A premiação da 41ª edição do Festival de Cinema de Gramado foi marcada por um grande equilíbrio entre as produções da principal categoria do evento, a de Melhor Longa-Metragem Brasileiro. Nada menos do que oito filmes dividiram seus 14 Kikitos, entregues na cerimônia, realizada na noite deste sábado (17), no Palácio dos Festivais, na região serrana do Rio Grande do Sul.
Gramado é marcado por boa divisão de prêmios e troféu a Walmor Chagas
Houve, no entanto, alguns claros destaques entre os prestigiados. Com três troféus, entre eles o principal do evento, de Melhor Filme, e o de Melhor Ator (Irandhir Santos), o pernambucanoTatuagem, de Hilton Lacerda, se consagrou como a grande produção de 2013, recebendo também o Prêmio da Crítica de Melhor Longa Brasileiro.
Éden, de Bruno Safadi, ficou com dois Kikitos - Melhor Atriz (Leandra Leal) e Melhor Trilha Musical (DJ Dolores) -, enquanto A Bruta Flor do Querer, dos jovens estreantes Andradina Azevedo e Dida Andrade, surpreendeu ao também conquistar duas honrarias - Melhor Diretor e Melhor Fotografia -, mesmo número da animação Até que a Sbórnia nos Separe, de Otto Guerra - Júri Popular e Direção de Arte
"Eu queria agradecer ao festival, à escolha do juri, porque estou muito, muito feliz", disse Lacerda, diretor de Tatuagem, ao receber o Kikito mais aguardado da noite das mãos do renomado ator Othon Bastos, homenageado na sexta-feira (16) por sua contribuição à cinematografia brasileira. "Espero passar muito tempo ainda abrindo muitas janelas e muitos olhos. Cultura é guerrilha e eu estou disposto a fazer guerrilha por nós e espero que vocês façam o mesmo pela gente também."
Em um momento de grande emoção, o ator Walmor Chagas, morto em janeiro, foi premiado com o Kikito de Melhor Ator Coadjuvante, por sua atuação em A Coleção Invisível. "É com muita emoção que eu recebo este prêmio para Walmor. Foi um presente enorme tê-lo neste filme. Infelizmente, ele não está entre nós, mas tenho certeza que ele estaria feliz. E vai estar conosco sempre. Eu amo muito o Walmor", discursou o diretor do longa, o francês Bernard Attal. Clarisse Abujamra, que interpretou a mulher de Chagas na produção, também foi premiada, na categoria Melhor Atriz Coadjuvante.
Hollywood brasileira
Antes do início do evento, na área externa do Palácio dos Festivais, o clima era de Hollywood. Longo tapete vermelho atravessando o quarteirão de lado a lado, réplicas gigantescas dos troféus Kikito cuidadosamente posicionadas em lugares estratégicos, fotógrafos se esbarrando uns nos outros em busca do melhor clique e centenas de pessoas concentradas nas grades de segurança aflitas por uma foto, autógrafo ou um pouco de atenção dos produtores, atores e diretores que se dirigiam à premiação, após oito dias ininterruptos de exibições dos filmes concorrentes a ela.
Mas do lado de dentro tudo era muito mais simples, ágil, nada que lembrasse as arrastadas cerimônias de premiações norte-americanas, tais como o Oscar. Para a alegria dos presentes. Totalmente focado no cinema, o Festival de Cinema de Gramado tem a tradição de entregar dezenas de premiações e, assim, se obriga a chamar os premiados rapidamente, sem grandes paradas, discursos ou piadinhas prontas e diálogos típicos de apresentadores dos prêmios.
A única exceção para isso foi a presença de dois músicos/atores, que, totalmente caracterizados, interpretaram os divertidos protagonistas da animação Até que a Sbórnia nos Separe. E a experiência acabou sendo positiva. Em um evento bastante protocolar, a dupla trouxe leveza ao palco nos poucos momentos em que apareceu - na abertura e na volta dos dois intervalos -, apresentando canções da trilha sonora do longa, com refrões bem humorados destacados para serem cantados juntos com os presentes, que participaram com alegria.
No palco, entregando os Kikitos, estiveram políticos, patrocinadores e artistas, como Vladimir Brichta, Murilo Rosa, Fernando Alves Pinto e, por fim, de Othon Bastos. Este último divertiu com sua dificuldade para ler os cartões com os resultados. "Vou pegar minha lupa aqui para me ajudar", disse, em tom bem humorado, arrancando gargalhadas do público.
Estrangeiros e curtas
Colombianos e a parceria Brasil/Argentina tiveram uma briga boa na categoria Melhor Longa Estrangeiro. Enquanto os primeiros conquistaram, com Cazando Luciernágas, quatro prêmios, entre eles Melhor Diretor (Roberto Flores), Melhor Atriz (Valentina Abril) e Melhor Roteiro (Carlos Franco), o segundo levou dois, de Melhor Ator (para o excelente Cesar Troncoso) e o Prêmio do Júri Popular.
Quem, no entanto, conquistou o mais prestigioso troféu da categoria, de Melhor Filme, não foi uma latina-americana, mas, sim, uma europeia. E com uma história muito cara ao Brasil. A cineasta Maria de Medeiros, conhecida principalmente por sua atuação em Pulp Fiction - Tempo de Violência e por interpretações no cinema francês, foi honrada pelo documentárioRepare Bem, que mostra, de forma crua, depoimentos de uma mãe e uma filha sobre os tempos tortuosos da ditadura no País. "Que o filme colabore com a Justiça no Brasil", disse, por meio de mensagem de texto, a diretora, cuja presença não foi possível devido a compromissos com uma peça em São Paulo.
Na categoria curta-metragem brasileiro não teve para ninguém. A produção Acalanto, de Arturo Savóia, recebeu nada menos do que seis Kikitos, entre eles as de Melhor Filme do júri e do júri popular. As honrarias foram apresentadas pelos atores Vladimir Brichta e Jefferson D. "Eu realmente não sei mais o que dizer", disse o diretor quando recebeu o quinto troféu pela produção, de Melhor Diretor, anunciado como escolha unânime do júri.
O curta também recebeu o prêmio de Melhor Atriz para Léa Garcia, aplaudida de pé pelo público. "Eu não esperava por isso, do fundo do coração", disse ela, emocionada, que contracenou no curta com o renomado ator Luis Carlos Vasconcelos, de Carandiru. "Me joguei de cabeça nesta personagem tão pungente. E é o meu terceiro Kikito", concluiu, com voz embargada, levantando o troféu.
Outra produção de destaque na categoria foi A Navalha do Avô, que além dos Kikitos de Melhor Roteiro e Melhor Ator (Kauê Tolloli), ainda foi honrada com o Prêmio Canal Brasil de Curtas, que incentiva novos talentos, com a exibição do vencedor no canal da TV paga e lhe fornecendo suporte financeiro.
A 41ª Edição do Festival de Cinema de Gramado também contou com uma novidade. Promovido pela Federação Internacional de Cineclubes, o evento apresentou pela primeira vez o Prêmio Dom Quixote, cujo enfoque são os longas estrangeiros que permitem reflexão por parte do público. Com menções honrosas à atriz Fernanda Moro (A Oeste do Fim do Mundo) e ao filme Venimos de Muy Lejos, o troféu foi entregue ao documentário Repare Bem, da portuguesa Maria de Medeiros.
Coordenadores apontam frieza do público e ausente de Wilker
Curadores e os coordenadores do evento, Rosa Helena Volk e Ralfe Cardoso, apontaram na tarde deste sábado os acertos e erros da edição 2013. Entre os tópicos debatidos estavam a diversidade dos filmes, o ineditismo dos longas selecionados, falhas técnicas e a ausência de Wilker pelo segundo ano consecutivo.
Diversidade dentro e fora da tela
Mais uma vez o que se viu em Gramado foi uma variedade interessante de películas e faixa etária de diretores. O Festival trouxe os jovens estreantes Dida Andrade e Andradina Azevedo com "A Bruta Flor do Querer". Na outra ponta estava o experiente Domingos Oliveira com "O Primeiro Dia de Um Ano Qualquer". "Tatuagem" e "A Coleção Invisível" são produções que representam a boa safra do cinema nordestino. O evento ainda trouxe um documentário, "Revelando Sebatião Salgado", e uma animação, "Até que a Sbórnia nos Separe". Ainda estiveram na competição o filme "Éden", do carioca Bruno Safadi, e "Os Amigos", da paulista Lina Chamie.
Falhas técnicas e atrasos
Em 2012, o festival teve problemas em três dias e a exibição de um dos filmes chegou a ser suspensa e transferida para o dia seguinte. Neste ano, os problemas foram amenizados. Nenhuma exibição teve problemas graves, mas competidores reclamaram da acústica da sala, que deixava o som estridente em alguns pontos e muito baixo em outros. Segundo Cardoso, a sala de cinema é a "joia" do festival. "Precisamos qualificar mais a projeção e o áudio. Essa é uma meta. Vamos olhar com mais atenção ainda para isso nas próximas edições", disse o organizador do evento. Algumas exibições também atrasaram bastante este ano. O longa "Tatuagem", de Hilton Lacerda, previsto para começar 21h30 do dia 11 de agosto, começou com mais de uma hora de atraso por conta de uma premiação para curtas gaúchos.
Ineditismo dos filmes
Uma das críticas recebidas pelo festival este ano é que três dos oito longas da competição, "Éden", "Primeiro Dia de Um Ano Qualquer" e "A Coleção Invisível", já haviam sido exibidos em outros festivais brasileiros. Rubens Ewald não encara isso como um problema. "Confesso que não penso nisso. Se o filme é bom, merece ser visto e revisto", disse o crítico.
O jornalista Marcos Santuario admite que os diretores se sentem mais fortalecidos quando o filme é exibido em primeira mão, mas também não vê a repetição como um problema. "Claro que ter filmes inéditos é delicioso, mas o fato de ele ter sido apresentado em outro lugar não descarta a possibilidade de também estar em Gramado".
Novas parcerias e preços populares
Além da parceria com o Festival de Havana, anunciada ano passado e mantida este ano, o festival também anuncia parceria com o festival argentino de Mar Del Plata. O evento também conseguiu manter os preços populares nas sessões, como foi feito em 2012. Em 2011, os preços iam de R$ 60 a R$ 120 e despencaram para R$ 20 e R$ 10 (meia entrada). Para a noite de premiação, o convite custou R$ 100, sem desconto.
Frieza do público
As poucas palmas depois de cada sessão surpreenderam os organizadores negativamente este ano. "O que aconteceu? Os filmes são emocionantes e as pessoas não expressam essa emoção", disse Rubens Ewald. Para Ralfe, isso é uma coisa que vai voltar à medida que o festival volta a ganhar prestígio. "Temos que ensinar as pessoas a aplaudirem", disse Cardoso.
Ausência de Wilker
Wilker é curador do festival desde 2012 e mais uma vez não compareceu à cidade gaúcha. Os outros dois curadores disseram que os compromissos de Wilker com a televisão impediram que ele viesse ao evento nas duas edições. "Mesmo ausente, ele está próximo. É muito participativo, mas é claro que sentimos a falta dele", disse Santuario.
Confira a lista com todos os vencedores da edição de 2013 do Festival de Cinema de Gramado:
Categoria Curta-Metragem
Melhor Filme
Acalanto
Melhor Diretor
Arturo Sabóia, por Acalanto
Melhor Ator
Kauê Telloli, por A Navalha do Avô
Melhor Atriz
Léa Garcia, por Acalanto
Melhor Roteiro
Francine Barbosa e Pedro Jorge, por A Navalha do Avô
Melhor Fotografia
Ale Sameri, por Arapuca
Melhor Montagem
Gilberto Scarpa e Vinícius Gotardelo, por Merda!
Melhor Trilha Musical
Luis Olivieri, por Acalanto
Melhor Direção de Arte
Rogério Tavares, por Acalanto
Melhor Desenho de Som
Tiago Bela, Rita Zarti, Marcelo Lopes da Silva, por Tomou Café e Esperou
Prêmio Especial do Júri
Os Filmes Estão Vivos
Menção Honrosa
Carregadores de Monte
Prêmio Canal Brasil
A Navalha do Avô, de Pedro Jorge
Prêmio Dom Quixote
Repare Bem, de Maria de Medeiros
Menção Honrosa:
Fernanda Moro, por A Oeste do Fim do Mundo
Venimos de Muy Lejos, de Ricardo Piterbarg
Júri da Crítica
Melhor Curta-Metragem
Os Filmes Estão Vivos, de Fabiano de Souza e Milton do Prado
Melhor Longa-Metragem Bstrangeiro
Repare Bem, de Maria de Medeiros
Melhor Longa-Metragem Brasileiro
Tatuagem, Hilton Lacerda
Categoria Longa-Metragem Estrangeiro
Melhor Filme
Repare Bem, de Maria de Medeiro
Melhor Diretor
Roberto Flores Prieto, por Cazando Luciérnagas
Melhor Ator
Cesar Troncoso, por A Oeste do Fim do Mundo
Melhor Atriz
Valentina Abril, por Cazando Luciérnagas
Melhor Roteiro
Cesar Franco Esguerra, por Cazando Luciérnagas
Melhor Fotografia
Eduardo Ramirez Gonzalez, por Cazando Luciérnagas
Prêmio Especial do Júri
Grupo de Teatro Comunitário Catalinas Sur em Venimos de Muy Lejos
Categoria Longa-Metragem Nacional
Melhor Filme
Tatuagem
Melhor Diretor
Andradina Azevedo e Dida Andrade, por A Bruta Flor do Querer
Melhor Ator
Irandhir Santos, por Tatuagem
Melhor Atriz
Leandra Leal, por Éden
Melhor Roteiro
Domingos Oliveira, por Primeiro Dia de Um Ano Qualquer
Melhor Fotografia
Gallo Rivas, por A Bruta Flor do Querer
Melhor Montagem
Karen Harley, por Os Amigos
Melhor Trilha Musical
DJ Dolores, por Tatuagem
Melhor Direção de Arte
Eloar Guazelli e Pilar Prado, Até Que A Sbórnia Nos Separe
Melhor Desenho de Som
Edson Secco, por Éden
Melhor Ator Coadjuvante
Walmor Chagas, por A Coleção Invisível
Melhor Atriz Coadjuvante
Clarisse Abujamra, por A Coleção Invisível
Prêmio Especial do Júri
Revelando Sebastião Salgado
Nenhum comentário:
Postar um comentário