segunda-feira, 23 de junho de 2014

CRÍTICA DO PROGRAMA 'SUPERSTAR'

Daqui a duas semanas o programa 'Superstar' da TV Globo chegará a seu fim. Investimento da mais poderosa emissora do país para alavancar a audiência dos domingos a noite, o programa não emplacou no Ibope. Mas será que, fora isso, a atração teve alguma valia para a música brasileira? Confira nossas opiniões lendo a matéria completa.

Por Sandro Bahiense


O mais completo programa de novos talentos
'Superstar' julga voz, instrumento e composição numa tacada só

O hábito quase contumaz de quem crítica alguma atração da "Vênus Platinada" é falar mal dela, quase como se fosse proibido tecer um elogio à TV Globo. Porém vou me permitir remar contra a maré. 'Superstar' é um bom programa, aliás, digo mais, é um ótimo programa!

Alguém poderá me questionar do porquê da crítica somente agora e não no período de estréia do programa. Bom, o Outros 300 não é um blog de critica televisiva e sim de critica artística. Logo, o objetivo aqui é analisar a atração pelo viés de que teremos de seu legado e prática e não de seu conteúdo.

Porque é bom?

Por que 'Superstar' é o primeiro programa em anos que realmente analisa uma banda como ela deve ser. Para ser aprovado no show é necessário que o grupo toque bem, que seu vocalista seja afinado e que suas composições sejam boas. Ou seja, praticamente um pacote completo.

Quando iniciado, a atração pouco empolgou, pois a escolha das bandas foi falha. Gente com qualidade duvidosa foi apresentada ao público que, sem paciência, debandou para programas concorrentes e não voltou mais, mesmo com o afunilamento da atração e a consequente melhora de qualidade dos grupos.

Com o afunilamento da atração, ficaram as melhores bandas como o 'Move Over', por exemplo

Muita gente, claro, reclamou da "pasteurização global" a qual as bandas e seu processo de julgamento passam/passaram, afirmando que outros métodos de descobrimento de novos talentos seria mais eficaz. Concordo. Mas temos de admitir que a Globo não pode se arriscar a fazer algo muito conceitual, uma vez que tem muito a perder. Logo, ser pop - e popular - é obrigação. Dentro desta pasteurização até que temos um produto bem palpável e agradável.

Falhas

Mas nem tudo são flores. O ponto mais falho do programa são seus jurados. É claro que julgadores técnicos seria o mais adequado, mas não seria legal para uma atração de TV. Portanto deveria-se escolher três nomes famosos e é aí que a coisa não fluiu.

O talento de Fábio Jr. Ivete Sangalo e Dinho Ouro Preto é inquestionável, mas como julgadores são péssimos! Nenhum dos três julga profundamente nenhuma atração. Ivete aperta "sim" para todo mundo desde a terceira semana em diante. Fábio Jr. se mostra muito estudioso, conhece as músicas e músicos, mas julgar, dar conselhos relevantes que é bom, nada. Dinho se mostra mais rigoroso, mas quando não gosta de alguma atração não consegue ser claro do por quê.

'Jamz' empolgou Dinho na parte instrumental 

Sangalo até aponta uma ou outra falha vocal, Dinho se incomoda ou entusiasma na parte instrumental, e Fábio Jr... Bem, o Fábio Jr. é o Fábio Jr. Mas essas dicas são bem esporádicas, pois na maioria do tempo os três se mostram empolgados demais, quase como se estivessem na platéia, ou pior, na torcida de cada banda.

Bandas

Como dito antes, o início foi sofrível. O afunilamento realmente trouxe as melhores atrações. Para fazer uma média, a Globo abriu espaço para todos os ritmos musicais nas primeiras semanas (apenas o axé e o sertanejo não tiveram espaço, em grande parte porque, ao contrário do original Rising Star, não se permitiu apresentações solo ou em dupla para não "misturar" em característica ao The Voice Brasil).  Porém apenas o rock e o forró resistiram às semanas de julgamento.

Seis bandas disputam quatro vagas e parece que o processo de escolha será relativamente fácil, pois elas se dividem de forma muito evidente. Por exemplo, as bandas de forró "Bicho de Pé" e "Luan e o Forró Estilizado". Enquanto a primeira esbanja talento em seu vocal, instrumental e, principalmente em suas composições, o segundo se vale de covers de forrozeiros famosos e do uso de sintetizadores nas músicas agindo como se isso fosse a invenção da roda. 

Luan, o rei dos covers. Somente isso.

"Bicho de Pé", aliás, se mostra como a banda mais estruturada da atração. O grupo tem mostrado ser capaz de compor para um ritmo dançante sem ter que apelar para onomatopeias, temáticas sexuais, ou letras pobres e chulas. "Luan...", por sua vez, na única oportunidade em que trouxe algo autoral, apresentou uma música cujo refrão era "fez besteira em me deixar solteiro na sexta-feira". Qualquer semelhança com os arrochas que inundam as rádios populares do país não é mera coincidência. 

Aliás, ter música autoral, ou não, divide as outras quatro bandas. Não se julga a qualidade vocal da "Move Over" e instrumental da "Jamz", mas elas se saem melhor como covers. Nas poucas vezes em que apresentaram trabalhos autorais as duas não empolgaram e bateram na trave de serem eliminadas.

Dentro dessa perspectiva, "Suricato" e "Malta" levam vantagem, pois sempre trazem músicas próprias. "Suricato", aliás, é a banda que contem as melhores composições ("Talvez" é ótima!) e a "Malta", por sua vez, sempre vem com letras sensíveis e inteligentes ("Diz pra mim" e "Lendas" são excelentes!). 

'Bicho de Pé' é a banda mais estruturada da atração

Inclusive o mérito da "Malta" é mostrar que é possível falar de amor sem ser brega ou piegas. Isso, aliado à voz potente de Bruno Boncini, dá a banda a pecha de favorito o que, por fim, não vale muita coisa. Porém se o programa terminar em suas mãos será justo, apesar de, mais uma vez, eu achar a "Bicho de Pé" mais merecedora. 

Legado

Sim, haverá um legado do programa! Ou alguém duvida que "Malta" e "Suricato" conquistarão seu espaço no cenário do rock nacional? "Luan..." e "Bicho de Pé" já fazem um caminhão de shows por mês e as covers "Move Over" e "Jamz" vão animar muitas formaturas por aí.

Qualquer programa que traga novas vozes, bandas ou artistas é válido. Que existam mil The voices, Superstars, Raul Gils e afins. O Brasil é muito grande, talentoso e com vaga pra todo mundo. Viva o novo. Viva a música brasileira!

 
'Malta' é a favorita. Qualidade de composição e voz é o diferencial da banda

Atualizando em 07/07

Na grande final não tivemos grande surpresa. 'Luan' caprichou no cover de Luis Gonzaga, mas, como azarão que era, teve de se conformar com o terceiro lugar. A decepção ficou por conta do 'Suricato' que deixou suas composições de lado e se lançou numa fraca adaptação de 'Born to be Wild'. Como "punição" pela covardia perdeu a esperada vaga na final.

Com isso, a 'Jamz' aproveitou a chance. Tocando "Wake Me Up", de Avicii a banda do filho do Roupa Nova Paulinho chegou a 61% indo à final. Já 'Malta', por sua vez, veio com a autoral 'Entre nós Dois' e apesar de não empolgar tanto também chegou a finalíssima com 70%.

As torcidas pré estabelecidas das bandas atrapalharam na reta final do programa. Antes mesmo das músicas começarem, as bandas já tinham 10/15% de votos, ou seja, pouco importava a apresentação do dia o que não é interessante em um game avaliativo.

Apesar disso a grande final fez jus ao programa. Os dois finalistas arrebentaram. Em todos os quesitos! A composição da música 'Completa' da 'Jamz' foi a melhor da banda no programa inteiro, mas os fãs, acostumados aos contumazes covers, pareceram se abater. Com os 47% da concorrente, a 'Malta' só iria subir ao palco para "cumprir tabela".

Cumprir tabela? Que nada! 'Supernova' entrou para o rol de super músicas da 'Malta'. Rock pesado, de conteúdo e um vocal explosivo e inquestionável. A banda atropelou a 'Jamz' e chegou aos 74% sem esforço. Merecido por fim. No mais, a grande vitória foi da música brasileira e, principalmente do rock nacional. Salve 'Malta'! Campeã com todo merecimento!

2 comentários:

  1. Suricato decepcionou no final, mais o talento dos caras é incomparável com as demais bandas, porem a banda malta tem ótimas composições e um som muito mais pop, além de um vocalista com pacto com o demônio para cantar daquele jeito, então foi merecida e prevista essa vitória. Agora uma banda que merecia ter ido mais longe era Fuscas, que veio com autoral, só não passou por que esses jurados não serviram pra nada.

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  2. Infelizmente a escolha dos jurados foi uma bola fora!!!! Ivetchenhaaaaaa queria aparecer mais que os julgados. A Banda Malta faz músicas de ótima qualidade e com a fórmula chiclete que estávamos necessitando no mundo da música tão empobrecida ultimamente... Melodias trabalhadas, letras inteligentes e um vocal sem explicação. Agora as letras da Suricato, aaaaaa me levam à um tempo que não volta mais. Pecaram apenas na escolha da música para a final. Que venham muitos programas como este já que não podemos mais voltar aos Festivais de Música.

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