civilização burguesa: a divisão e a reificação que dominam o planeta. Como, conforme o que foi dito, a reificação significa simplesmente o jogo sem fim da descontextualização, tirando algo de lugar e colocando em outro, estrutura fundamental da atual fase do capitalismo planetário, não é circunstancial, sob esse ponto de vista, que seja isto que estejam noticiando (mentindo descaradamente) sobre o desesperado (e nem por isso menos planejado) golpe oligárquico na Venezuela: a reificação cinicamente revolucionária de uma oligarquia que no fundo e no raso vai às ruas para atacar violentamente todos os vestígios de igualdade conquistados pelo povo venezuelano nos últimos 15 anos.
 
Uma urgente lei da comunicação

Para realizar esse surrealismo reacionário, de colocar como vítima os proprietários dos meios de produção, vale tudo e principalmente a descontextualização generalizada, não sendo por acaso que boa parte das imagens que circulam o mundo sobre a Venezuela não tem relação alguma com as suas manifestações golpistas oligárquicas, pois são imagens capturadas de outros lugares do mundo, do Egito, da Síria e inclusive do Brasil, apresentadas como se fossem provas cabais da repressão de um governo ditatorial – sinal, portanto, que o governo de Maduro está sendo bastante complacente com os golpistas.

É assim que funciona hoje a reificação das notícias no reino das mídias corporativas: a utilização do mathema da reificação e da divisão infinitamente como tática e estratégia para aprofundar uma humanidade dividida e reificada. Num mundo totalmente reificado a reificação é a arma contra todo princípio de igualdade, não sendo circunstancial que o principal inimigo desse modelo é: a contextualização, num contexto em que contextualizar é no limite contextualizar no âmbito maior da civilização burguesa.

Se a Venezuela tem conseguido resistir a esse ataque oligárquico planetário, ao mesmo tempo midiático, econômico, cultural, é porque lá, como em lugar algum no mundo, a revolução bolivariana produziu e tem produzido o que Gramsci chamou de bloco ideológico, o que só se consegue politizando a população contra a reificação generalizada da civilização burguesa.

É apenas por isso, e não é pouco, que Maduro ainda não foi derrubado pelo golpe oligárquico.
Por outro lado, a maior vulnerabilidade de Venezuela está relacionada com outro tipo de renda: a renda do espectro radioelétrico, ainda oligarquicamente concentrada, pois mais de oitenta por cento de seus meios de comunicação se encontram sob um restrito e golpista domínio oligárquico.

O governo bolivariano está na obrigação, para sobreviver e prosseguir avançando contra a reificação generalizada, de produzir uma urgente urgentíssima lei dos médios, tornando evidente como o reificado direito oligárquico à expressão nada mais é que o próprio lugar da censura – e do golpe contra um mundo de justiças, porque de igualdades.

(Texto de Luís Eustáquio Soares)

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Luís Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor do Departamento de Letras da Ufes.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

EVENTO MULTICULTURAL AGITARÁ VITÓRIA EM FEVEREIRO

Um super evento multicultural promete agitar Vitória em fevereiro. Trata-se do 'Poesia na Calçada', evento que reunirá cinema, dança, pintura, escultura, música, e literatura em um só lugar. Confira mais lendo a matéria completa.
Por Sandro Bahiense

O melhor evento multicultural do ano no estado
'Poesia na Calçada' promete agitar o ES em fevereiro

Cinema, dança, pintura, escultura, música, e literatura, tudo em um só lugar! Trata-se do 'Poesia na Calçada', evento elaborado pela Confraria dos Bardos que promete sacudir Vitória com o melhor de cada atividade artística. Com variado número de participantes, o evento ocorrerá a partir de 21 de fevereiro e desde já merece estar marcado em sua agenda.
Confira a programação completa abaixo:

- CINEMA - 
A partir das 14h

• Onírios Produções apresenta: Cinema? Aqui? Mas tem? - documentário (2010) - 15 min - Direção: Juane Vaillant e Ormando Neto. 
• Onírios Produções apresenta: A fantástica vida de Baffus Bagus Bagarius - ficção (2011) - 13 min 36 seg - Direção: Alexander S. Buck. 
• Outra vez #1 (2012) - 57 seg - Imagens: Erly Vieira Jr. / Edição: Sidney Spacini
• Outra vez #2 (2012) - 01 min 02 seg - Imagens: Erly Vieira Jr. / Edição: Sidney Spacini
• Outra vez # 4 (2012) - 43 seg - Imagens: Erly Vieira Jr. / Edição: Sidney Spacini
• Acaso - ficção (2011) - 11 min 13 seg - Direção: Cristiane Reis
• ES Cineclube Diversidade apresenta: Rasgue minha roupa - ficção (2002) - 10 min - Direção: Lufe Steffen. 
• ES Cineclube Diversidade apresenta: Nostálgico - ficção (2007) - 5 min - Direção: Eduardo Mello
• Como se fosse ontem - ficção (2005) - 6 min - Direção: Gustavo Moraes
• Até quando? - ficção (2008) - 18 min - Direção: Gustavo Moraes
• Baseado em estórias reais - ficção (2002) - 15 min - Direção: Gustavo Moraes
• A História do Puteiro mais antigo de Vitória - ficção (2011) - 11 min 19 seg - Direção: Sidney Spacini

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- EXPOSIÇÃO - 
Mostra de vários artistas na parte externa do Cine Metrópolis 

• Pinturas de Adelton Souza da Silva, Leonardo Luíz da Silva Araujo e Pâmela Pimentel dos Reis. 
• Desenhos em nanquim/formato A4 que recebem o nome de Poemas postais, de Angela Goulart.
• Esculturas e fotografias de Antônia Fernanda. 
• Exposição do varal poético “Secando” do Coletivo Literatura MarginalES. 
• Mostra de fotografias intitulada “Provando a Existência”, de Louisky. 
• Mosaicos de papel sobre D13 de Regina Célia Nunes. 
• Gravuras de Waldirene D'Ávila Bernabé Mota.
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- CULTURAL - 

18h: Dança artística 

• Double Style com Leonardo Rapman e Agda Feller
• Grupo Genies de dança pop coreana

18h30min: Apresentações musicais

• Thobias Lieven 
• Flávia Bonelli Silva / Fernanda Souza Soares 
• Alex Krüger 
• Eugênio Santos Goulart
• Patricia Eugênio / Daniel Silva 
• D'Silva-RP
• Mano Jô 

Durante o intervalo entre os músicos, ocorrerá a leitura e declamação de textos autorais dos escritores:

• Denise de Souza Pimentel 
• Jô Rodrigues 
• Marília Carreiro Fernandes
• Fabricio Costa
• Wagner Silva Gomes

21h: Sarau 

• Literatura MarginalES: declamação de poesias e lançamento do Zine (DES) Construção #2 
• Confraria dos Bardos

22h: Caminhada literária
• Distribuição de livros de autores residentes no Espírito Santo, de forma gratuita, na Rua da Lama 

Livros distribuídos:
Opala Negra, de Marília Carreiro Fernandes Fernandes. AmorS e outros contos, de Marília Carreiro Fernandes Fernandes. O riso que contrasta, de Fabrício Costa. Amadorismo, de Jô Rodrigues. Contos e Microcontos, de Sarah Vervloet. Material, de Marcelo S. Netto. Corações de Barro e outros contos, de Marcelo S. Netto. O Psicodélico Pacto Surreal, de Tonyzax. Poesia de quintal (zine), de D'silva. Gemagem, de Marcos Tavares. 

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Contato:

E-mail: revistadosbardos@gmail.com