CRÍTICA DO FILME 'O VOO'

'O Voo' última empreitada do talentoso ator Denzel Washington chegou aos cinemas do estado no fim de semana de Carnaval e promete ficar mais alguns dias em cartaz. Confira a crítica do Outros 300 sobre o filme lendo a matéria completa.

Título do filme "engana" os espectadores

Filme relata os problemas pessoais do piloto do avião e não o voo em si

Se se chamasse "o piloto" e não 'O Voo' o filme do diretor Roberto Zemeckis teria sido muito mais fiel a história e não "enganaria" seus espectadores que, como eu, acreditaram ir ao cinema para assistir um filme sobre um desastre aeronáutico e não uma simples e batida história de alcoolismo. 

Ao se decepcionarem, acredito, muitos espectadores acabaram não se atinando com a devida atenção necessária a uma boa trama, bem contada, e interpretada. Ou seja, a turma da Paramount perdia grande parte de seu público, a toa, logo no inicio do filme.

Cena do "desastre" dura uns 2 ou 3 minutos

Isso porque a cena do desastre (nem tão desastre assim, pois poucas pessoas morrem), acontece logo nas primeiras partes do filme. Whip Whitacker (Denzel Washington), o piloto, leva uma vida desregrada com direito a muito consumo de álcool e drogas, estando, inclusive, sobre o efeito de ambos entorpecentes na hora do fatídico voo.

Todo desenrolar até a cena que o público entendia ser o ápice do filme dura uns 5 minutos, talvez 10. Logo Whip já está na cabine e enfrentando uma forte turbulência, seguida pela queda do avião.

A cena da queda é frustante em todos os sentidos: Não é impactante, não causa emoção (e nem comoção) no público e dura poucos minutos. A partir daí (uns 20 minutos de filme, no máximo) o foco passa tão somente a ser a luta de Whip contra o seu vício de beber, uma vez que passa a ser investigado pelo governo por causa da queda.

Misturebas não ajudam a esquentar o filme

Percebendo que teria de "enrolar" por mais uma hora, no mínimo, Zemeckis faz uma grande mistureba na trama. Com isso o problemático Whip se envolve com a também bêbada e drogada Nicole (Kelly Reilly). Eles se conhecem na escadaria do hospital (?) em companhia de um paciente de câncer chamado Gaunt (James Badge Daile) que faz um discurso sem pé nem cabeça numa das cenas mais desnecessárias da história do cinema.

Para aumentar o samba do crioulo doido, o diretor inclui um traficante pra lá de louco (John Goodman) para, por incrível que pareça, tentar levar um humor a coisa. Quando um traficante é usado para melhorar um filme é porque a vaca está quase indo para o brejo. 

Denzel Washington impecável

E só não foi para o brejo porque tinha um, só para variar, impecável Denzel Washington como protagonista. Não a toa que o ator chegue a mais um Oscar com uma indicação de melhor ator. Parece-nos ser muito "fácil" interpretar loucos, bandidos, caolhos, mancos, ou deficientes, mas interpretar "gente normal" com capacidade de nos convencer que não é o mesmo de outros filmes é algo que ultimamente só Denzel tem feito em Hollywood.

Partiu do ator os melhores momentos do filme, principalmente porque contracenava com gente infinitamente pior do que ele. No mais o Whip Whitacker de Washington era gago nos momentos de tensão, arregalava os olhos na hora em que via Nicole, e tinha um tique de engolir seco nas horas de fissura pelo não consumo de álcool que, de tão discretos e naturais, soavam quase que imperceptíveis. Méritos de um dos melhores atores de nossa geração.

Basicamente se você quiser assistir 'O Voo' o faça pelo Denzel Washington, porque o filme é bem fraquinho, apesar de valer pela diversão.