Em 2011, a L&PM Editores
lançou o polêmico livro O papa é culpado?, do jornalista britânico
Geoffrey Robertson. Agora, com a renúncia do Papa Bento XVI, a obra de
Robertson voltou à mídia e todos querem saber sua opinião sobre o caso. Veja
abaixo uma matéria publicada no Portal Terra a partir de um artigo publicado escrito por ele no jornal britânico The Independent:
Especialista:
Bento XVI pode responder na Justiça por crimes da Igreja
Autor do livro O Papa é o Culpado? (L&PM – 2011),
que discute supostos crimes cometidos pelo Vaticano, o jornalista
britânico Geoffrey Robertson, especialista em temas relacionados ao
catolicismo, acredita que, ao renunciar ao pontificado, Joseph Ratzinger
poderá responder na Justiça por abusos que a Igreja Católica teria cometido
durante sua gestão.
“Como um chefe
de Estado – o que, na prática, é o Vaticano – o papa Bento XVI tem
imunidade. Mas isso mudará após sua renúncia. Muitas vítimas molestadas por
padres protegidos pelo Cardeal Ratzinger gostariam de processá-lo pelos
estragos de sua negligência. Ao sair do Vaticano, um tribunal cuidará desses
casos”, escreveu Robertson em artigo publicado no jornal The Independent.
O texto,
entitulado “O Papa pode renunciar, mas não apagará sua cumplicidade com os
crimes da Igreja”, aponta que Ratzinger teria responsabilidade em
“crimes contra a humanidade” desde 1981, quando passou a comandar a Congregação
para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano que fiscaliza a conduta dos
padres. De acordo com o jornalista, embora os arquivos daquele tempo sejam
sigilosos, cartas do alemão surgiram em vários processos judiciais nos Estados
Unidos, sempre defendendo padres pedófilos e estupradores.
“Não há como
negar o fato de que o sistema mundial de encobrir casos de crimes sexuais
cometidos por clérigos foi arquitetado pela CDF sob Cardeal Ratzinger”, disse o
teólogo suíço Hans Kung, em carta aberta divulgada em 2010, mencionada no
artigo de Robertson.
O texto
denuncia como pior caso o do padre americano Maciel, descrito como bígamo,
pedófilo e viciado em drogas, que teria tido seus crimes encobertos por se
tornar um amigo próximo do então papa João Paulo II. Ratzinger teria em suas
mãos provas contundentes na época, mas as omitiu. Quando se tornou Papa, ele
teria toda a autoridade para puni-lo, mas preferiu sugerir apenas que Maciel se
aposentasse.
Entre outros
ataques, o jornalista britânico classifica o papa Bento XVI como “inimigo dos
direitos humanos” por “trinta anos de ‘vistas grossas’ a violações contra
milhares de crianças”. Para ele, a renúncia apenas seria positiva se assumida
como uma compensação por seus crimes.
Na Páscoa de
2010, Geoffrey Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily
Beast, no momento que era esperado que o papa Bento
XVI comentasse (embora não o tenha feito) a crise em sua Igreja causada
pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais cometidos por padres.
Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra
crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes
contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus
membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional.
Explicou também que a tese de inimputabilidade do papa por ser um chefe de
Estado – da Santa Sé, no caso (uma ideia usada recentemente em sua defesa pelo
governo Bush em tribunais dos Estados Unidos) – estava aberta a sérios
questionamentos, uma vez que tem como base o parco acordo feito com Mussolini
em 1929, o que não se compara à soberania das nações independentes.
Antes da
publicação do artigo, o próprio Robertson acreditava que suas palavras
passariam despercebidas e que logo cairiam no esquecimento. Mas um ousado
subeditor decidiu publicar seu texto com a manchete “Colocando o papa na mira“. Foi uma ideia corajosa que
transformou imediatamente o artigo em notícia internacional. E de notícia
internacional, ele virou livro. The
case of the pope é o título original de O papa é culpado?, o polêmico, revelador e
perturbador livro de Geoffrey Robertson.
Robertson não é
o único que, através de seu trabalho, luta a favor dos direitos humanos e tenta
mostrar que o Vaticano tem sua parcela de culpa. Em 1933, Diego Rivera retratou
o papa pró-fascista Pio XI abençoando Mussolini, enquanto seu esquadrão da
morte assassina o parlamentar democrata Matteotti.
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