Hélder Silva
nasceu em 1991. Cursa Engenharia Civil, mas não abre mão do prazer da escrita e
tem um blog onde deixa o que pensa desde os 15 anos. Admira a arte por ligar as
pessoas e pelo poder de legado, por isso mesmo é aspirante de várias formas
dela. Interessado em bom conteúdo, referências espertas e desenvolvimento
humano. Confira, abaixo, a crônica “Dança da solidão”:
DANÇA DA SOLIDÃO
Não dançamos no mesmo ritmo.
Hoje, se eu ouço rock, você ouve samba. Você pode até escutar rock, mas nunca
como eu, pelo menos hoje. Quando você escutar rock, quase tão entusiasmadamente
quanto eu, será no dia em que estarei escutando jazz. E, se você me mostrar o
rock, ainda estarei no jazz. Somos desencontros. Somos completamente
desajeitados.
Não conseguimos expor o que sentimos com precisão.
Quando compartilhamos algo, são raras, talvez inexistentes, as chances de
alguém compreender (ou se dispor a compreender) e daí sentir, mesmo um pouco, o
que sentimos. Não sabemos como o outro nos interpreta. Ele julga, a partir de
si, o que eu ou você não conseguimos expor integralmente.
Você, ao ler isso, pode estar negando. Eu também
neguei. Nós queremos acreditar que não estamos sozinhos. Sabemos de nossa
incapacidade individual, apesar de ostentarmos autonomia. Toda autonomia é
ilusória. E estamos sós. Somos um viajante no mais remoto do Alasca, prisioneiros em fissuras no Canyon,
Ilhas. Use a sua metáfora favorita.
Uma vez cientes de que estamos sós, podemos pensar
com clareza. Não, o outro não chegará próximo de me entender e não chegarei
próximo de entender o outro com apenas 140 caracteres, com um dia, com uma
atitude, com um "santo" que deixou de bater. Sendo humanos cientes de
sua solidão, mas que não conseguem ser sós, começamos a contestar essa falta de
lógica com inteligência.
Fazemos arte. Artistas são grandes insatisfeitos
com a solidão que transformam distâncias quilométricas, voltas ao mundo, em
poucos centímetros de proximidade. Reconhecer-se em uma música, texto,
fotografia, filme, quadro, escultura de areia ou o que quer que seja, faz com
que você se sinta alcançado. A arte é um ônibus que nos deixa um ponto antes da
casa do outro.
Não só os artistas são heróis. Heróis são todos os
que lapidam sua expressividade e compreensão. Eles travam longas conversas,
discutem amenidades (que não são amenidades), se esforçam para ouvir e
interpretar como aprendizes de um idioma novo, se deixam conduzir ou conduzem a
dança, passam horas em frente a um borrão de tinta para tentar captar a
essência do artista, se gastam pelo outro, apoiam o outro.
Ilhas, unano-mos! Se não podemos ser Pangéia,
sejamos arquipélago.
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