Seu nome era Cláudio, mas acostumamos a chamá-lo de Chabrol por causa de
sua rala e presunçosa "erudição" de cinéfilo
Encontrei Chabrol na fila do supermercado.
Na fila do supermercado? Que surpresa!
Se fosse na fila do cinema, vá lá.
– E aí, Chabrol? Como vai?
– Ô, rapaz, quanto tempo!
Na fila do supermercado? Que surpresa!
Se fosse na fila do cinema, vá lá.
– E aí, Chabrol? Como vai?
– Ô, rapaz, quanto tempo!
Conhecia-o desde os tempos da faculdade. Seu nome era Cláudio, mas acostumamos
a chamá-lo de Chabrol por causa de sua rala e presunçosa “erudição” de
cinéfilo. Leitor tanto assíduo quanto raso de “Cahiers du Cinéma”, que ele lia
na versão traduzida (seu francês era sofrível), ele destacava os trechos que
julgava mais interessantes para, à noite, no encontro com os amigos no bar,
arrotar toda a sua “bagagem” cinematográfica.
– E aí? Tem ido ao cinema?
– E aí? Tem ido ao cinema?
Essa pergunta podia tardar, mas não falhava. Era
o gatilho para Chabrol disparar suas teses suspeitas
e opiniões formadas sobre a sétima arte.
– Cara, vi um filme fabuloso, o novo do Tarantino.
– “Django Livre”?
– Isso. Um primor, rapaz, um primor! Viu?
– Só o trailer, mas é como se já tivesse visto, pois cada amigo que encontro me conta um pedaço do filme.
– Pois vá ver, é uma obra-prima!
– É?
– Sabe, eu achava aquela estética do Tarantino pura violência gratuita...
– E não acha mais?
– Não. Achei que agora ele acertou no plástico, sabe?
– No plástico? Mas não é numas latas que o Django atira?
– Não, rapaz. Falo na plasticidade. A violência dele
é plástica.
– Ah!...
– Veja: Scorsese também é violento, mas nunca gostei de Scorsese.
– Nem de “Taxi Driver”?
– Ah, gosto porque é um clássico, mas... na verdade... não, não gosto.
– Humm! Acho que entendi.
– O genial é que é tudo paródico, sabe? Uma paródia
e ao mesmo tempo uma homenagem ao cinema, entende?
– Acho que sim.
o gatilho para Chabrol disparar suas teses suspeitas
e opiniões formadas sobre a sétima arte.
– Cara, vi um filme fabuloso, o novo do Tarantino.
– “Django Livre”?
– Isso. Um primor, rapaz, um primor! Viu?
– Só o trailer, mas é como se já tivesse visto, pois cada amigo que encontro me conta um pedaço do filme.
– Pois vá ver, é uma obra-prima!
– É?
– Sabe, eu achava aquela estética do Tarantino pura violência gratuita...
– E não acha mais?
– Não. Achei que agora ele acertou no plástico, sabe?
– No plástico? Mas não é numas latas que o Django atira?
– Não, rapaz. Falo na plasticidade. A violência dele
é plástica.
– Ah!...
– Veja: Scorsese também é violento, mas nunca gostei de Scorsese.
– Nem de “Taxi Driver”?
– Ah, gosto porque é um clássico, mas... na verdade... não, não gosto.
– Humm! Acho que entendi.
– O genial é que é tudo paródico, sabe? Uma paródia
e ao mesmo tempo uma homenagem ao cinema, entende?
– Acho que sim.
Provoquei, para ver até onde iria sua cultura de caderno de cultura:
– Gostou da música do Mancini?
– Um primor, rapaz, um primor!
– Mas, espera... Acho que a música é do Morricone, não?
– Isso, isso mesmo – falou, meio sem jeito.
– Demais também a participação do Franco Dani,
o ator que fez o Django no original italiano, não?
– Pô, que sacada! Não falei? Gênio! Gênio!
– É, mas espera... Era Franco Nero o nome do ator. Franco Dani era ator de fotonovelas italianas, se não
me engano...
– Gostou da música do Mancini?
– Um primor, rapaz, um primor!
– Mas, espera... Acho que a música é do Morricone, não?
– Isso, isso mesmo – falou, meio sem jeito.
– Demais também a participação do Franco Dani,
o ator que fez o Django no original italiano, não?
– Pô, que sacada! Não falei? Gênio! Gênio!
– É, mas espera... Era Franco Nero o nome do ator. Franco Dani era ator de fotonovelas italianas, se não
me engano...
– Putz, é mesmo!... Hoje tô meio desligado, dormi pouco, sabe? – disse, quase
se desculpando por seus “deslizes”.
– Sei.
– Olha, tenho que ir. Foi um prazer te rever.
– Também. Prazer te ver e conversar sobre nosso assunto predileto. Até!
– Tchau!
Já recolhendo seu carrinho de compras quase cheio, do outro lado do caixa, Chabrol ainda gritou:
– Ei, como você sabe tudo isso do filme se ainda
nem viu?
– Ora, Chabrol... E precisa?
– Sei.
– Olha, tenho que ir. Foi um prazer te rever.
– Também. Prazer te ver e conversar sobre nosso assunto predileto. Até!
– Tchau!
Já recolhendo seu carrinho de compras quase cheio, do outro lado do caixa, Chabrol ainda gritou:
– Ei, como você sabe tudo isso do filme se ainda
nem viu?
– Ora, Chabrol... E precisa?
Fonte: IstoÉ
Zeca Baleiro é cantor e compositor
Oi,
ResponderExcluirMuito legal esse texto.
Encontrei enquanto procurava conteúdos do Zeca Baleiro.
Bom blog!
Abraço,
Zuza Zapata
www.zuzazapata.com.br