Indústria
cinematográfica prepara novas produções sobre The Kinks, Beach Boys, Janis
Joplin e outros ídolos
Filmes
biográficos formam um subgênero dos mais atrativos para a indústria
cinematográfica. Mas, no que se refere a projetos de ficção em tributo a ídolos
da música, sobretudo os ainda vivos e donos de um legado muito precioso, o
caminho para se chegar às telas pode ser acidentado. Se no Brasil existe a
barreira legal imposta por biografados e herdeiros, que exigem autorização para
os realizadores tocarem projetos com seus nomes, nos EUA essa dificuldade
costuma se dar na esfera musical.
Pode-se fazer
lá um filme sobre os Beatles, por exemplo, mas tocar num patrimônio sonoro de
alto valor que envolve direitos autorais costuma ser complicado. Por isso, é
comum chegarem aos cinemas filmes como All Is by My Side, no
qual Jimi Hendrixvai aparecer
sem tocar nenhum de seus clássicos. Esta produção, realizada à revelia da
família do guitarrista, que não liberou o uso de suas músicas, é uma das tantas
cinebiografias que estão em diferentes etapas de realização – algumas podem nem
sair do papel.
Listamos
aqui, para preservar uma unidade temática, filmes que contemplam gigantes da
história do rock. Vale lembrar que também estão em produção longas sobre
artistas dos mais diferentes gêneros: dos brasileiros Tim Maia, Erasmo Carlos e
Mamonas Assassinas a ícones da soul music como James Brown, Aretha Franklin,
Marvin Gaye e Sam Cooke, dos artistas folk Tim e Jeff Buckley, pai e filho, a Michael Hutchence, que foi
vocalista do INXS.
JIMI HENDRIX
Com o título All Is by My Side, o
filme apresenta o músico André Benjamin (do Outkast) encarnando o lendário
guitarrista americano Jimi Hendrix. A estreia
mundial está marcada para setembro, no Festival de Toronto, no Canadá. A trama
é ambientada entre 1966 e 1967, quando Hendrix foi descoberto em Nova York pela
modelo Linda Keith, então namorada do rolling stone Keith Richards, que fez os
contatos que levaram o virtuoso guitarrista para a Inglaterra. O filme destaca
ainda a importância de Chas Chandler, baixista do grupo britânico The Animals,
que viu Hendrix em ação nos EUA e o ajudou, em Londres, a montar o célebre trio
The Jimi Hendrix Experience (com o baixista Noel Redding e o baterista Mitch
Mitchell).
Nos clubes londrinos, Hendrix começou sua
incendiária trajetória como um dos mais importantes criadores da história do
rock, ganhando como admiradores artistas como Eric Clapton e os Rolling Stones.
A família Hendrix não autorizou o uso de suas composições mais conhecidas, como Foxy Lady, Hey Joe, Are You Experienced? e Little
Wing. A alternativa do diretor John Ridley foi usar clássicos do blues que
o guitarrista tocava em suas primeiras apresentações.
BEATLES
O fulgurante universo dos Fab Four já foi
retratado ficcionalmente em Backbeat – Os Cinco Rapazes de Liverpool (1994), que mostra a temporada
dos Beatles na Alemanha antes do sucesso mundial, e O Garoto de Liverpool (2009), sobre a juventude de Jonh
Lennon até seu encontro com Paul McCartney e George Harrison. Tem ainda um
telefilme Tudo Entre Nós (2000), com o encontro entre John e
Paul em Nova York, em 1976.
Duas cinebiografias anunciadas terão como
personagem Brian Epstein, mítico
empresário dos Beatles que morreu ao 32 anos, em 1967, em meio a conflitos
íntimos decorrentes do vício em drogas, da homossexualidade enrustida, da
administração do patrimônio musical e cultural que ergueu e dos egos de seus
pupilos. Uma é a adaptação da graphic novel The Fifth Beatle, do
produtor teatral Vivek Tiwary – e seria o primeiro filme com direito de usar
canções originais da banda. O outro projeto, ainda sem título, tem o nome do
ator Benedict Cumberbatch como intérprete de Epstein e Paul McGuigan na
direção.
E é grande as expectativa em torno da adaptação
para o cinema de The Longest Cocktail Party,
livro homônimo de Richard DiLello que descreve os anos de crise na corporação
beatle com foco na ascensão e derrocada da Apple, a gravadora do grupo – com
bastidores das célebres festas lá realizadas e do antológico concerto no
telhado. Quem está à frente do projeto, como produtor, é o músico marrento Liam
Gallagher. O diretor convidado é bom: Michael Winterbottom, do cult a A Festa Nunca Termina,
que retratou a cena musical de Manchester nos anos 1980.
ROLLING STONES
Lançado em 2005, Stoned: A História Secreta dos Rolling
Stones destacou
a ascensão da banda com foco na figura problemática do guitarrista Brian Jones
e sua nebulosa morte – o filme reforça a tese de que seu afogamento na piscina
de casa não foi acidental, mas sim um crime cometido por um empregado. Por não
ser um projeto autorizado, teve na trilha canções covers que os Stones tocavam
no começo da carreira. A chancela de Mick Jagger, Keith Richards e companhia
foi dada a Exile on Main Street: A Season in Hell
with the Rolling Stones, adaptação do livro de Robert
Greenfield sobre os bastidores da gravação, na França, do clássico disco Exile on Main Street, em 1971.
THE KINKS
Íntimo do universo musical pop – já
dirigiu videoclipes e documentários para artistas como David Bowie e Sex
Pistols –, Julien Temple toca o projeto sobre a banda britânica The Kinks,
contemporânea de Beatles e Rolling Stones e que imortalizou hinos roqueiros
como You Really Got Me. Este, aliás, é o nome do filme que
vai destacar a relação de amor e ódio entre os irmãos Ray e Dave Davies – em
seu tempo, a rivalidade deles pelo controle criativo da banda antecedeu a
folclórica disputa dos manos do Oasis Noel e Liam Gallagher. O atraso no filme
dos Kinks fez Temple adiantar outra cinebiografia, Sexual Healing, sobre o astro da soul
music Marvin Gaye, com estreia
prevista para 2014.
BEACH BOYS
Brian Wilson, a genial e perturbada mente
criativa de uma das grades bandas dos anos 1960 é o personagem central de Love & Mercy, previsto para estrear
em 2014. O músico é vivido por Paul Dano na juventude e John Cusack, na
maturidade. Revelados na crista da onda da surf music da Califórnia, os Beach
Boys lançaram em 1966 Pet
Sounds, obra-prima cuja arrojada experimentação sonora perece ter consumido
a sanidade de Wilson. O filme destaca a relação do músico viajandão com o
terapeuta Eugene Landy (vivido por Paul Giamatti), acusado por amigos e
familiares de Wilson de ser um picareta que aproveitou a fragilidade emocional
dele para aparecer e enriquecer.
JANIS JOPLIN
Em 1979, Bete Middler fez a protagonista
do drama musical A Rosa decalcada em Janis Joplin, um
recurso para evitar problemas legais – a própria atriz interpreta clássicos do
blues. Agora, o diretor Lee Daniels (de Preciosa)
está ligado à cinebiografia Janis Joplin: Get It While You Can.
O diretor brasileiro Fernando Meirelles chegou a se envolver nesse projeto, que
teve uma das versões do roteiro escrita pelo também brasileiro José Eduardo
Belmonte. E depois de ter Renée Zellweger na largada, o papel, tudo indica,
acabou ficando com Amy Adams. O projeto ainda está em pré-produção, assim como Janis, cinebiografia que tem Nina
Arianda escalada para viver a cantora – na vaga que chegou a ter como candidata
Zooey Deschanel.
ELTON JOHN
O próprio Elton John anunciou Rocketman – nome de um de seus incontáveis hits
– como a sua cinebiografia. Lee Hall, roteirista de Billy Elliot, já escreveu a história, que contempla
da juventude do artista ao início de sua parceira musical com o letrista Bernie
Taupin, uma das mais inspiradas dobradinhas da música pop. Elton sugeriu James
McAvoy para interpretá-lo, mas as especulações passaram por nomes como Justin
Timberlake, Ewan McGregor e, a mais recente, Tom Hardy. Certo, por enquanto, só
o diretor, o novato Michael Gracey.
QUEEN
O filme sobre a banda britânica parecia
ter achado o caminho das telas, mas o atorSacha Baron Cohen desistiu do viver o icônico vocalista
Freddie Mercury. Cohen alegou "diferenças criativas" com o
guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor. A discordância seria pelos
músicos terem em mente um filme "família", enquanto Cohen queria
destacar a faceta sexo, drogas e rock ‘n’ roll de Mercury, que morreu vitimado
pela Aids em 1991. Os produtores da cinebiografia buscam agora um novo ator
para o papel.
IGGY E BOWIE
Ainda não estão escalados os protagonistas
de Lust for Life, dupla
cinebiografia que o diretor Gabriel Range planeja sobre David
Bowie e Iggy
Pop. O filme destaca o período em que a dupla viveu, aprontou e
gravou em Berlim discos clássicos de suas carreiras. Iggy estava afundado nas
drogas quando Bowie o convidou para acompanhá-lo numa temporada na Europa. Em
Berlim,Iggy, com ajuda do amigo, gravou The
Idiot eLust for Life,
ambos de 1977, e deu a volta por cima na carreira. E Bowie lançou nesse ano Low e Heroes.
NIRVANA
De forma bastante livre, o diretor Gus
Van Sant evocou a figura angustiada de Kurt Cobain no filme Últimos Dias (2005). Já várias vezes anunciada, a
cinebiografia oficial do líder do Nirvana, que se matou em 1994, parece que
sairá do papel pela mão de Brett Morgen (do documentário Crossfire Hurricane, sobre os
Rolling Stones). Inspirado no livro Mais
Pesado que o Céu, de Charles R. Cross, Morgen anuncia que seu filme irá
combinar ficção e documentário usando imagens de arquivo, animação e cenas
dramatizadas.
Fonte: Marcelo Perrone (marcelo.perrone@zerohora.com.br)
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