segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

OS 40 ANOS DE MARLY

Um dos maiores sucessos do cartunista Milson Henriques, a encalhada Marly completa hoje 40 anos. Um dos personagens mais conhecidos dos capixabas, a solteirona já foi peça de teatro, livro e atualmente é presença certa nos quadrinhos da Gazeta. Veja mais sobre a quarentona mais querida do estado lendo a matéria abaixo.

Marly, personagem criada por Milson Henriques, completa 40 anos


Criada por Milson Henriques, Marly completa 40 anos

Feia, encalhada, mas muito amada, a personagem das tirinhas continua inspirando seu criador

Feia, encalhada e carente, a divertida Marly nasceu de um desafio proposto por Marien Calixte a Milson Henriques em 1973, quando ambos trabalhavam em A Gazeta. A ideia era criar um personagem capixaba, e o artista deu vida a Edil Berto, um papagaio vereador. Mexer com política, no entanto, era um risco, pois Milson era alvo constante dos militares e já havia sido preso algumas vezes. Marien, então, sugeriu algo alienado politicamente.

Assim que, há exatos 40 anos, em 18 de fevereiro de 1973, Marly ganhou espaço na seção “Variedades” do jornal – somente em 31 de agosto de 1975 o Caderno 2 seria criado. Atendendo a Marien, o cartunista abandonou o viés político e concebeu uma solteirona virgem e frustrada, fofocando sem parar ao telefone com a amiga Creuzodete.


O embrião da personagem foi outra cria de Milson, Ugly (feia, em inglês, foto abaixo), que ele bolou para o número zero da revista “Espírito Santo Agora”, em 1972. Era uma sátira às intelectuais dos anos 60 e às feministas que queimaram seus sutiãs em 1968 – razão pela qual tem os peitos caídos. Baseado nela, o cartunista fez a segunda, que se chamaria Vitorina, até Marien sugerir nome menos óbvio: Marly.


Milson Henriques

Sucesso

Além da longevidade da personagem, suficiente para medir seu sucesso, vale lembrar que as tirinhas foram publicadas em jornais e revistas de diversos Estados brasileiros, e Marly virou estampa de camisa, ganhou livro e peça teatral, foi garota propaganda, inspirou festas temáticas e concursos de dança, fora aquilo que já se perdeu na memória de seu criador.

“Quando lancei Marly, ela tinha 46 anos. Na época, uma mulher dessa idade que não havia se casado era chamada de solteirona e alvo de deboche. Era comum a mulher se casar cedo e depender do marido. O mundo mudou. Mulheres com mais de 40 anos são solteiras ou divorciadas, bem-sucedidas e muito admiradas, como Xuxa e Luiza Brunet, que estão na casa dos 50 anos. Marly hoje não revela a idade, mas para fazer sentido, ela teria que ter bem mais de 50”, diz Milson.

Apesar de as tirinhas nunca terem deixado de circular pelo país, o cartunista chegou a um período de exaustão, em 1984. Estava com 46 anos e envolvido em inúmeros projetos. Precisava deixar algo de lado: “Eu me dei conta de que fazer Marly já estava se tornando um fardo, deixou de ser prazer. Eu terminava e me sentia aliviado. Decidi então parar”. E assim foi pelos oito anos seguintes, até a solteirona ganhar vida nos palcos de teatro.

Peça
Ao dar uma limpeza em sua estante, Milson deparou-se com pilhas de papéis, com os originais da tirinha. A princípio, aquilo iria para o lixo. O cartunista, porém, começou a reler o material e decidiu fazer uma peça de teatro: “Hello Creuzodete”. O papel acabou indo para o ator José Luiz Gobbi. “Nenhuma atriz iria querer interpretar uma mulher feia, encalhada, que ninguém quer. Então fiz a proposta para o Gobbi.”

Milson Henriques

O ator relutou, mas aceitou a empreitada, movido pelo desafio de viver uma mulher no palco – sobretudo uma como Marly. Ele recebeu de Milson a pilha de papel com as tirinhas, para estudar os movimentos da personagem. Gobbi lia os quadrinhos e, diante do espelho, imitava poses e trejeitos. “Ainda assim, fiz um trabalho de dois meses com uma fisiatra para compor o gestual, fazer algo mais feminino. Se parecesse gay ou travesti, fugiria da ideia original. E impus a Milson a condição de que, se ficasse ridículo, abandonaríamos o projeto”, conta Gobbi.


Fábio Vicentini/A Gazeta
Milson Henriques revela que continuar com a personagem é um exercício mental
Antes de o espetáculo estrear, em 1992, Milson voltou a publicar novas tirinhas em A Gazeta, a fim de divulgar a peça. “Hello Creuzodete” foi sucesso absoluto, com 133 apresentações ininterruptas ao longo de um ano e meio. “Foi a única peça do Estado que pode se dar ao luxo de sofrer uma tentativa de assalto na bilheteria, pois sempre lotávamos o teatro”, diverte-se o ator, ao lembrar de algumas das inúmeras situações cômicas. Outros três espetáculos foram criados, o último deles apresentado em 2007. 


Para Milson, continuar com a personagem é hoje exercício mental. Enquanto toma o café da manhã, já começa a elaborar algumas ideias, para depois ir à prancheta. “Todo cronista, como Rubem Braga e Luis Fernando Verissimo, já escreveram uma crônica sobre a falta de assunto. Para Marly, nunca vai faltar assunto, ela sempre verá um garotão bonito para inspirá-la.”

Fonte: A Gazeta
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