terça-feira, 29 de janeiro de 2013

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRA DA SILVA ROCHA


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Ultimate”:


Quem hoje em dia pode ganhar o seu dinheiro honestamente? É... a vida anda muito difícil... Pra nós então nem se fala. Malandro tá ferrado quando acha que vai se dar bem. Sempre se encontra doidão querendo dar uma de Minotauro. Porra! Assim só nos fode. Nessa profissão de bandido, que já não tem direito a seguro trabalhista nenhum, ainda temos que enfrentar Jack Chan? Pô, meu, o bagulho é doido!
Ontem mesmo fui surrado por um frangote de quinze anos. De quinze anos... Nessa idade tem que estar brincando de carrinho, de bolinha de gude, empinando papagaio, mas não surrando os outros. Cadê o respeito aos mais velhos? Meu filho, vá brincar de bafo, trocar figurinha...
Sou trabalhador, tenho filhos e mulheres pra sustentar... Tava atrás do prejuízo! Sou ladrão, um pai de família e, por isso, mereço respeito.
Nessa mania doida de UFC, você vai tentar ganhar um e os maluco doido vem com mata leão, muay thay e o caralho a quatro, a cinco... eu gostava da parada quando todo mundo era manso, homens-cordeiro, na mansitude dos trejeitos. Era só enfiar a mão debaixo da camisa que passava tudo, celular, dinheiro, o redondo...
Agora tu chega e se lasca, leva porrada. Te ganham no grito, te amarram com faixa de Jiu jitsu amarela. Porra, ainda dei sorte, imagina se o moleque fosse faixa preta, estaria fodido.
É bom quando se vê o lado bom das coisas. Fica manso e feliz. Estou preso, mas logo sairei, esse é o lado bom, graças a Deus Pai que retira toda injustiça e liberta de todas as algemas da opressão e da injustiça. Nossa, acho que vou abrir uma igreja, é a minha verdadeira vocação!
Minha cara tá inchada, a roxidão por todo corpo. Surrado, lábio pocado de porrada. A vida... Será que é bonita?  Será feia como meus lábios feridos, estropiados, feia como minha cara batida, surrada, destruída? Da vida eu não sei, mas de uma coisa eu tenho certeza: as crianças não são como as de antigamente.   

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