Anaximandro
Amorim
(1978) é escritor, advogado, bacharel em Direito pela Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) e pós-graduado em Direito pela Escola da Magistratura do
Trabalho da 17ª Região (EMATRA - 17ª Região). Membro da Associação dos
Professores de Francês do Estado do Espírito Santo (APFES), do Conselho
Estadual de Cultura, da Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia de
Letras Humberto de Campos, de Vila Velha/ES. Confira, abaixo, a crônica “Quem
você mandaria para Marte?”:
Responda rápido, caro leitor: quem você
gostaria de mandar para Marte, numa viagem só de ida? A sua sogra? O seu
vizinho? O amigo mala? Ou, até mesmo, a sua mulher (ou o seu marido)? Aposto
que muita gente já sonhou com isso. E se eu lhe disser que isso, agora, virou
realidade? Pois é: foi lançado, no final do mês passado, o projeto "Mars One",
organizado pelo cientista holandês Bas Lansdorp, que pretende colonizar o
planeta vermelho daqui a alguns anos... numa viagem sem volta! É, amigo
leitor... é a vida, mais uma vez, imitando a arte!
Para quem se interessar possa: Marte fica a
uma vez e meia a distância da Terra ao Sol. É um dos quatro planetas
terrestres, ou seja, cuja superfície não é gasosa. Lá, o ano é quase o dobro da
Terra, mas o dia tem praticamente a mesma duração: 24 horas. O solo é
avermelhado por causa da hematita, encontrada aí em abundância. Tem duas luas
(Phobos e Daimos) e verões até 20 graus, no máximo, quando a temperatura não
está sempre abaixo de zero. Isso mesmo: faz um frio danado por lá! Segundo
Lansdorp, a viagem durará seis meses! Imagine só! Se eu passo mais de duas
horas viajando e já fico desesperado... Deve ser como um cruzeiro lá dentro,
com a vantagem de que ninguém enjoa. E pode ver as estrelas, de pertinho!
Seja como for, o planeta vermelho sempre
mexeu com o nosso imaginário: Os egípcios já o observavam, chamando-o de
"a estrela vermelha"; mas foram os gregos, graças a Hiparco, que
descobriram que o corpo celeste era, na verdade, um planeta - e batizaram-no
com o nome do Deus da Guerra. O aristocrata norte-americano Percival Lowell foi
o primeiro a especular sobre vida inteligente, influenciando o escritor. H.G.
Wells a escrever o romance "A Guerra dos Mundos", em 1898, sobre uma
invasão marciana na Terra. Anos mais tarde, em 1938, o ator e diretor Orson
Welles fez a famosa adaptação para o rádio, causando pânico nos EUA a abrindo
caminho para uma série de versões cinematográficas, dentre filmes de ação
("O Vingador do Futuro", "Missão Marte") a até comédias
(como a impagável "Marte Ataca").
A
viagem para Marte já conta com mais de 100 mil inscritos! A passagem custa, em
média, de 15 a 30 dólares, bem mais barato que ir de Vitória ao Rio. Segundo
dados oficiais, gente do mundo todo está interessada, dentre norte-americanos,
chineses, mexicanos... e até brasileiros. É, acho que tem muita gente querendo
se mandar deste país. Em tese, viver em Marte teria muitas vantagens:
ainda não há engarrafamento, nem flanelinha, tampouco poluição. Também não tem
novela, micareta ou cerveja. Inferno ouparaíso?
Depende do ponto de vista. Mas, certamente, o que não há é propaganda enganosa:
todo mundo sabe que não tem como voltar. Só ninguém comentou que o nome disso é
suicídio. Ou picaretagem, porque é muito fácil pôr um punhado de gente numa
espaçonave e ficar com a grana pra gastar tranquilo, aqui na Terra.
Em todo caso, estou pensando seriamente em
comprar uma passagem. Não, leitor, não estou a fim de me mandar pra Marte.
Prefiro ficar por aqui, mesmo. Afinal, não troco minha ilha (Vitória) por nada
deste mundo - ou do outro. Penso em distribuir umas passagens pra algumas
pessoas. É, amigo leitor, eu também tenho a minha listinha - mas prefiro ser
discreto e não revelar o nome de ninguém. Porém, se você, que está lendo esta
crônica agora, receber, dentro de alguns dias, uma passagem só de ida para
Marte, saiba que não é trote: é presente, mesmo. E, como é feio fazer desfeita,
aceite. Afinal, o embarque é só em 2023, dá muito tempo pra arrumar as malas.
Cubro todas as despesas, inclusive, e levo você lá para desejar uma boa viagem
e para me certificar direitinho que você não volta nunca mais.
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