segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

27 ANOS SEM NELSON CAVAQUINHO

 
Há 27 anos, o Samba perdia um dos seus melhores representantes

Nelson Cavaquinho (1911-1986) foi um importante músico brasileiro. Sambista carioca, compositor e cavaquinista na juventude, na maturidade optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, utilizando apenas dois dedos da mão direita.
Cabelos prateados. Uma voz de aço, com rouquidão curtida em madrugadas boêmias pelo Rio de Janeiro. Temas surpreendentes, onde a Morte é personagem assídua. Nelson Cavaquinho foi um trovador moderno, espalhando sua música e poesia pela noite carioca. Suas músicas são de uma simplicidade impressionante, como somente os grandes gênios conseguem fazer. Não há um verso ou nota a mais que o necessário.
Nelson Cavaquinho é o protagonista de diversas estórias folclóricas, era também capaz de no final de uma madrugada distribuir todo dinheiro ganho em um show pelos mendigos e prostitutas. Ficando até mesmo sem ter como pagar a condução de volta para casa. Vendia músicas e parcerias para sobreviver nos momentos mais difíceis. Inclusive esta é a razão de serem tão raras suas parcerias com o também mangueirense Cartola, que não gostou quando Nelson vendeu uma música que fizeram juntos.
Seu mais constante parceiro, com quem compôs diversos clássicos da música brasileira, foi Guilherme de Brito, uma pessoa com um estilo de vida completamente oposto ao boêmio Nelson. Outro que não pode ser enquadrado entre seus "parceiros de ocasião" é Alcides Caminha, mais conhecido como escritor de populares histórias em quadrinhos eróticas, nas quais assinava como Carlos Zéfiro.

Degraus da vida do poeta

Nem chapliniano, nem felliniano. A genialidade de Nelson Antônio da Silva era ser Nelson Cavaquinho. Certa madrugada no Leblon, voltando para casa com Paulinho da Viola, passávamos ao largo de uma feira que estava sendo armada, quando a bonita figura de despenteados cabelos brancos, abraçada ao violão, prendeu nossa atenção. Cumprindo sua sina, Nelson Cavaquinho cantava na noite, para quem quisesse ouvi-lo, e os feirantes queriam.
A voz rascante, lixada pelo líquido de um milhão de botequins, fluía acompanhada pelo som beliscado das cordas feridas por dois dedos - técnica e estilo reconhecíveis a quilômetros. "Sei que estou / nos últimos degraus da vida / meu amor..." cantava o profeta dos desenganos, o arauto das desilusões, o menestrel da angústia. O eterno pavor da morte refletindo-se nas letras doloridas de seus sambas, nos dramas de seus personagens, nas inquietudes de suas musas. Rei dos botequins do Rio de Janeiro, tinha seu quartel-general nos balcões molhados da praça Tiradentes. Nesses cenários encontrava seus iguais, suas inspirações, sua forma de viver e ser feliz a sua maneira. A Nelson não interessavam fama e fortuna.
Violão, samba, mulheres, botequins, a soma e a essência da felicidade, a forma e a maneira encontradas de ser feliz cantando a infelicidade e de ser alegre exaltando a tristeza. Carioca de São Cristóvão, o imperial bairro de rica musicalidade, berço de - por exemplo - Sílvio Caldas, Nelson nasceu em 28 de outubro de 1910 e viveu intensamente. Começou tocando cavaquinho (daí o apelido) na adolescência e, como o pai era contramestre da banda da Polícia Militar, acabou por se tornar soldado em 1930. Casou, descasou, trocou de mulher e de instrumento, passando para o violão e criando sua maneira personalíssima de tocar. Já boêmio da mais fina extração, freqüentava os redutos de samba, principalmente na Mangueira, onde se fez amigo de Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda e outros compositores, iniciando-se na arte de criar sambas.

Abaixo, confira, na íntegra, o programa "Ensaio" (TV Cultura) gravado em 1973:


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