Carlos
Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de
idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008,
lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que
aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como
o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser
encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no
Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com).
Confira, abaixo, a crônica
“Descamisado”:
DESCAMISADO
Desde criança
dedicou a sua vida à escrita. Queria ser autor. Sua família, como manda o
figurino, falava “filho largue estas folhas, isso não dá camisa”. Ele,
confiando na sua propriedade linguística, abdica da vida mundana como um monge
beneditino (mas daqueles que às vezes fogem da regra religiosa e dão uma
“fugidinha” com alguma “irmã”), se retrai em seu mundo particular para
escrever.
Como dizem que
praga de família pega e vira sarna, ele vira um escritor descamisado. Alguns
falam que isso é falta do que fazer, mas ele acredita na sua arte. É adulto,
vende a casa que os pais tinham deixado como herança, aliás, o único bem que
possuía. E com muito esforço publica o primeiro livro, quatrocentas cópias de
papel amarelado e capa encerada. Seu primeiro fracasso como um autor, que
poderíamos dizer, literário (afinal, literário é aquilo que não vende e que só
as traças gostam de deglutir). Ao fim, vende apenas dez exemplares.
Começa a viver
na casa de amigos, de favor, é claro. Como mandava a regra dos jovens
escritores, se entrega a uma vida devoluta impregnada de lascívia. Contrai
indeterminadas doenças, as mulheres de seus amigos, por sua vez, solicitam que
o mandem embora. Como um nômade ele passa de casa em casa até parar na rua
vendendo latinhas para sobreviver e escrevendo seus textos nos versos de papéis
usados (tanto chamex, quanto higiênico, acabando, portanto, na merda
literalmente).
Fica
tuberculoso, morrendo aos vinte e quatro anos. Dois anos após a sua morte,
acaba sendo resgatado pela comunidade acadêmica, virando um gênio da escrita.
Seus livros vendem milhões, apesar de ter sido enterrado como indigente sem
direito a caixão. Vinte anos após, é o escritor do século, o melhor, já que
morrera de fome.
Se ele soubesse
que um fim dramático resultaria no êxito editorial, o próprio caminharia até o
chafariz da praça, cortaria os pulsos com cacos de garrafa e morreria
calmamente observando a lua cheia (deve ser nessas características devido ao
padrão estético). Ao seu lado se encontrariam seu último romance e uma
autobiografia, já anexado o seu fim dramático, deixando a lição: Se queres ser
lido, corte os pulsos.
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