Procurar
parâmetros que possam definir um grupo de
teatro não é tarefa das mais fáceis. O próprio termo esconde uma
redundância visto que a arte teatral, por essência, é uma atividade exercida em
grupo e sempre haverá momentos inevitáveis de coletividade, seja na relação com
a equipe ou no encontro com o publico. Além disso, são tantos e tão diferentes os
coletivos artísticos que, mundo afora, reconhecem-se a partir de tal conceito que qualquer proposta de generalização possui
o risco de tornar-se reducionista.
Assim,
no desejo de contribuir para uma reflexão sobre os grupos teatrais do Espírito
Santo e, da mesma forma, fugir das armadilhas das generalizações, optei por
demonstrar, a partir de uma visão pessoal, porque a Cia Folgazões de Artes Cênicas, coletivo do qual faço parte, pode
ser entendida enquanto grupo. Decidi não
entrar no mérito da discussão sobre grupo
de teatro x teatro de grupo, adotando,
para isso, um terceiro conceito: grupo no
teatro.
Não
quero, dessa maneira, diminuir o caráter teatral da Folgazões. É ainda esse o elemento central e aglutinador dos nossos
anseios artísticos. Mas a utilização do termo serve para demonstrar que antes
de sermos teatro somos grupo. Sociologicamente
falando, grupo pode ser entendido como
uma coletividade identificável, estruturada, contínua, de pessoas sociais que
desempenham papéis recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e
valores sociais, para a realização de objetivos comuns. Sintetizando tal definição,
a Folgazões é um grupo por possuir: 1- uma identidade; 2- uma estrutura composta por
funções recíprocas e com perspectivas de continuidade e 3- objetivos comuns.
Na Cia. Folgazões
viemos construindo uma identidade
artística baseada na linguagem da comicidade; na encenação em espaços abertos
(apesar de, eventualmente, utilizarmos o palco italiano); no diálogo com outros
campos artísticos e nas tradições culturais do Brasil, de forma geral, e do
Espírito Santo, de maneira particular. Todas as nossas ações estão estruturadas em torno de quatro eixos
básicos, não hierarquizados, coordenados por cada um dos membros. São eles: a)
artístico (ensaios, pesquisa, treinamento, manutenção de cenários e figurinos);
b) administrativo (controle financeiro, organização do espaço físico e
documental); c) produção (venda de espetáculos e oficinais) e d) comunicação (manutenção
do site e relação com a imprensa). Três dos atuais
quatro membros vêm trabalhando juntos desde 2007 e, em setembro desse ano,
completaremos cinco anos de atividades contínuas
desenvolvidas em nossa sede no Centro de Vitória.
Somos guiados por objetivos comuns que podem ser reunidos em três pontos principais:
I) a profissionalização teatral, com o grupo tornando-se autossuficiente; II) a
consolidação de um espaço cultural, que sirva não só como lugar de formação,
mas também para o intercambio de ideias entre grupos artísticos e entre esses e
a comunidade e III) a valorização do
teatro e da cultura local, para que haja o reconhecimento, a nível nacional, da
tradição cênica capixaba.
Com
relação a este último objetivo, em particular, fica aqui o convite para que os demais
grupos, companhias, agremiações, tribos e outros coletivos que compõe o nosso cenário
teatral possam falar sobre as suas realidades no intuito de, a partir daí, aprofundarmos
o conhecimento sobre os grupos de teatro,
teatros de grupo, grupos no teatro – e demais conceitos possíveis - do
Espírito Santo.
(Texto de Duílio Kuster publicado
originalmente no Caderno D, Revista de Cultura do Diário Oficial do Estado do
Espírito Santo, ano II, n. 9, abril de 2012)
Duílio Kuster (1981), natural de Vitória, é professor,
historiador, ator e produtor cultural, graduado em História pela UFES e
mestrando em História Social das Relações Políticas pela mesma instituição,
onde desenvolve uma pesquisa sobre as políticas para o teatro no Espírito
Santo. Foi cofundador do Grupo Vira-Lata
de Teatro (2003) e, desde 2007, faz parte da Folgazões Artes Cênicas, onde trabalha nos campos de criação
artística, produção e gestão.
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