segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MARISA MONTE: "O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE"


Perder o rumo é a coisa mais fácil do mundo no mundo da música. No tenso equilíbrio entre arte e indústria, o artista do primeiro time sempre se depara com um momento crucial: o surgimento de uma nova geração, tanto de fãs, quanto de concorrentes. Marisa Monte, 44, entendeu bem o espírito do tempo.
A carioca não lançava material inédito há seis anos. O título do novo trabalho, "O que Você Quer Saber de Verdade", pode ser uma interrogação ou uma afirmação, mas de certa forma explica bem a posição atual de Marisa.

De cantora que reinava no segmento de MPB sofisticada nos anos 90, com uma postura hippie-chic que se tornou referência para toda uma geração, Marisa participou do estouro do projeto Tribalistas em 2002 e seus mais de 2 milhões de discos vendidos, ao lado de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.

Mas, de lá para cá, Marisa sobreviveu ao menos a três gerações de novas cantoras. Vive num universo paralelo aos "blockbusters" Ivete Sangalo e Cláudia Leitte. E, na realidade da internet e redes sociais, teve que se adaptar a um público com interesses cada vez mais fragmentados.

Se há alguma "mensagem" no novo disco de Marisa, essa é uma espécie de elogio das questões essenciais da vida. Quase como subliminarmente, é como se a cantora convocasse os ouvintes a apreciar o antigo mundo, mais real e menos virtual.

Esse saudosismo pode vir na celebração de canções de amor, correspondidos ou não, como na primeira música de trabalho, "Ainda Bem" ("O meu coração/ já estava acostumado/com a solidão/quem diria que ao meu lado/você iria ficar"), ou "Depois" ("Depois/ de tantos desenganos/nós nos abandonamos/como tantos casais"). Marisa sabe bem que amor é algo que nunca sairá de moda.

Músicas como a faixa-título (com os versos "Solte os seus cabelos ao vento/não olhe pra trás/ouça o barulhinho que o tempo/no seu peito faz/faça a sua dor dançar"), "Seja Feliz" ("Seja feliz/com seu país/seja feliz/sem raiz"), ou "Nada Tudo" (de André Carvalho, que começa com "Nada, nada, nada/Tudo, tudo, tudo/ nada e tudo, eu não sei mais/o que não é inteiro") evocam um espírito hippie de desapego, de busca pelo essencial.

Há ainda a questão mais puramente prática de toda a operação. Marisa tem usado seu site e seus perfis nas redes sociais como única ferramenta de comunicação com o público, assim como Chico Buarque fez recentemente. É a eficaz maneira de interagir com multidões, manter a privacidade e evitar superexposição (além de perguntas inconvenientes de jornalistas).

E, principalmente, é o constante refinamento de sua maneira de produzir que garante o interesse de "O que Você Quer Saber de Verdade". Se tudo soa mais ou menos como nos discos anteriores, é porque Marisa sabe, como poucos artistas, cercar-se de amigos e algumas das melhores mentes do momento. Mantém a antiga parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown em várias faixas (quem quiser, vai encontrar ecos dos Tribalistas no disco). Se o disco não tem samba, outros gêneros, como tango, xote, mariachi estão ali, graças a participações de nomes como Pupillo (bateria), Dengue (baixo) e Lúcio Maia (guitarra), da celebrada Nação Zumbi, ou Rodrigo Amarante e Marcelo Jeneci. Até no videoclipe de "Ainda Bem" entra uma figura popularíssima, como o lutador Anderson Silva. A união faz a força, sabe Marisa.

Para quem quiser baixar esse grande disco, segue o link: http://www.mediafire.com/?smexs3kj4uqc7l4

CÁSSIA ELLER CANTA NANDO REIS


Para marcar os 10 anos da morte de Cássia Eller, chegou às lojas nesta semana uma nova coletânea da cantora. Intitulado "Relicário" (Universal Music), o álbum traz apenas composições de Nando Reis, inclusive a faixa-título, na qual o músico participa cantando e tocando.

Outra colaboração especial é de Gilberto Gil, cantando na faixa "Fiz o que Pude / Chororô".

Além de sucessos como "All Star", "O Segundo Sol", "Luz dos Olhos" e "Infernal", o disco apresenta três canções inéditas: "Baby Love", "As Coisas Tão Mais Lindas" e "Um Tiro no Coração". As duas últimas também trazem duetos de Nando Reis com a intérprete.

Cássia Eller morreu aos anos, no dia 29 de dezembro de 2001, em decorrência de overdose.


30 SECONDS TO MARS: MTV TRANSMITE SHOW ACÚSTICO


Os fãs da banda norte-americana 30 Seconds to Mars poderão conferir um show realizado em Nova York em maio de 2011. A MTV exibe nesta terça-feira, dia 1º, às 23h30, o "Especial MTV - Unplugged 30 Seconds to Mars".

Para o Unplugged, o grupo liderado pelos irmãos Jared Leto e Shannon Leto preparou um setlist só com músicas de seu último álbum, "This Is War" (2009), incluindo os singles "Hurricane" e "King And Queens", além do cover de "Where The Streets Have No Name", do U2.

O 30 Seconds to Mars recebeu três indicações ao EMA 2011: Melhor Banda Alternativa, World Stage e Maiores fãs (categoria que testa a base de fãs dos artistas, também concorrem Lady Gaga e Justin Bieber, entre outros).

Os vencedores serão revelados na cerimônia de premiação da MTV europeia, que está marcada para acontecer no próximo dia 6.

Confira os horários de exibição do Unplugged 30 STM:
Estreia:
terça-feira, 01/11, às 23h30
Reprises:
quarta-feira, 02/11, às 21h e às 2h, quinta-feira, 03/11, às 10h30, sábado, 05/11 às 12h30.

ÁLBUM PÓSTUMO DE AMY WINEHOUSE


Foram oficializadas as informações sobre o álbum póstumo deAmy Winehouse. O disco se chama “Amy Winehouse Lioness: Hidden Treasures e tem lançamento marcado para o dia 5 de dezembro.

O álbum foi estruturado pelos produtores de Mark Ronson e Salaam Remi, que trabalharam com Winehouse em Back to Black (2006) e Frank (2003), respectivamente.’

“Hidden Tresures traz 12 faixas, com canções inéditas, gravadas no início deste ano, versões alternativas de "Wake Up Alone", "Tears Dry On Their Own" e "Valerie", e material nunca lançado das sessões de gravação de seus dois primeiros discos. Entre os destaques estão uma versão de "Garota de Ipanema", das gravações de Frank, e a inédita "Like Smoke", dueto com o rapper Nas. "Body & Soul", dueto com Tony Bennett, também estará no disco.

Confira a lista de faixas de Amy Winehouse Lioness: Hidden Treasures:

01. "Our Day Will Come"
02. "Between The Cheats"
03. "Tears Dry"
04. "Wake Up Alone"
05. "Will You Still Love Me Tomorrow"
06. "Valerie"
07. "Like Smoke"
08. "The Girl From Ipanema"
09. "Halftime"
10. "Best Friends"
11. "Body & Soul"
12.
"A Song For You


sábado, 29 de outubro de 2011

JOTA QUEST 15 ANOS - UM SHOW PARA INDICAR


Pra quem me conhece sabe que não sou de comentar shows passados, mas hoje o farei por dois motivos: Primeiro porque o show mereceu. E segundo, que é o mais importante, porque provavelmente o Jota Quest voltará a tocar no ES (provavelmente no Mais em Meaípe - Guarapari, como ocorreu nos últimos 14 anos) e minhas indicações/impressões poderão tranquilamente servir como parâmetro para você que por ventura queira acompanhar os mineiros em apresentações futuras.

O show de ontem (28/10) aconteceu no Ilha Shows (antigo Ilha Acústico) e vale alguns registros. Primeiramente o espaço, apesar de muito bonito, é nitidamente pequeno para este tipo de evento, ainda mais para uma apresentação do tamanho de uma comemoração de 15 anos de uma banda como JotaQuest, o que acarretou em aglomerações, apertos e desconforto. O espaço para o palco também é pequeno o que não permite grandes aparatos visuais/estruturais da banda (o Jota, por exemplo, limitou-se a colocar umas imagens coloridas no telão).


Aliás, falando no Jota Quest... A banda "sentiu" o espaço pequeno e pareceu encabulada com isso num primeiro momento, contudo logo passou. A partir de então começou a despejar hits atrás de hits com a maior empolgação, como se estivessem no Mineirão fazendo um show para 100 mil pessoas. Com um Rogério Flausino empolgado e comunicativo a banda tocou, na maior humildade, todos os seus grandes sucessos e, em grandes momentos, fazendo até alguns covers de Lulu Santos e Legião Urbana (com um Flausino emocionado com o coro da platéia para Eu sei).

O público, muito empolgado, por vezes cantarolou sozinho os sucessos da banda o que parece ter comovido o grupo que fez um show de mais de duas horas e, provavelmente, cantou mais de 20 músicas. Admito que me surpreendi, pois a julgar pela "decepção" aparente dos mineiros pela pouca capacidade do espaço num primeiro momento, achei que veria um show morno, técnico e rápido, o que definitivamente não aconteceu.


Os caras são muito empolgados, profissionais e respeitosos com o público e, para um "ninho de codorna", que é o Ilha Shows fizeram um showzaço. Indico o show de olhos fechados. Sem exagero vale a pena pegar a estrada e ir a Guarapari no verão ver os caras.


DVD ETERNAMENTE NELSON GONÇALVES: UMA RARIDADE






















A Sony Music lançou o DVD "Eternamente Nelson" feito num especial de Nelson para a Rede Globo em 1981.

O DVD póstumo que a gravadora Sony Music pôs nas lojas rebobina um especial com Nelson Gonçalves (1919 - 1998) exibido pela Rede Globo em 1981. No raro programa, levado ao ar na TV com o título Nelson Gonçalves - 40 Anos, o cantor reviveu seus hits em cenário inspirado num ringue de boxe e recebeu os compositores Nelson Cavaquinho (1911 - 1986) e Evaldo Gouveia, que cantaram com Nelson suas respectivas músicas O Dono das Calçadas e A Despedida.

Nos extras, o DVD apresenta duetos de Nelson Gonçalves com nomes como Fafá de Belém (O Negócio É Amar), Alcione (Louco - Ela É seu Mundo) e Martinho da Vila (Lembranças). A seleção rebobina também o encontro do artista com o cantor Orlando Silva (1915 - 1978) - que Nelson considerava seu mestre - nas músicas A Última Estrofe e Pedestal de Lágrimas. Os números com Orlando foram gravados para o programa semanal Fantástico, a exemplo de outros duos. DVD imperdível!

Abaixo link para download

http://www.uouwww.com/2010/10/nelson-gonalves-eternamente-nelson-2009.html

CLÁSSICOS DO ROCK: 40 ANOS DO ÁLBUM "AQUALUNG", DO JETHRO TULL

“Aqualung” é o quarto álbum de estúdio da banda britânica Jethro Tull. É mais conhecido por sua faixa-título. Chegou à 7ª colocação das paradas de álbuns pop da Billboard. O single "Hymn 43" ficou em 91° lugar nas paradas de singles pop da mesma publicação.

O primeiro lado do LP contém uma série de temas com seis personagens, incluindo indivíduos de reputação questionável (o personagem-título "Aqualung" e "Cross-Eyed Mary") e duas passagens autobiográficas, incluindo "Cheap Day Return", composta por Ian Anderson quando retornava de uma visita a seu pai, então seriamente doente. A mensagem contida nas letras do lado-B são em geral descritas como "pró-Deus, mas antiigreja", e afirmam que a religião organizada pode na verdade restringir o relacionamento de uma pessoa com seu Deus, ao invés de melhorá-lo. Em uma entrevista lançada em Aqualung Live (2005) Anderson refutou as especulações de que este seria um álbum conceitual.

“Aqualung” está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. Lançado originalmente em 1971, o álbum Aqualung é o mais aclamado na discografia do Jethro Tull. Esse ano, o disco está completando 40 anos. É um clássico indiscutível do rock.

Em comemoração aos 40 anos do álbum, será lançado o box set Aqualung – 40th Anniversary Collector’s Edition, que inclui:

- Livro de 48 páginas capa dura com encarte e uma entrevista com Ian, e com o engenheiro de som John Burns, memórias de membros da banda, fotos raras, e notas sobre as novas mixagens.

- LP 180 gramas

- CD duplo, DVD e Blu-ray, incluindo vários materiais inéditos, uma nova remixagem, mix Quad original 95.1 DTS e Dolby Digital Surround.

- A “edição especial”, incluindo apenas os dois CDs também estará disponível nos EUA e UK.

GRUPO PÓ DE SER EMORIÔ LANÇA SHOW "UMBANDERIA"


Pó de Ser Emoriô é a arte do Encontro. Um encontro entre o amor e a arte, entre referências musicais e inspirações de fé, entre a memória dos tempos e a contemporaneidade. Quatro amigos visceralmente ligados à Música, agora se encontram para criar e exaltar uma musa única – nossa música – que diga da Vida, que exalte a Poesia e que signifique reverberando o Amor.

O show “Umbanderia”, do grupo Pó de Ser Emoriô, acontece nesta segunda, dia 31 às 20h, no teatro do Ifes (antiga escola técnica). A entrada é franca. Abaixo, alguns links e um teaser para quem quiser conhecer mais o trabalho.

Serviço

Show “Umbanderia”

Dia: segunda (31 de Outubro)

Horário: 20:00h

Local: Teatro do IFES (Antiga Escola Técnica)

Av. Vitória, 1729. Bairro: Jucutuquara.

Site: http://podeseremorio.tnb.art.br/

Perfil no facebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=100002985637920

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A FLOR E O ESPINHO: DEGRAUS DA VIDA DO POETA

Nem chapliniano, nem felliniano. A genialidade de Nelson Antônio da Silva era ser Nelson Cavaquinho. Certa madrugada no Leblon, voltando para casa com Paulinho da Viola, passávamos ao largo de uma feira que estava sendo armada, quando a bonita figura de despenteados cabelos brancos, abraçada ao violão, prendeu nossa atenção. Cumprindo sua sina, Nelson Cavaquinho cantava na noite, para quem quisesse ouvi-lo, e os feirantes queriam.

A voz rascante, lixada pelo líquido de um milhão de botequins, fluía acompanhada pelo som beliscado das cordas feridas por dois dedos - técnica e estilo reconhecíveis a quilômetros. "Sei que estou / nos últimos degraus da vida / meu amor..." cantava o profeta dos desenganos, o arauto das desilusões, o menestrel da angústia. O eterno pavor da morte refletindo-se nas letras doloridas de seus sambas, nos dramas de seus personagens, nas inquietudes de suas musas. Rei dos botequins do Rio de Janeiro, tinha seu quartel-general nos balcões molhados da praça Tiradentes. Nesses cenários encontrava seus iguais, suas inspirações, sua forma de viver e ser feliz a sua maneira. A Nelson não interessavam fama e fortuna.

Violão, samba, mulheres, botequins, a soma e a essência da felicidade, a forma e a maneira encontradas de ser feliz cantando a infelicidade e de ser alegre exaltando a tristeza. Carioca de São Cristóvão, o imperial bairro de rica musicalidade, berço de - por exemplo - Sílvio Caldas, Nelson nasceu em 28 de outubro de 1910 e viveu intensamente. Começou tocando cavaquinho (daí o apelido) na adolescência e, como o pai era contramestre da banda da Polícia Militar, acabou por se tornar soldado em 1930. Casou, descasou, trocou de mulher e de instrumento, passando para o violão e criando sua maneira personalíssima de tocar. Já boêmio da mais fina extração, freqüentava os redutos de samba, principalmente na Mangueira, onde se fez amigo de Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda e outros compositores, iniciando-se na arte de criar sambas.

Discografia

1970 - Depoimento do Poeta (Discos Castelinho)

1972 - Nelson Cavaquinho - série documento (RCA Victor)

1973 - Nelson Cavaquinho (Odeon)

1985 - As Flores em Vida (Gravadora Eldorado)

"UMA FLOR PARA NELSON CAVAQUINHO - 100 ANOS": TRIBUTO REUNE GRANDES NOMES DA MPB

O compositor brasileiro que melhor traduziu as rugas, a tristeza e a saudade para o universo do samba faria 100 anos em 2011 se ainda estivesse vivo. Nascido em 1911 e morto em 1986, e devidamente homenageado em vida, Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho, tem sua obra celebrada no CD “Uma flor para Nelson Cavaquinho – 100 anos”.

Idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz, o álbum traz 21 músicas reunidas em 20 faixas. Em cada uma um intérprete diferente, a maioria acompanhada por uma banda liderada pelo violonista e arranjador Rovilson Pascoal e o baixista André Bedurê.

Como sempre ocorre nesses discos de tributo, a eficiência e a pertinência das releituras são variadas. E seu sucesso depende não só do alinhamento das vozes com a obra quase sempre densa de Nelson, como com o grau de ousadia e de originalidade das versões. Na maior parte dos casos, ganha quem arrisca mais ou quem não sai de seu quadrado.

Daí que quem soa mais criativo e ousado é Arnaldo Antunes, que comanda uma releitura quase roqueira, cheia de violões repetitivos e guitarra rascante, de “Luz negra”, e Zeca Baleiro, que conta com o clima dos teclados de Sacha Amback, a guitarra e os samplers de Érico Teobaldo para dar um ar de trilha de Angela Badalamenti para “Juízo final”. A jazzista Tânia Maria, mais conhecida no exterior do que no Brasil, inova ao dar merecido status de standard a “Folhas secas”.

Pelo respeito e pela contenção, a maranhense Rita Ribeiro (“A vida”), a paulista Cida Moreira (“Ninho desfeito”, que divide a faixa com a “Beija flor” de Zezé Motta), o negro gato Luiz Melodia (“Degraus da vida”) e Angela Ro Ro (“A flor e o espinho”) acertam na classe da condução de suas faixas.

Intérpretes mais específicos da área do samba mais acertam do que erram. Leci Brandão (“Palhaço”), Teresa Cristina (“Quero alegria”), Graça Braga (“Fora do baralho”) e até o quase sempre exagerado Diogo Nogueira (“Cuidado coma outra”) estão à vontade, ao lado, claro, da mais célebre intérprete da obra de Cavaquinho, Beth Carvalho, que parece pisar serenamente em folhas secas na sintomática “A Mangueira me chama”.

Festejados intérpretes da nova cena , como Marcos Sacramento (“Doca Carola”), Fabiana Cozza (“Pranto de poeta”, com interpretação um grau acima do necessário) e Verônica Ferriani (“Se você me ouvisse”) não empolgam nem escorregam, enquanto Benito di Paula não convence na versão voz e piano de “Rugas”, enquanto Emílio Santiago usa a experiência de crooner e desliza fácil por “Minha festa”.

Alcione, que, com todas as honras da casa, abre o disco com “Quando eu me chamar saudade”, entre violão e violoncelo, tem tudo para criar polêmica. Dramática, solta o vozeirão sobre os versos emblemáticos, como se baixasse uma Elza Soares a reclamar as flores em vida.

NELSON CAVAQUINHO: HOMENAGENS AO POETA


Até o fim de sua vida, no dia 18 de fevereiro de 1986, Nelson Cavaquinho, cujo centenário de nascimento é comemorado neste sábado, lembrava-se com carinho de Sérgio Porto. Foi o jornalista que, nos momentos de dificuldades financeiras do sambista, quando ele teve até de vender a autoria de alguns de seus temas, quem ajudou o compositor mangueirense a comprar, por exemplo, os móveis de sua casa.

Figura de extrema simplicidade, mesmo nos tempos mais prósperos, estourando com suas composições - principalmente nas vozes de grandes intérpretes, como Elis Regina, Beth Carvalho e Clara Nunes -, Nelson saía das noites de sucesso no Teatro Opinião, no Rio, com os bolsos forrados do cachê. Virava as madrugadas nos botequins e não negava um prato de comida ou uma birita a quem quer que fosse, voltando para casa sem um tostão. Daí a alcunha de São Francisco do Samba.

Entre tantos apelidos recebidos por Nelson, talvez o mais coerente tenha sido o dado por Carlinhos Vergueiro, que batizou o amigo de Garrincha do Samba. O compositor, violonista e cantor é o responsável por uma da série de justas homenagens que serão prestadas aos 100 anos de Nelson, com o disco "Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho", que deve ser lançado esta semana. "Ele e o Garrincha eram dois gênios bem loucos, puros. Depois eu ainda fui descobrir que os dois nasceram no mesmo dia (em anos diferentes. Nelson é de 1911. Garrincha, de 1933). Acho que é uma comparação cirúrgica", conta Carlinhos.

Poucas pessoas entendem tanto do assunto quanto ele, que desfrutou o convívio estreito com Nelson. Em 1984, ele produziu o álbum "Flores em Vida", reunindo diversos intérpretes para cantarem os temas do compositor de Mangueira, pelo selo Eldorado. No ano seguinte, participou do documentário "Nelson de Copo e Alma", dirigido pelo cineasta Ruy Solberg. Carlinhos reuniu gente que teve ligação com Nelson, convidando, por exemplo, o amigo Chico Buarque para cantar "Nome Sagrado". Cristina Buarque, que também havia produzido o LP de 1984, interpreta "Beija-Flor". Além de Wilson das Neves, com "Folhas Secas", e Marcelinho Moreira, com "Pranto de Poeta".

Os tributos ao centenário de Nelson não se resumem a este trabalho. Ainda ontem, no auditório do Instituto Moreira Salles, no Rio, haveria uma mesa-redonda com a presença do jornalista e escritor Sérgio Cabral, de José Novaes, autor do livro "Nelson Cavaquinho: Luto e Melancolia na MPB", e do jornalista João Pimentel, com mediação da presidente do Museu da Imagem e do Som, do Rio, Rosa Araújo. O mesmo IMS recebe nesta quinta-feira, às 20 horas, show com Moacyr Luz e Gabriel Cavalcante em homenagem ao sambista.

100 ANOS DE NELSON CAVAQUINHO


Nelson Cavaquinho (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1911 — Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1986) foi um importante músico brasileiro. Sambista carioca, compositor e cavaquinista na juventude, na maturidade optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, utilizando apenas dois dedos da mão direita.

Cabelos prateados. Uma voz de aço, com rouquidão curtida em madrugadas boêmias pelo Rio de Janeiro. Temas surpreendentes, onde a Morte é personagem assídua. Nelson Cavaquinho foi um trovador moderno, espalhando sua música e poesia pela noite carioca. Suas músicas são de uma simplicidade impressionante, como somente os grandes gênios conseguem fazer. Não há um verso ou nota a mais que o necessário.

Nelson Cavaquinho é o protagonista de diversas estórias folclóricas, era também capaz de no final de uma madrugada distribuir todo dinheiro ganho em um show pelos mendigos e prostitutas. Ficando até mesmo sem ter como pagar a condução de volta para casa. Vendia músicas e parcerias para sobreviver nos momentos mais difíceis. Inclusive esta é a razão de serem tão raras suas parcerias com o também mangueirense Cartola, que não gostou quando Nelson vendeu uma música que fizeram juntos.

Seu mais constante parceiro, com quem compôs diversos clássicos da música brasileira, foi Guilherme de Brito, uma pessoa com um estilo de vida completamente oposto ao boêmio Nelson. Outro que não pode ser enquadrado entre seus "parceiros de ocasião" é Alcides Caminha, mais conhecido como escritor de populares histórias em quadrinhos eróticas, nas quais assinava como Carlos Zéfiro.

Nelson Cavaquinho é um dos grandes compositores da história da música brasileira, foi gravado pelos mais importantes artistas, é reverenciado pelos grandes músicos do nosso país. Abaixo, “A flor e o espinho”, umas das suas criações mais famosas:

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

FILME O PALHAÇO - CRÍTICA

O Palhaço. Brasil, 2011. Direção de Selton Mello.

Com Selton Mello, Paulo José, Moacyr Franco, Teuda Bara, Ferrugem, Fabiana Karla, Jorge Loredo, Danton Mello.

opalhacoposter Estreias: <i>O Palhaço</i>


O primeiro longa como diretor de Selton Mello foi um filme soturno, difícil, trágico, chamado Feliz Natal, que mesmo assim impressionou. Mas é completamente diferente deste novo trabalho, que é mais poético, nostálgico, encantador e muito divertido. É um acerto total este retorno do astro/diretor/corroteirista (com Marcelo Vindicato) à sua terra natal, o interior de Minas Gerais (ele é de Passos, onde parte da filmagem foi realizada).

Ele pinta um retrato atemporal do que seria um cirquinho de interior à moda antiga. Os donos do circo são pai e filho, Benjamin e Valdemar, que formam também a principal dupla de palhaços. Benjamin (Selton), principalmente, não tem identidade, e vive pelas estradas com sua trupe do circo Esperança, mas conhece uma moça e resolve ir atrás dela para viver um sonho.

opalhaco1 Estreias: <i>O Palhaço</i>

Não se pode com esse assunto fugir da influência de Fellini, mas o que deve ser louvado é a brasilidade do resultado (até no uso, ao final, de canções bregas) e a generosidade do diretor em chamar para o elenco figuras (algumas até esquecidas) como Ferrugem e Jorge Loredo, ou apresentadas de forma inusitada, como é o que acontece com o próprio irmão de Selton, Dalton. E principalmente por uma pequena pérola, uma participação em torno de três minutos de Moacyr Franco, que se torna uma obra-prima de como se contar uma historinha dentro de um filme. Por que custaram tanto a reconhecer este grande ator?

Ovacionado no Festival de Paulínia, votado como melhor coadjuvante, Moacyr é, na sua idade, uma revelação para muitos.

Não dá para esquecer também do grande Paulo José que, para mim, sempre foi o mais cinematográfico de nossos atores, que não se deixa abalar pela doença e continua maravilhoso em papel que fora inicialmente destinado a Francisco Cuoco.

opalhaco2 Estreias: <i>O Palhaço</i>

O que dizer mais de O Palhaço? Poderia encher páginas só elogiando e procurando reproduzir o encanto que o filme conjura. Mas é melhor simplesmente recomendá-lo com entusiasmo.