domingo, 13 de janeiro de 2013

GRUPOS NO TEATRO: UM OLHAR SOBRE A CIA. FOLGAZÕES DE ARTES CÊNICAS




Procurar parâmetros que possam definir um grupo de teatro não é tarefa das mais fáceis. O próprio termo esconde uma redundância visto que a arte teatral, por essência, é uma atividade exercida em grupo e sempre haverá momentos inevitáveis de coletividade, seja na relação com a equipe ou no encontro com o publico. Além disso, são tantos e tão diferentes os coletivos artísticos que, mundo afora, reconhecem-se a partir de tal conceito que qualquer proposta de generalização possui o risco de tornar-se reducionista.



Assim, no desejo de contribuir para uma reflexão sobre os grupos teatrais do Espírito Santo e, da mesma forma, fugir das armadilhas das generalizações, optei por demonstrar, a partir de uma visão pessoal, porque a Cia Folgazões de Artes Cênicas, coletivo do qual faço parte, pode ser entendida enquanto grupo. Decidi não entrar no mérito da discussão sobre grupo de teatro x teatro de grupo, adotando, para isso, um terceiro conceito: grupo no teatro.



Não quero, dessa maneira, diminuir o caráter teatral da Folgazões. É ainda esse o elemento central e aglutinador dos nossos anseios artísticos. Mas a utilização do termo serve para demonstrar que antes de sermos teatro somos grupo. Sociologicamente falando, grupo pode ser entendido como uma coletividade identificável, estruturada, contínua, de pessoas sociais que desempenham papéis recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e valores sociais, para a realização de objetivos comuns. Sintetizando tal definição, a Folgazões é um grupo por possuir: 1- uma identidade; 2- uma estrutura composta por funções recíprocas e com perspectivas de continuidade e 3- objetivos comuns.



Na Cia. Folgazões viemos construindo uma identidade artística baseada na linguagem da comicidade; na encenação em espaços abertos (apesar de, eventualmente, utilizarmos o palco italiano); no diálogo com outros campos artísticos e nas tradições culturais do Brasil, de forma geral, e do Espírito Santo, de maneira particular. Todas as nossas ações estão estruturadas em torno de quatro eixos básicos, não hierarquizados, coordenados por cada um dos membros. São eles: a) artístico (ensaios, pesquisa, treinamento, manutenção de cenários e figurinos); b) administrativo (controle financeiro, organização do espaço físico e documental); c) produção (venda de espetáculos e oficinais) e d) comunicação (manutenção do site e relação com a imprensa). Três dos atuais quatro membros vêm trabalhando juntos desde 2007 e, em setembro desse ano, completaremos cinco anos de atividades contínuas desenvolvidas em nossa sede no Centro de Vitória.



Somos guiados por objetivos comuns que podem ser reunidos em três pontos principais: I) a profissionalização teatral, com o grupo tornando-se autossuficiente; II) a consolidação de um espaço cultural, que sirva não só como lugar de formação, mas também para o intercambio de ideias entre grupos artísticos e entre esses e a comunidade e  III) a valorização do teatro e da cultura local, para que haja o reconhecimento, a nível nacional, da tradição cênica capixaba.



Com relação a este último objetivo, em particular, fica aqui o convite para que os demais grupos, companhias, agremiações, tribos e outros coletivos que compõe o nosso cenário teatral possam falar sobre as suas realidades no intuito de, a partir daí, aprofundarmos o conhecimento sobre os grupos de teatro, teatros de grupo, grupos no teatro – e demais conceitos possíveis - do Espírito Santo.



(Texto de Duílio Kuster publicado originalmente no Caderno D, Revista de Cultura do Diário Oficial do Estado do Espírito Santo, ano II, n. 9, abril de 2012)






Duílio Kuster (1981), natural de Vitória, é professor, historiador, ator e produtor cultural, graduado em História pela UFES e mestrando em História Social das Relações Políticas pela mesma instituição, onde desenvolve uma pesquisa sobre as políticas para o teatro no Espírito Santo. Foi cofundador do Grupo Vira-Lata de Teatro (2003) e, desde 2007, faz parte da Folgazões Artes Cênicas, onde trabalha nos campos de criação artística, produção e gestão.

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