Lucimar Simon nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são
diversas perpassando por autores de Clássicos da Literatura Brasileira e
Estrangeira. Busca ler e acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os
ditos “poetas marginais”. Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a
fatos cotidianos, memórias, experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem
ser conferidos em Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens
Escritores em: “Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro
de Ouro do Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros
Contemporâneos Nº54” ,
todos publicados em 2009. Lucimar Simon é Graduado em História pela UFES.
Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES. Confira,
abaixo, o conto “O grilo”:
O GRILO
Quem não daria tudo por uma boa noite de sono
depois de um longo dia de trabalho. Roberto trabalhava na prefeitura, no
departamento de cultura penso eu, um homem idoso próximo aos 60 anos, porém com
muita animação e paciência para tudo e todos principalmente em seu trabalho.
Vivia sozinho em uma casa grande construída ainda com seus pais em vida e que
ele herdara por ser o caçula da família e isso pesava sobre seus olhos e
pensamento, pois quase todos seus irmãos já haviam falecidos, e os parentes moravam
em outras cidades e dificilmente o visitavam, talvez por morar só e não ter
muito a oferecer em termos gerais.
Como nem tudo é para sempre, os humanos também
tem suas limitações. Roberto ficou muito doente, escrevera uma carta a sua irmã
e não tardara aparecera em sua casa uma de suas sobrinhas, que viera saber das
condições do tio. Moça jovem, aproximadamente 28 anos, cabelos loiros, olhos
grandes, belo rosto, sorriso majestoso, seria perfeita se não fosse tão
desprezível com a situação de Roberto, e se não ali estivesse com outros
interesses, pois quando viera sua intenção não era ficar, e sim só ver a
situação real do tio. Porém, observara que o velho tinha mais que uma casa e
pequenos valores pessoais, logo essa seria a sua chance de fazer um “pé de
meia”, já que o velho não tinha
herdeiros e não fizera testamento, poderia ela se beneficiar dessa situação,
ficando após os dias de cuidados com os pertences e bens do velho tio que
murmurava quase dia e noite da dor que a enfermidade o causara.
Uma noite acometido pela dor Roberto ouvia um
barulho perturbador do lado de fora da casa, foi até a janela observar e ouviu
um cri-cri, outro cri-cri, mais um cri-cri, mas nada vira que pudesse
identificar com os olhos, mas saberá o que causara este barulho de certa forma
irritante aos seus ouvidos. Durante varias noites aquilo persistia e Roberto
sempre ia a janela tentar ver o acontecia e se enxergava o malfeitor deste som
irritante.
Depois de uma semana numa noite de lua clara e
de volta o cri-cri, Roberto vai a janela e observa o Grilo em cima do caixote
de lixo, remexia, remexia e fazia cri-cri. Remexia, remexia e fazia cri-cri,
aquela cena e aquele barulho não agradavam seus olhos e ouvidos, sentiu um
aperto em seu coração, e então resolveu agir contra aquela situação.
A doença se agravara e as complicações fizeram
que Roberto sentisse que sua hora era próxima, e novamente indo a janela
naquela noite vira ali o Grilo na mesma posição, sentiu que ele teria que dar
uma solução para aquilo, depois de tantos anos de vida não podia permitir em
seus últimos instante essa situação, queria descansar em paz e este era o
momento de agir em prol de sua alma que ainda na dúvida do seu caminho o
colocara nesta difícil condição de enfermo terminal. Realmente aquilo era uma
mensagem para ele e teria que agir, foi ao escritório e la ficou por mais de
duas horas. Saindo encontrou sua sobrinha na porta, que teria ido ao quarto e
não o encontrado, tudo bem? Interrogou ela ao tio, o mesmo respondeu agora sim,
e retornou ao quarto.
A sobrinha tinha certeza que naquele momento ele
tratara do testamento, fora ao escritório procurar vestígios, mas nada
encontrou de concreto, a não ser uma folha amassada no lixo e uma caneta em
cima da mesa. A folha do cesto de lixo não deu importância até ter certeza que
não achara nada do testamento, desistiu e recolheu-se ao seu quarto, mas não
restava dúvidas ele fizera o testamento, e seu nome estava escrito nele sem
dúvidas, restava saber em qual proporção era citado seu belo nome. Bianca,
Bianca é seu nome.
A noite estava fria, sentia-se ao longe o soprar
do vento cortando as avenidas subindo montanhas e trazendo dores nas juntas do
velho homem a qual estava debaixo dos cobertores coberto agora por uma
satisfação sem igual. Varias noites seguiram no mesmo ritmo, e em uma delas
Roberto não resistiu, não resistiu o frio daquela noite debaixo do calor de seu
cobertor, não resistiu ao longo de seus 60 anos as ultimas semanas de dor, não
resistiu, não resistiu.
Amigos estiveram no velório, colegas de trabalho
apareceram. A sobrinha os recebia com um tímido sentir de um choro. Alguns
familiares fizeram questão de não comparecer entre os poucos que vieram,
passaram por lá também alguns vereadores, secretários e outros funcionários
públicos de outras divisões da prefeitura. O velho e bom Roberto como já foi
citado era de muitos amigos quando ainda exercia a função pública, e estes
compareceram ao funeral e seguiram em seu enterro.
Resolvidos os papéis fúnebres assim que foi dado
o último adeus. No dia seguinte Bianca recebe a visita de um oficial de justiça
do cartório local. Foi informada que o tio Roberto teria deixado um testamento,
e que o faria ser conhecido em leitura pública aos presentes no cartório no dia
seguinte as 12:00 e que teria que está presente alguém da família ou possíveis
herdeiros.
E assim o oficial seguiu com a leitura; Eu
Roberto de Almeida Silva, deixo meus bens, casas, terrenos, carros e outros
aqui não citados para que sejam vendido e utilizados na formação de uma
Instituição com o propósito de resguardar e amparar todas as crianças e menores
abandonados dessa cidade, e nomeio minha sobrinha Bianca de Almeida Prado para
dirigir e controlar esta Instituição. A mesma se beneficiara de duas contas
bancarias que segue em nome dela própria. Que seja feita a vontade deste que
aqui os escreve humildemente nesta noite de frio e pensar em um passado não
muito distante.
Meses depois a diretora da Instituição Roberto
de Almeida Silva, estava ao pátio aplicando uma lição e um sermão em três
garotos internos que faziam uma travessura, os mandou para dentro acompanhado
de um instrutor, porém reteve o último que tinha 09 anos e que a mesma tinha
para com ele uma atenção maior devido algumas limitações, e direcionando o
olhar a ele perguntou: Grilo, você entendeu tudo que eu disse?
E então, qual é seu Grilo?
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