Por
se focar nos arranjos, Herbert tira licença poética para interpretar as canções
de outra maneira, muitas vezes alterando melodias e climas das canções
Logo de cara, na canção que abre o quarto disco
solo de Herbert Vianna, Victoria, o ouvinte é convidado a entrar (e a
permanecer) na atmosfera intimista que envolveu a feitura do álbum. Durante um
ano, sempre que a agenda permitia, o cantor e o produtor Chico Neves se
encontravam no Estúdio 304, no Rio de Janeiro, para trabalhar as vinte
composições escolhidas, todas de autoria de Herbert, duas delas em parceria com
Paulo Sérgio Valle, duas com Paula Toller e uma com Leoni. Apenas uma canção
inédita: Penso em você, primeira música composta por ele, antes mesmo de
fundar os Paralamas do Sucesso.
O
álbum traz 20 músicas compostas por Herbert e que foram gravadas por outros
artistas. Todo o disco foi gravado pela dupla com Herbert Vianna na voz,
violão, guitarra e percussão e Chico Neves no minimoog, baixo, violão,
teclados, xilofone, sitar e efeitos. A capa é do artista plástico Barrão.
O cuidado, a liberdade para experimentar, a
cumplicidade entre cantor e produtor são percebidas em cada uma das faixas. A
sensação ao ouvir as famosas canções não é apenas a de reconhecê-las, mas a de
redescobri-las. As discretas surpresas dos arranjos deixam claro que o
“espírito de não repetição, de não cair no mesmismo”, mencionado por Herbert,
foi realizado com requinte e sutileza pela dupla.
Avesso
à exposição de sua figura, Herbert Vianna nunca fez muita questão de promover
seus álbuns solo (tanto que Victoria foi lançado pelo desconhecido selo “Oi
Música” e sequer possui um single). Seus agora quatro álbuns sempre chamaram a
atenção por apresentar uma sonoridade bastante distinta dos Paralamas, mais
acústica. Muitos experimentos serviram de base para canções mais tarde regravadas
pelos Paralamas com arranjos distintos (caso de “O Rio Severino”, canção
acústica que veio aos Paralamas como um poderoso rock). Também há o caminho
contrário, como “Dos Margaritas” e seu arranjo acústico blues totalmente
distinta da versão de “Severino” (1994).
Quase todas as canções de Victoria foram
gravadas por outros intérpretes, grande parte delas por cantoras: Daniela
Mercury (Só pra Te Mostrar), Ana Carolina (Pra Terminar), Maria
Bethânia (Quando você não está aqui), Zizi Possi (Só Sei Amar Assim),
Paula Toller (Derretendo Satélites), Ivete Sangalo (Se Eu Não Te
Amasse Tanto Assim e A Lua Que Eu Te Dei), entre outras. Fato que Herbert
reconhece como “reflexivo de algum grau de sintonia com referências da
sensibilidade feminina”.
A aura íntima e delicada do trabalho está na capa
assinada pelo artista plástico carioca Barrão e, principalmente, pela escolha
do título: Victoria é o primeiro nome da mulher de Herbert, a inglesa Lucy
Needham Vianna, falecida em 2001.
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