sábado, 10 de agosto de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: LUCIMAR SIMON


Lucimar Simon nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são diversas perpassando por autores de Clássicos da Literatura Brasileira e Estrangeira. Busca ler e acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os ditos “poetas marginais”. Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a fatos cotidianos, memórias, experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem ser conferidos em Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens Escritores em: “Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro de Ouro do Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº54”, todos publicados em 2009.  Lucimar Simon é Graduado em História pela UFES. Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES. Confira, abaixo, o conto “O grilo”:

O GRILO

Quem não daria tudo por uma boa noite de sono depois de um longo dia de trabalho. Roberto trabalhava na prefeitura, no departamento de cultura penso eu, um homem idoso próximo aos 60 anos, porém com muita animação e paciência para tudo e todos principalmente em seu trabalho. Vivia sozinho em uma casa grande construída ainda com seus pais em vida e que ele herdara por ser o caçula da família e isso pesava sobre seus olhos e pensamento, pois quase todos seus irmãos já haviam falecidos, e os parentes moravam em outras cidades e dificilmente o visitavam, talvez por morar só e não ter muito a oferecer em termos gerais.

Como nem tudo é para sempre, os humanos também tem suas limitações. Roberto ficou muito doente, escrevera uma carta a sua irmã e não tardara aparecera em sua casa uma de suas sobrinhas, que viera saber das condições do tio. Moça jovem, aproximadamente 28 anos, cabelos loiros, olhos grandes, belo rosto, sorriso majestoso, seria perfeita se não fosse tão desprezível com a situação de Roberto, e se não ali estivesse com outros interesses, pois quando viera sua intenção não era ficar, e sim só ver a situação real do tio. Porém, observara que o velho tinha mais que uma casa e pequenos valores pessoais, logo essa seria a sua chance de fazer um “pé de meia”,  já que o velho não tinha herdeiros e não fizera testamento, poderia ela se beneficiar dessa situação, ficando após os dias de cuidados com os pertences e bens do velho tio que murmurava quase dia e noite da dor que a enfermidade o causara.

Uma noite acometido pela dor Roberto ouvia um barulho perturbador do lado de fora da casa, foi até a janela observar e ouviu um cri-cri, outro cri-cri, mais um cri-cri, mas nada vira que pudesse identificar com os olhos, mas saberá o que causara este barulho de certa forma irritante aos seus ouvidos. Durante varias noites aquilo persistia e Roberto sempre ia a janela tentar ver o acontecia e se enxergava o malfeitor deste som irritante.

Depois de uma semana numa noite de lua clara e de volta o cri-cri, Roberto vai a janela e observa o Grilo em cima do caixote de lixo, remexia, remexia e fazia cri-cri. Remexia, remexia e fazia cri-cri, aquela cena e aquele barulho não agradavam seus olhos e ouvidos, sentiu um aperto em seu coração, e então resolveu agir contra aquela situação.

A doença se agravara e as complicações fizeram que Roberto sentisse que sua hora era próxima, e novamente indo a janela naquela noite vira ali o Grilo na mesma posição, sentiu que ele teria que dar uma solução para aquilo, depois de tantos anos de vida não podia permitir em seus últimos instante essa situação, queria descansar em paz e este era o momento de agir em prol de sua alma que ainda na dúvida do seu caminho o colocara nesta difícil condição de enfermo terminal. Realmente aquilo era uma mensagem para ele e teria que agir, foi ao escritório e la ficou por mais de duas horas. Saindo encontrou sua sobrinha na porta, que teria ido ao quarto e não o encontrado, tudo bem? Interrogou ela ao tio, o mesmo respondeu agora sim, e retornou ao quarto.

A sobrinha tinha certeza que naquele momento ele tratara do testamento, fora ao escritório procurar vestígios, mas nada encontrou de concreto, a não ser uma folha amassada no lixo e uma caneta em cima da mesa. A folha do cesto de lixo não deu importância até ter certeza que não achara nada do testamento, desistiu e recolheu-se ao seu quarto, mas não restava dúvidas ele fizera o testamento, e seu nome estava escrito nele sem dúvidas, restava saber em qual proporção era citado seu belo nome. Bianca, Bianca é seu nome.
A noite estava fria, sentia-se ao longe o soprar do vento cortando as avenidas subindo montanhas e trazendo dores nas juntas do velho homem a qual estava debaixo dos cobertores coberto agora por uma satisfação sem igual. Varias noites seguiram no mesmo ritmo, e em uma delas Roberto não resistiu, não resistiu o frio daquela noite debaixo do calor de seu cobertor, não resistiu ao longo de seus 60 anos as ultimas semanas de dor, não resistiu, não resistiu.

Amigos estiveram no velório, colegas de trabalho apareceram. A sobrinha os recebia com um tímido sentir de um choro. Alguns familiares fizeram questão de não comparecer entre os poucos que vieram, passaram por lá também alguns vereadores, secretários e outros funcionários públicos de outras divisões da prefeitura. O velho e bom Roberto como já foi citado era de muitos amigos quando ainda exercia a função pública, e estes compareceram ao funeral e seguiram em seu enterro.

Resolvidos os papéis fúnebres assim que foi dado o último adeus. No dia seguinte Bianca recebe a visita de um oficial de justiça do cartório local. Foi informada que o tio Roberto teria deixado um testamento, e que o faria ser conhecido em leitura pública aos presentes no cartório no dia seguinte as 12:00 e que teria que está presente alguém da família ou possíveis herdeiros.

E assim o oficial seguiu com a leitura; Eu Roberto de Almeida Silva, deixo meus bens, casas, terrenos, carros e outros aqui não citados para que sejam vendido e utilizados na formação de uma Instituição com o propósito de resguardar e amparar todas as crianças e menores abandonados dessa cidade, e nomeio minha sobrinha Bianca de Almeida Prado para dirigir e controlar esta Instituição. A mesma se beneficiara de duas contas bancarias que segue em nome dela própria. Que seja feita a vontade deste que aqui os escreve humildemente nesta noite de frio e pensar em um passado não muito distante.

Meses depois a diretora da Instituição Roberto de Almeida Silva, estava ao pátio aplicando uma lição e um sermão em três garotos internos que faziam uma travessura, os mandou para dentro acompanhado de um instrutor, porém reteve o último que tinha 09 anos e que a mesma tinha para com ele uma atenção maior devido algumas limitações, e direcionando o olhar a ele perguntou: Grilo, você entendeu tudo que eu disse?
E então, qual é seu Grilo?



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