Sarah
Vervloet nasceu em
Vila Velha, no Espírito Santo, em 1989. É graduada em Letras-Português pela
UFES e atualmente cursa o Mestrado em Letras/ Estudos Literários na mesma
universidade. É professora e também escreve irregularmente. Foi contemplada em
um concurso de
Literatura da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, na categoria contista
estreante e seu livro está no forno. E-mail:sarahvervloet@gmail.com e
Blog: http://chadechama.blogspot.com.br. Confira,
abaixo, o conto “Casca e véu”:
CASCA E VÉU
Já
haviam sido todas perdidas aquelas ameixas maduras que manchavam as cestas, as
calças, os laços, os pães. Um suco encardido dava cor às cortinas ao redor, a
sua vida mantida em silêncio. Apagaram-se todas as esperanças em cada vela
acendida e levada pela ventania de um final de tarde. Misturados, polpa,
parafina, tecido, desejo, mentira, amor. Em suas mãos, metade da garrafa que
ela quebrara na confusão. Vinho tinto, quente, encorpado, desperdiçado. Ao lado
de uma coragem atrapalhada, deixou para trás todas as portas entreabertas,
barulhentas. Desceu meia dúzia de degraus, hesitou o retorno, olhou à sua
volta.
Olhou
para si mesma, suja, de mãos cortadas, de orgulho ferido. Encontrou uma vida
ali mesmo, bem perto. Perto o suficiente para ser apanhada de imediato. Ainda
que tenha deixado de enxergar naquele mesmo instante, seus olhos estavam bem
abertos, resistindo a uma não-consciência. Finalmente soltou aquele pedaço de
vidro ensanguentado. Gemeu alguma palavra ignorada. Sentiu-se segura novamente,
envolta por água e mais água. A força surgida de um grito significava
anormalidade. O ambiente havia mudado, seu fôlego perdido. Não sentia nenhuma
das pernas, e compreendeu então aquela água sem fim. Não demorou que lhe
faltasse a fala engolida por um juízo despercebido.
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